Superação: Ele venceu as crises pessoais e reconquistou o sucesso

Por - 11/08/12 às 10:06

Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias

Felipe Camargo teve a chance de reinventar a própria história e reconquistar a visibilidade após um período dramático que marcou sua carreira e vida pessoal. Aos 52 anos, ele – que atualmente está no ar como o médico Gabriel em Amor Eterno Amor, da Globo – não teme falar do passado. Afinal, sua história renderia um bom livro marcado por batalha e superação.

Em 1986, com apenas 26 anos, Felipe fez sua estreia em tevê como o mocinho da minissérie Anos Dourados. De carona no êxito da produção, no mesmo ano, ele conquistou papel de destaque em Roda de Fogo, que o consagrou como um dos galãs da nova geração, rendendo o convite para protagoniza Mandala, ao lado da musa Vera Fischer. "Foram três trabalhos importantes e de grande repercussão. Mas foi em 'Mandala' que comecei a perder o foco da minha carreira", relembra.

Drogas, brigas e má fama 

Elogiado pelos grandes diretores da emissora carioca, o ator prometia viver o melhor momento da carreira. Porém, nos bastidores das gravações da novela de Dias Gomes e Marcílio Moraes, ele se apaixonou pela estrela Vera Fischer, com quem viveu conturbados oito anos de relação. Entre escândalos que estamparam capas de jornais e revistas, nasceu seu filho mais velho, Rafael.

Regado a droga e muitas brigas, o casamento dos atores chegou ao fim em 1994, junto com o afastamento de ambos do elenco de Pátria Minha. "Foi um momento bem complicado. Onde as crises pessoais acabaram abalando o processo de trabalho", analisa o ator carioca.

Não bastasse ver sua vida exposta na vida, Felipe conquistou fama de indisciplinado. Os grandes papeis sumiram e ele emendou trabalhos pequenos durante longos 15 anos. Até que, em 2009, recebeu um telefonema do diretor Fernando Meirelles que o escalou para protagonizar a minissérie Som & Fúria. Uma grande oportunidade que Felipe Camargo agarrou com unhas e dentes. "Era a chance que eu precisava. Mas não criei expectativas. Fui vivendo e dando o melhor de mim em cada trabalho que surgiu depois", conta.

Para Felipe continuar no ar e sentir o respeito da classe artística o enche de orgulho. "Provei que além de desenvolver um papel, posso trabalhar em equipe. As pessoas entenderam isso e passaram a confiar em mim. Ao olhar para trás, vejo o quanto a maturidade me fez bem", pondera.

Confira a entrevista:

O Fuxico: Em 2006, depois de participar da novela "Paixões Proibidas", da Band, você ficou três anos distante da tevê. Até que retomou a carreira na minissérie "Som & Fúria". Esse trabalho fez você se reencontrar com a televisão?

Felipe Camargo: Com certeza. Foi uma grande oportunidade que eu tive e que reverbera até hoje na minha trajetória. Som & Fúria me abriu um leque enorme de possibilidades de trabalho e personagens de maior destaque nas tramas que vieram em seguida. Eu precisava desse estímulo. Trabalhar com aquela equipe e protagonizar um texto tão bacana me trouxeram a sensação de que eu estava inserido no mercado novamente.

OF: Você estreou na tevê como protagonista de "Anos Dourados", em 1986, mas durante os anos 90 e início dos anos 2000 enfileirou papéis secundários em novelas. Como você avalia as oscilações de sua trajetória na tevê?

FC: Minhas crises pessoais interferiram de forma intensa na minha vida profissional. Nos anos 90, me separei, algumas atitudes que não me orgulham foram parar nas capas de revistas e fiquei meio desacreditado como ator. E é claro que bons papéis começaram a minguar. Por isso, me afastei um pouco de televisão e investi no teatro e no cinema. Não aparecia nacionalmente, mas estava produzindo, trabalhando e querendo me reciclar artisticamente. Por conta disso, tive a oportunidade de levar para o teatro "Boca de Ouro", do Nelson Rodrigues, e fazer filmes como "Jogo Subterrâneo", do Roberto Gervitz. Foram trabalhos importantes para mostrar que eu ainda era capaz. Ao retornar ao posto de protagonista com "Som & Fúria", automaticamente fui redescoberto.

OF: "Amor Eterno Amor" é sua terceira novela depois dessa "retomada". É um sinal de que a tevê voltou a ser prioridade para você?

FC: É um sinal de que meu nome voltou a rondar a cabeça dos autores, diretores e produtores de elenco da Globo. Tive uma segunda oportunidade e me agarrei a isso. Fiquei muito tempo fazendo pequenas participações em novelas e agora tenho a chance de desenvolver personagens importantes para o andamento das tramas. O Gabriel é o melhor amigo do protagonista e representa o ceticismo em uma história carregada de espiritualidade. Ele é necessário para fazer o contraponto de "Amor Eterno Amor". É um personagem bem construído e com história própria, assim como foi o Portinho em "Tempos Modernos", ou o Petrus de "Cordel Encantado". Aliás, quando fiz o Petrus, percebi que alguns dos meus personagens brincam muito com minha trajetória pessoal.

OF: Como assim?

FC: O Petrus foi aprisionado na masmorra e usava uma máscara de ferro. Ao gravar como o personagem, percebi que eu também usei uma máscara de ferro durante um tempo. Fui privado de mostrar meu trabalho da maneira como gostaria. Essa jogada entre realidade e ficção também foi muito forte com o Dante de "Som & Fria", que era reconhecido como louco pelos amigos e colegas de trabalho. Assim como eu, que fiquei com fama de maluco durante um bom tempo (risos).

OF: Seu personagem em "Amor Eterno Amor" é totalmente cético. Essa característica foi importante na hora de aceitar o convite para a novela?

FC: Eu achei interessante. Ele é um médico, ateu, mas que a todo momento recebe sinais de que existe alguma coisa que a Ciência não consegue explicar. Seja com a história do Rodrigo (Gabriel Braga Nunes), seja com o dom que a filha dele, a Clara (Klara Castanho), carrega. Ela tem visões, conversa com espíritos, é uma criança extremamente sensitiva. Ele tenta dar um sentido lógico a esses fenômenos que o cercam. A novela é baseada no kardecismo. Não sou um cara religioso, mas é uma doutrina que desperta minha curiosidade e pela qual eu tenho bastante simpatia.

OF: Por quê?

FC: É uma religião que nunca se meteu em política. Não tem um foco exagerado no poder e nem tenta influenciar seus adeptos a se envolverem nas eleições. Eu nunca vi kardecistas pedindo votos (risos). Nas minhas pesquisas pessoais, o que me chamou muito a atenção também é o valor que a doutrina dá ao livre arbítrio. Tudo que acontece com a gente é responsabilidade nossa.

OF: Atuar em uma trama com tons espirituais o levou a mudar alguns conceitos pessoais ou profissionais?

FC: Na verdade, por estar mais próximo de certos assuntos, esse trabalho me fez questionar mais alguns pontos primordiais da vida, sobre a origem ou o fim dela. Será mesmo que ela acaba com a morte? A novela toca em assuntos que mesmo quem não acredita, no mínimo dá uma investigada. Sempre acreditei numa força maior que rege, ou dá ao mundo um certo equilíbrio, mesmo com as variações e temperamentos da humanidade. Acredito muito nesse equilíbrio, das coisas serem sazonais.

OF: Recentemente, o canal por assinatura Viva reprisou "Anos Dourados". Você chegou a acompanhar?

FC: Não. Eu odeio me assistir (risos).

OF: Isso vale apenas para os trabalhos antigos ou também para os mais recentes?

FC: Ambos os casos. Não é sofrimento ou vergonha da minha atuação, do meu desempenho. Acho que o grande prazer em atuar está na hora de fazer. Me sinto muito bem ao ensaiar a cena, bater o texto com o colega, me concentro dentro do estúdio. Mas depois que o diretor avisa que a cena ficou pronta. Para mim, já é passado. Guardo nas lembranças as boas e más impressões dos bastidores e não o resultado estético dos meus trabalhos.

OF: "Amor Eterno Amor" termina em setembro. Você já arquiteta algum trabalho para depois da novela?

FC: Estou estudando algumas possibilidades. Mas nada muito certo ainda. Eu adoraria emendar a novela com algum projeto no cinema. Depois de interpretar o Orlando Villas-Boas, em "Xingu", voltei a ter uma forte conexão e vontade de fazer filmes. O esquema de filmagem foi um dos mais intensos da minha vida. Foi pesado, mas transformador. Passei três meses na floresta trabalhando com a equipe.

OF: Este ano você completa 26 anos de televisão. Se arrepende de alguma escolha ou atitude ao longo de sua trajetória?

FC: Algumas (risos). Mas errar me fez o homem e o ator que sou hoje. É um eterno aprendizado. Estreei na tevê e logo fiz muito sucesso. Apesar de não ser um garoto, aos 26 anos eu era muito imaturo. Um certo deslumbramento, ligado a uma vida pessoal com alguns excessos e nenhuma base sobre como funcionava essa indústria, moldaram os primeiros anos da minha carreira. Mas tudo aconteceu da forma que deveria ter sido. Voltar para a Globo, fazer bons papéis e ter o respeito dos meus colegas de trabalho me faz crer que também acertei e soube aproveitar algumas oportunidades.

 
Xungu: Na tevê e no cinema

 O entusiasmo de Felipe Camargo com o filme Xingu é enorme. Filmado em 2010 e exibido em vários festivais ao longo de 2011, o longa chegou este ano aos cinemas brasileiros e conquistou pouco mais de 370 mil espectadores. Algo que ficou aquém das expectativas do ator, que no filme é o protagonista Orlando Villas-Boas.

"É um longa importante para os brasileiros conhecerem seus verdadeiros heróis. Os irmãos Villas-Boas foram superimportantes para a história ecológica do país e são quase desconhecidos", valoriza.

O filme é baseado na saga dos irmãos Orlando, Leonardo e Cláudio – vividos por Felipe, Caio Blat e João Miguel, respectivamente – pelas florestas da região Centro-Oeste do país e na luta do trio pela preservação da cultura indígena. Para a alegria de Felipe, um público bem maior terá acesso ao filme dirigido por Cao Hamburger, já que o longa será reeditado para o formato de microssérie de quatro episódios. Eles serão exibidos no início de 2013, na Globo.

"Até ser convidado para o filme, não sabia nada sobre a trajetória deles. Mas me encantei com o projeto de vida dessa família, que foi a criação do Parque Indígena do Xingu, onde não só as etnias indígenas são preservadas, mas também a fauna e flora brasileiras", entusiasma-se.

Tipos opostos

Com menor repercussão, Felipe Camargo já teve um personagem ligado à temática espírita. Em 2005, na novela Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco, ele deu vida ao misterioso Julian, um parapsicólogo que acreditava em reencarnação. Bem diferente do cético Doutor Gabriel de "Amor Eterno Amor", que não leva fé nos fenômenos que envolvem a história da novela das seis.

"É legal ter a chance de abordar um tema de formas tão divergentes. O Julian trabalhava com hipnotismo para entender as vidas passadas de seus pacientes. Era um cara à frente do seu tempo", relembra o ator, que assume as dificuldades para dar vida ao ceticismo de seu papel atual. "É complicado raciocinar de forma tão física e lógica", explica. 
      
Uma longa trajetória na TV

Anos Dourados (Globo, 1986) – Marcos.
Roda de Fogo (Globo, 1986) – Pedro Garcez.
Mandala (Globo, 1987) – Édipo Junqueira.
O Sexo dos Anjos (Globo, 1989) – Adriano.
Despedida de Solteiro (Globo, 1992) – João Marcos.
Pátria Minha (Globo, 1994) – Inácio Fonseca.
A Idade da Loba (Band, 1995) – Otávio.
Corpo Dourado (Globo, 1998) – Tadeu.
Andando Nas Nuvens (Globo, 1999) – Bob Lacerda.
Um Anjo Caiu do Céu (Globo, 2001) – Josué.
A Padroeira (Globo, 2001) – Frei Tomé.
Senhora do Destino (Globo, 2004) – Edmundo Cantareira.
Alma Gêmea (Globo, 2005) – Dr. Julian.
Filhos do Carnaval (HBO, 2006) – Anesinho.
Cobras & Lagartos (Globo, 2006) – Sidney.
Paixões Proibidas (Band, 2006) – Alberto de Miranda.
Som & Fria (Globo, 2009) – Dante.
Tempos Modernos (Globo, 2010) Portinho.
Cordel Encantado (Globo, 2011) – Petrus.
Amor Eterno Amor (Globo, 2012) – Gabriel.


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