Tarantino sobre Era Uma Vez em Hollywood: ‘Operático’

Por - 04/09/19 às 15:50

Divulgação
Era Uma Vez em Hollywood é Tarantino em sua forma mais pura. O nono filme do diretor é uma reverência, uma homenagem à Los Angeles, cidade que assistiu seus primeiros passos, tanto na vida, quanto na carreira, e também um recorte que mostra a perda da inocência que um dia pairava nos sonhos de todos que ali viviam.

Com requinte, sofisticação, humor e um toque de melancolia, Era Uma Vez retrata um momento de transição da indústria, onde os grandes astros da televisão, passaram a não se encaixar nos novos moldes do cinema e assistiam suas carreiras tomarem o rumo do esquecimento. Para contar essa história, Tarantino nos leva para a história de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt), um ator famoso por seriados na década de 60, e seu fiel amigo e dublê, respectivamente. Em uma química quase palpável entre DiCaprio e Pitt, a trama se estabelece sem pressa, mostrando os detalhes, a energia, o desespero, o fio de esperança e os últimos resquícios de uma Los Angeles que ficou para trás.
 
Em entrevista exclusiva, Tarantino contou o que o levou a escolher Brad e DiCaprio para estrelar essa trama.
 
"Eu já tinha trabalhado com os dois anteriormente, e eles são atores incríveis, o que é meio que um bônus (risos). Mas escolher dois dos maiores atores do século levanta essa questão, só que eu acho que foram eles que terminaram me escolhendo. E eu me sinto muito importante por eles terem me escolhido. Existe outro aspecto que é um dos dois ser um ator, e outro seu dublê, então eles tinham de combinar. Os atores tinham de funcionar como uma equipe, e a gente tinha de acreditar que, na frente das câmeras, um deles tinha de funcionar como dublê do outro. E eu acho que eles combinaram super bem! Sem falar que geralmente o dublê é um dez anos mais velhos que o ator com quem ele trabalha", disse.

Para endossar ainda mais o fim de uma era, vemos Sharon Tate, interpretada por Margot Robbie, personificando toda essa inocência, no misto de sua personalidade solar e seu fim trágico. Para Tarantino, a morte de Sharon, em 1969, marcou o final do que se conhecia como Hollywood e mostrou um lado mais cruel da realidade por trás da indústria.

Questionado sobre a importância de conhecer a história de Tate para ter uma experiência completa ao assistir seu filme, o diretor confessa que é importante, mas não fundamental.

 
"É uma ótima pergunta! Eu não acho que seja 100 por cento essencial, mas acho que se você tiver alguma noção de quem ela foi – não precisa ter visto seus filmes, se souber o que aconteceu com ela até sua morte trágica, ajuda a apreciar o filme. Talvez não conhecer sua história sirva até como bônus, fazendo com que muita gente busque saber de sua história depois de assistir a seu filme. Eu não tenho nenhum problema com as pessoas não saber quem foi Sharon Tate", disse. "A verdade é que, mesmo nos Estados Unidos, a maioria das pessoas só a enxergue como vítima de assassinato. Foi isso que a deixou famosa. Por isso que eu percebo que, fora dos Estados Unidos, se as pessoas não conhecem a história do crime, então não sabem mesmo quem ela foi! Talvez um aspecto tocante do filme seja contar quem foi Sharon Tate, lembrar que ela foi uma pessoa real, que ela teve uma vida. Então, ao filme do filme, ela não seja mais definida unicamente por seu fim trágico".

Com seu coração traduzido em um filme, o penúltimo filme de um dos diretores mais aclamados do cinema é um deleite para os olhos e para o coração dos apaixonados pela sétima arte. Com o olhar preciso na hora de comandar o set. Quentin contou um pouco dos bastidores e falou sobre a cena mais complicada de rodar.
 

"Para mim, as coisas mais complicadas são aquelas que tem potencial de ser as melhores do filme. É quando eu consigo capturar exatamente o que está no papel, quando os atores ficam mais empolgados porque sabem que pode ser uma grande cena. A pressão então é maior na hora de filmar aquela parte do roteiro, já que se ficar ruim a culpa é toda minha. Nesse filme, a sequencia que eu estava mais ansioso para filmar era no Rancho Spahn. Como não havia mais nada naquela locação tivemos de reconstruir absolutamente tudo à perfeição – e minha diretora de arte, Barbara Ling, acertou em cheio", afirmou. "E era uma cena tão importante que não quis pensar em como filmá-la até quando a gente já estava bem adiantado no cronograma. Eu não queria planejar nada: a gente foi para o Rancho Spahn e vamos criar a cena do começo ao fim. Os atores que faziam os seguidores de Charles Manson estavam sempre lá, prontos se eu fosse usá-los ou não. Então tudo foi questão de tirar Brad do carro em que ele chega lá e fazê-lo atravessar o rancho até a casa de George Spahn. Resolvemos as cenas na casa? Então vamos dar um jeito de ele voltar para seu carro. E a gente foi pensando a cada dia, passo a passo, com cada tomada informando a tomada seguinte. É um modo muito divertido e empolgante de fazer um filme, mas também é de deixar os nervos em frangalhos até o ponto que a câmera começou a rodar, porque não fizemos nosso dever de casa. Pode funcionar, e funcionou! Mas não significa que é menos complicado".

Por fim, Tarantino, ainda tentou resumir seu nono filme em uma única palavra.

"Eu acho que não sei como responder! Muito obrigado Vic por puxar meu tapete no final! (risos). Eu diria 'operático'!".

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