Thiago Fragoso: “Associam minha imagem com a do bom moço”
Por Redação - 25/02/13 às 12:03
Protagonizar Lado a Lado foi uma espécie de marco na vida de Thiago Fragoso. Quase um ano antes da estreia da novela, o intérprete do Edgar já havia recebido o convite de Dennis Carvalho para fazer parte do projeto. Alguns meses depois, no entanto, sofreu um grave acidente quando caiu de uma altura de, aproximadamente, cinco metros, durante a peça Xanadu. Mesmo assim, o ator – e também o diretor – continuou com a certeza de que integraria o elenco do folhetim de João Ximenes Braga e Claudia Lage.
"Em nenhum momento, o Dennis teve dvida de que eu faria a novela. E nem eu porque sou guerreiro e, quando boto um objetivo na minha cabeça, faço", conta.
Antes do início das gravações e já recuperado, Thiago pediu uns dias para viajar. Foi para Londres, na Inglaterra, onde, além de buscar elementos para a composição de seu personagem, pôde relaxar e começar uma nova fase.
"Pensei: 'Tirei um momento para mim e agora vou me dedicar totalmente à novela'", explica ele, que frequentou casas de chá inglesas para criar um papel que remetesse a um lord inglês.
"Foi meio por aí, de ir para o lugar, ver aquilo acontecendo…", ressalta.
Com mais de 20 trabalhos na tevê, Thiago ressalta alguns momentos de sua trajetória que o fizeram ter a certeza de que estava no caminho certo. Como quando começou a ganhar protagonistas no teatro.
"Principalmente, porque isso aconteceu antes da televisão. Não era porque eu tinha um rostinho bonito. Eu, adolescente com espinha, não era porque eu era gatinho", recorda, aos risos.
Além disso, toda vez que o ator passava em um teste, a mesma certeza vinha. Na televisão, muitos trabalhos foram importantes para Thiago. Entre eles, A Casa das Sete Mulheres, de 2003, O Profeta, de 2006, e O Astro, de 2011, entre outros. Aliás, o último folhetim ganhou o Emmy Internacional, na categoria Melhor Novela, e Thiago fez questão de ir a Nova Iorque.
"Tive aquela sensação de que faz sentido isso o que estou fazendo, tem alguém vendo. Foi muito bom, deu uma tranquilizada. Falei: 'Poxa, eu realmente estou na profissão certa'", valoriza.
Perfil:
OFuxico: Apesar da alta qualidade de Lado a Lado, seja na cenografia, nos figurinos, nas interpretações e na história, a audiência não decolou. Na reta final da trama, que avaliação faz desse trabalho?
Thiago Fragoso: Importante é a receptividade mesmo, o que a gente escuta. Acho que tem sido 100%. As pessoas que me abordam falam bem da novela toda, gostam muito de tudo e falam dessa coisa histórica. Principalmente o pessoal mais velho. A gente não está fazendo aula de história, mas tem os figurinos, o comportamento, o cenário. Buscamos fazer uma prosódia para aproximar da época, o que foi uma ideia muito boa por parte da direção, porque aproximou mesmo. A gente está vendo o resultado aí. Então, foi maravilhoso.
OF: Como é a abordagem do público?
TF: Ah, tem as Laureds (Fãs do casal Laura, interpretada por Marjorie Estiano, e Edgar, que criaram um termo a partir da abreviação dos nomes dos personagens), recebo vários e-mails delas. O Edgar é tão legal, que umas amigas da minha esposa falam para ela: "Olha só, quero casar com o Edgar. Não é com seu marido" (risos). As Laureds mandam e-mails curiosos para os autores, não entendem por que os dois não estão juntos. E, nas ruas, as pessoas me abordam e falam: "Mas por que eles não estão juntos? Isso é um absurdo, por que você não fica logo com a Laura?". É muito engraçado. Eu descobri que com a Marjorie é a mesma coisa, o pessoal cai em cima dela.
OF: Você já interpretou vários mocinhos, entre eles o Capitão Estevão de A Casa das Sete Mulheres e o Marcos de O Profeta. Na pele de mais um personagem do bem, o que mais surpreendeu você dessa vez?
TF: Acho que o Edgar veio em um momento importante da minha vida e foi um personagem delicioso de fazer. É um mocinho clássico, digamos assim. Fiz muito poucos personagens clássicos da dramaturgia. O Edgar é um mocinho que não é chato, que tem uma história muito forte, é um cara muito legal, por quem as pessoas realmente torcem. Para mim, foi incrível. Adoro fazer personagem de época, então, realmente, é uma novela que me deixa muito feliz.
OF: Por quê?
TF: Porque você fantasia, você pode fazer uma composição um pouquinho diferente. Não sei, não conheço um ator – pelo menos, eu nunca conversei com um – que não gostasse de fazer novela de época. A única coisa chata é que é muito figurino, a gente demora para trocar, demora para fazer tudo. Mas isso aí é uma outra observação. Se for pensar pelo personagem, pela atuação mesmo, é sempre muito gratificante.
OF: Para você, o que é mais difícil compor: um mocinho de época ou um contemporâneo?
TF: Talvez mocinho contemporâneo seja mais difícil que um de época justamente porque você acaba tendo menos liberdade para fazer. Acho que, quando o mocinho é contemporâneo, a não ser que seja uma Avenida Brasil da vida, você fica meio preso a um naturalismo. E conseguir deixar isso interessante é muito difícil. Acho um desafio maravilhoso, tanto que faço com todo prazer.
TF: Em algum momento, a possibilidade de ficar marcado por interpretar, na maioria dos trabalhos, mocinhos preocupou você?
OF: Nunca. Ao mesmo tempo, pelo meu rosto as pessoas falam: "Esse cara é legal, esse cara é bom", tem aquela coisa, tem o cachinho. Então, leva para esse lado. As pessoas associam a minha imagem com a do bom moço. Mas juro que isso não me incomoda. Acho isso legal porque gosto de passar essa imagem. E eu tenho tido sorte porque essa minha imagem não tem me impedido de fazer coisas diferentes. Então, na minha carreira, que, graças a Deus, sempre foi muito plural, por insistência minha, em teatro eu fiz de tudo. No cinema, estou há algum tempo sem filmar, mas fiz coisas bem diversificadas também. Batalho bastante para ter esse espaço. Na tevê, eu tenho tido a sorte de pegar mocinhos mais angustiados. Em O Astro, era um mocinho bipolar; em O Profeta, era um mocinho que via coisas e estava com o lado negro da força.
OF: Você começou no teatro ainda criança e, ao longo de sua trajetória, frequentou diversos cursos de formação. De que forma esse seu lado estudioso contribuiu para sua interpretação atualmente?
TF:Talvez, até por eu ter estudado várias coisas diferentes, ter participado de algumas companhias de teatro, feito 500 cursos, o meu processo de trabalho não é fixo. Muda com cada personagem. Tem personagens que, deliberadamente, eu procuro fazer uma coisa mais intuitiva. Tem outros que eu procuro fazer algo mais técnico. E eu tenho aprendido com o passar do tempo, talvez tenha unificado mais essa coisa do meu processo, que é preciso saber que a cada cena, a cada personagem tem uma energia certa que você tem de depositar.
OF: Como assim?
TF: Se você depositar mais, não vai te fazer bem; se depositar menos, o resultado também não vai ser bom. Às vezes, você deposita mais, o resultado é bom, mas não te faz bem. Se você depositar menos, pode até te fazer bem, mas o resultado não fica legal. Então, eu tenho aprendido isso, o que é uma coisa participativa. Então, o figurino me ajuda demais, o elenco me ajuda. Quando você descobre com quem contracenará, isso também dá mais informação do personagem que você vai fazer, assim como a direção, o cenário. É preciso saber que televisão, por ser muito participativa, você tem de deixar os outros te influenciarem assim e se sensibilizar com o ambiente.
OF: E qual foi o processo escolhido para a composição do Edgar?
TF: Eu optei por um processo muito contemplativo. Vi muita série, muita coisa de época, às vezes coisas até que não são da época específica. A gente assistiu muito a Downton Abbey (série britânica), que é uma referência para a novela. Começa exatamente um pouquinho antes, passa pelo período da novela e um pouquinho depois. E, antes de começar a gravar, eu pedi uns dias para a produção para poder viajar, para relaxar, meio como um marco. Fui para Londres. A gente fez uma experiência e tomou chá em uma casa de chás que fazia a mesma coisa há 150 anos. Contei sempre com a Paloma Riani, que é a minha coach e me ajuda em todos os trabalhos que eu faço, e com a Helena Varvaki, que cuida da questão mais corporal, uma área mais sensorial do personagem.
OF: Você acumula cerca de 20 trabalhos na Globo. Até que ponto tem autonomia para escolher os personagens que interpreta?
TF: Eu tenho tido uma sorte muito grande. Nunca tive de recusar um personagem. Então, eu não me preocupo com isso. Acho que é uma via de duas mãos mesmo. E não é uma briga, entendeu? A emissora também quer o melhor para você. Já aconteceu de eu estar escalado para uma novela e o diretor me liberar para ir para outra porque o personagem era mais legal. Isso acontece muito, eu acho. Nesses dois últimos anos, aconteceu bastante. Eu quase fiz outras quatro ou cinco novelas.
OF: Quando não interpreta um protagonista, você quase sempre está no elenco principal de uma produção. O tamanho dos personagens se tornou algo relevante para você?
TF: Tem um estímulo, eu gosto de grandes desafios, fico feliz. E eu gosto de trabalhar, então, se eu pego um capítulo em que não estou, eu fico chateado. Fico frustrado. Não acontece muito, mas, quando acontece, fico chateado. Porque eu gosto do desafio, da responsabilidade, não tenho nenhum problema com responsabilidade. Acho que é uma coisa de ser vocacionado, de nascer para isso. Por exemplo, eu sou pai e nunca fiquei em pânico por isso, nunca fiquei desesperado. Estou aqui para isso.
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