Sylvia Bandeira:”Existe vida inteligente além da tela do plim-plim”

Por - 23/02/13 às 10:11

Jorge Rodrigues Jorge/ Carta Z Notícias

Segura e de bem com a vida, do alto de seus 63 anos, Sylvia Bandeira exibe suas rugas e marcas de expressão com orgulho.

"As modificações estéticas que tenho observado em atores e atrizes da minha geração me assustam. A juventude eterna não existe, o importante é envelhecer com dignidade e vitalidade", acredita a intérprete da alegre Abigail, de Balacobaco.

Grande parte da vitalidade de Sylvia, aliás, é usada nas cenas em que divide com os garotões da novela assinada por Gisele Joras, onde sua personagem é uma eterna adolescente e fã confessa de rapazes mais novos.

"Ela só quer ser feliz. Estou adorando essa porção desligada e alienada da Abigail. Ela é acima do tom, mas se parece com muitas pessoas que conheço", admite.

Na tevê desde o início dos anos 1980, Sylvia não esconde a satisfação de ser convidada para personagens instigantes e importantes dentro da trama. Depois de muitas novelas na Globo, onde protagonizou Um Sonho a Mais, de 1985, ela mostra-se contente com os tipos que têm interpretado na Record, onde está desde 2004, ano em que deu vida a Perpétua, do remake de Escrava Isaura.

"Interpretar a granfina rica é uma constante na minha carreira. Mas entre a comédia e o drama, pude experimentar mais na Record. Dessa nova safra de personagens, lembro com carinho da Marília de Amor e Intrigas (2006), valoriza.

O Fuxico: Assim como a Suzana de Vidas em Jogo, sua personagem em Balacobaco é bastante jovial e se interessa apenas por rapazes mais novos. A semelhança entre os papéis a deixou com algum receio de se repetir?

Sylvia Bandeira: Acho que esse encantamento por jovens é o único ponto em comum das personagens. Por isso, acredito que foi possível desenvolver composições com resultados bem diferentes para a Suzana e para a Abigail. Em Vidas em Jogo, a Suzana era meio solitária, mas tinha uma profissão, era segura de si e sabia muito bem o que queria para a vida dela. Ao contrário da Abigail, que não encara nada de frente e vive em completa negação.

OF: Como assim?

SB: Ela se predispõe a ver o mundo de forma fantasiosa, cor de rosa mesmo (risos). É uma negação de problemas. Falar apenas de coisas boas a deixa muito feliz, ao mesmo passo em que ela se torna alienada e infantil. Isso é a base do conflito dela com a família, pois Abigail acha que ainda é jovem. Ela trata as filhas e a neta como amigas e só quer saber de rapazes fortes e sarados.

OF: Aos 63 anos, como você avalia as cenas sensuais que protagoniza ao lado de atores como Rômulo Arantes Neto e Rômulo Estrela em seus últimos trabalhos na Record?

SB: Estou bem com o meu corpo e minha mente, então é superdivertido. Me sinto lisonjeada em ser escalada para interpretar mulheres que pegam "meninões". E acho que isso faz um contraponto a algo muito tradicional na televisão: homens velhos, barrigudos e carecas sempre ficam com as mocinhas da trama. Todo mundo sempre aceitou isso normalmente. O que eu gosto nesse envolvimento das minhas personagens com rapazes é que isso já é totalmente aceitável, não é mais motivo de chacota. É menos um tabu. Apesar de acreditar que, uma hora, a diferença de idade pesa. Tanto de forma sexual quanto intelectual.

OF: Depois de muitos anos na Globo, em 2013, você completa nove anos e sete novelas na Record. Qual o balanço desta trajetória na emissora?

SB: A Record me deu outras possibilidades e personagens instigantes. É muito bom estar contratada e ter seu nome lembrado pelo autores e diretores da casa frequentemente. Hoje, posso dizer que existe vida inteligente além da tela do plim-plim (risos). A Record mostra meu trabalho para uma nova geração. Isso fica claro nas ruas e no público que me prestigia no teatro. Outro dia, uma menina de 14 anos veio falar comigo ao final de uma peça para dizer que tornou-se minha fã por causa de Vidas Opostas. São momentos como esse que me fazem investir na tevê e me mostram o quanto minha trajetória na "nova" emissora é positiva.

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