Tony Ramos: “Zé Maria era um risco calculado”

Por - 24/02/16 às 16:24

Reprodução/Instagram

Se existe unanimidade no meio artístico, seu nome é Tony Ramos. Toda a experiência do competente ator não o coloca, de modo algum, num patamar inatingível. Sempre solícito e paciente, ele conversou com a reportagem de OFuxico sobre Zé Maria, seu personagem em A Regra do Jogo, a carreira e muito mais, Confira!

OFuxico: A Regra do Jogo demorou, mas parece ter encontrado um caminho. E Zé Maria acompanhou isso, começando como uma incógnita e agora, faz as vezes de herói querendo detonar a facão e reparar os erros do passado. Em algum momento te incomodou a não aceitação imediata?

Tony Ramos: Nunca estive e nunca acreditei em zona de conforto. Para todo trabalho, são meses de pesquisas, são estudos. Sou tranquilo em relação ao meu trabalho. Nada para mim surpreende. Quando eu topo fazer uma novela, um personagem como esse, para o qual fui convidado em dezembro de 2014 vamos ajustando. Em janeiro de 2015 fechamos tudo. João (Emanoel Carneiro, o autor) ia me explicando quem era esse homem, esse psicopata que tem uma história na infância, que ainda não foi contada. Na adolescência ele também teve problemas. Ainda vai ser explicado porque ele aceitou isso. A troco de quê? Essa psicopatia dele surreal. Ao mesmo tempo, ele tem um grande amor pelos filhos. A proteção que ele da ao Juliano e a que ele da a menininha, é um amor de fato. Não é um amor de brincadeira.

OF: E o que ele sente, afinal, pela Kiki (Deborah Evelyn)?

TR: O que foi essa síndrome de *Síndrome de Estocolmo na vida dele com a da Kiki? Como isso aconteceu será revelado mais na frente. O João está guardando isso a sete chaves.

OF: Com você avalia a trama como um todo? Qual avaliação faz?

TR: Para mim, o balanço sempre é a partir do que o público diz. Um dia desses, eu parei o carro, e, fui abastecer ele. Um cara saiu da loja de conveniências e me cumprimentou como o Zé Maria cumprimenta os membros da facção. Eu levei um susto. Mas, um susto bacana. Demorou um pouco para cair a ficha. Ai, ele chamou uma amiga e outras pessoas vieram ao meu encontro, sempre fazendo a mesma saudação do Zé Maria. Assim você percebe a popularidade de uma novela. Mais do isso, é que quando você começa a perceber perguntas, seja do porteiro aqui da Globo ou de outro lugar. A novela chegou lá, uma novela que nós sempre acreditamos. Uma trama moderna. Hoje em dia o público entendeu a novela. A Regra do Jogo tem uma narrativa muito moderna, histórias surpreendentes. Nenhum jornalista, nenhum um crítico, pode subestimar o público. Não deve! É um principio básico da relação de comunicação. O público vai mergulhar ou não em uma história. No começo o público não entendia muito o flashback. Até a morte de Djanira (Cássia Kiss). Nós sabíamos que seria isso. Acontece a morte da Djanira, muda a narrativa e, ela passa a ser mais linear do começo para o miolo e o fim. Eventualmente um flashback. Ai, o telespectador entendeu. É esse tipo de narrativa que o publico gosta. O autor é brilhante. Eu sei o que vem por ai. Vocês não tem ideia.

OF: O que o Zé Maria acrescenta em sua carreira?

TR: Eu acho que esse perfil psicológico do Zé Maria, faltava na minha trajetória. Eu fiz de tudo um pouco. Já fiz homossexual em uma peça na década de 70. Tudo faço com vontade, não por desafio. Eu quero fazer algo que inquiete o telespectador. Inquietar o telespectador é fazer ele pensar, raciocinar comigo.

OF: Mas o Zé Maria acabou caindo no gosto do púbico que não alimenta raiva dele…

TR: Ele era um risco calculado. O público está acostumado a me ver com personagens românticos, mesmo que eu tivesse feito recentemente um vilão no remake de O Rebu. Era um personagem era tão cruel quanto o Zé Maria. Estou muito feliz com esse retorno. Todo bandido tem o seu lado humano. Eu como ator eu nunca tive preconceito. Ficar com barriga, sem barriga. Não estou nem ai. A barba eu deixo crescer. O cabelo, não cortava desde maio de 2015. Eu topo tudo. Não é humanizar. É mostrar o humano de uma pessoa. De bom ou de um péssimo caráter.

OF: Qual o seu grau de vaidade?

TR: A vaidade é sempre bem-vinda e mente quem disser que não tem. Mas, qual é a vaidade boa? Ter boa saúde. Cuidar-se. Faço ginastica diariamente mas não é para eu ficar bonitinho, mocinho aos 67 anos. Quero estar com a saúde legal até para aguentar esse trampo todo que é uma novela.

OF: Como é sua relação com as novas mídias?

TR: Não sou muito de internet, mas não sou contra isso. Eu sou mais do contato. Gosto do jornal na minha mão na parte da manhã, mas quando eu estou viajando leio pelo laptop. Muita gente me pergunta por que eu não tenho Instagram? A gente tem que ter? É obrigado a ter? Não tenho e não vou ter. ‘Você não tem Facebook mesmo, né? Que coisa!’ Eu não tenho! Não sigo ninguém. Não conte comigo para fofocar na internet.

*Síndrome de Estocolmo é a expressão usada para definir o estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor).

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