Tarcísio Meira escolhe suas melhores cenas em Saramandaia
Por Redação - 21/09/13 às 10:08
Os adjetivos e referências que acompanham a imagem e compõem o currículo de Tarcísio Meira são, no mínimo, intimidadores. Um dos maiores galãs da tevê e protagonista de tramas clássicas como Irmãos Coragem, Escalada e O Semideus, Tarcísio carrega no olhar, no discurso e nas atitudes a experiência de quem sabe que faz parte da história da teledramaturgia nacional. No entanto, aos 77 anos, chama a atenção a modéstia e o pragmatismo com que o ator enxerga sua trajetória e profissão.
"Eu fico muito feliz de ser chamado para coisas interessantes mesmo passando dos 70 anos. Tive a oportunidade de viver intensamente todas as fases da minha carreira. A que estou vivendo agora, inclusive, é excepcional", conta o intérprete do rabugento Tibério do remake de Saramandaia.
Na tevê desde o final dos anos 1950, quando participou do Grande Teatro Tupi, o ator paulistano se empolga ao falar do atual personagem. Na pele de Tibério, um homem que criou raízes na sala de sua própria casa, ele reclama, xinga e desdenha de sua família e inimigos, mas mantém intacto seu amor por Candinha, de Fernanda Montenegro.
"Gravo sempre sentado e preso às botas de Tibério. É uma experiência interessante, onde não posso utilizar tanto o corpo, mas sim as feições", detalha.
Próximo do final da trama, Tarcísio exalta o tom diferenciado do texto de Dias Gomes, agora adaptado por Ricardo Linhares. E se revela um entusiasta de uma suposta renovação dos folhetins.
"Estava tudo muito parado. A nova safra de autores, que trouxe gente como o João Emanuel Carneiro, e a aposta em tramas de linguagens diferentes, como Cheias de Charme e Saramandaia deram novo vigor à tevê. É bom ver esse movimento", analisa.
O Fuxico: Você participou da primeira versão de Saramandaia e protagonizou Araponga, ambas produções assinadas por Dias Gomes. Como foi voltar ao universo do autor, agora adaptado por Ricardo Linhares?
Tarcísio Meira: Foi divertido. Na primeira versão de Saramandaia, foi apenas uma participação especial, aparecia como Dom Pedro I e dava uma passadinha por Bole-Bole. Acho que o fato de revisitar a obra do Dias empolgou todo mundo que aceitou participar dessa nova adaptação. O Ricardo Linhares se apropriou da história com respeito, mas de olho na atualidade também. Inspirado pelo realismo fantástico do Dias, criou personagens tão geniais quanto os originais. O Tibério, por exemplo, não existia na versão original. Embora trabalhoso, foi um personagem muito gostoso de fazer.
OF: De tanto ficar sentado, o Tibério criou raízes em sua própria sala. O quão complexo foi passar boa parte da trama em uma poltrona?
TM: O corpo é parte importante da atuação. Eu só podia mexer o rosto e um pouco dos braços. Estava preso a uma bota. A parte cansativa era essa, tive de colocar para fora todo o lado ranzinza, odioso e sem muitos escrúpulos dele com algumas limitações de movimento. Mas é bacana quando o autor e o diretor colocam a gente, que já está na estrada há tanto tempo, para fazer coisas diferentes.
OF: Em Saramandaia, você atuou ao lado de uma nova geração de atores, como o Pedro Tergolina e a Laura Neiva. Como encara o contato com o elenco mais jovem?
TM: Já estive na posição deles e sei que é difícil. Tudo é muito novo. E contracenar com pessoas mais experientes é intimidador. Mas sou o primeiro a quebrar qualquer gelo. Engraçado, a maioria me vê na tevê desde que nasceu. Nesse caso, o ideal seria que eles já tivessem intimidade com a minha presença. Mas não, ficam todos me tratando como se eu fosse um "monstro sagrado" (risos). Isso é bobagem. Procuro me enturmar e tudo fica mais natural.
OF: Nos últimos anos, você tem se envolvido em projetos mais curtos, como a série Afinal, O Que Querem As Mulheres?, e participações especiais em novelas como Insensato Coração e Gabriela. É uma preferência sua não ter vínculos tão longos com a tevê?
TM: Não tenho mais a ansiedade de ir pautando meus projetos futuros. Vou sendo chamado. Se for atraente e eu puder fazer, as coisas acontecem. Esses últimos projetos foram baseados nas minhas relações afetivas com o Luiz Fernando Carvalho (diretor), o Gilberto (Braga, autor) ou com uma novela marcante como Gabriela. Continuo disposto e sem me ligar muito se a novela será mais curta como Saramandaia ou se a duração será mais tradicional, caso de A Favorita, o último folhetim que eu fiz inteiro.
OF: Próximo do fim de Saramandaia, você destacaria alguma cena especial de seu personagem?
TM: Tibério teve cenas bem curiosas. Nunca tinha contracenado com um tablet e foi engraçado fazer isso. Tive bons momentos com todo o meu núcleo, mas é impossível não destacar as cenas que fiz com a Fernanda (Montenegro). A gente se conhece há muito tempo e contracenou pouquíssimas vezes. Fazer par romântico com ela foi algo novo para mim e as cenas eram muito emocionais. Durante as gravações do reencontro dos dois, o estdio ficou cheio de gente assistindo e se emocionando junto conosco.
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