TV Cultura exibe documentário sobre o mercado da violência

Por - 28/05/06 às 14:26

A TV Cultura exibe neste domingo, dia 28, às 23h, na faixa DocTVSP, o documentário Violência S.A.

O filme, escrito e dirigido por Eduardo Benaim, Jorge Saad Jafet e Newton Cannito, mostra como o medo pode ser rentável, passeando pelo maravilhoso shopping center da segurança: carros blindados, bunkers residenciais, armas de fogo, cofres ultra-modernos, seguranças particulares, consultores, estudiosos, lobistas, chipes, satélites etc.

Esta é uma co-produção da TV Cultura, SescTV, Secretaria de Estado da Cultura e MC2, que tem 55 minutos de duração.
 
O Brasil é o país com a segunda pior distribuição de renda do planeta. Fica atrás apenas de Serra Leoa. E tem também a maior frota de carros blindados do mundo, à frente dos Estados Unidos, inclusive. Esse é um exemplo das curiosas relações que o filme Violência S.A. revela ao público, nunca de maneira convencional.
 
O debate sobre o desarmamento – objeto de referendo nacional em outubro de 2005 – é outro tema abordado no documentário. Ao invés de reduzir a questão a uma decisão individual do cidadão, Violência S.A. mostra como o uso das armas é um exemplo do ciclo de violência e do apartheid social arraigados no Brasil, mas sempre se valendo de linguagem sarcástica e irônica.

A locução, por exemplo, se distancia do tradicional narrador onisciente dos documentários sociológicos, para incorporar um personagem: um paulistano típico, seduzido com as possibilidades do cada vez mais sofisticado e promissor mercado de segurança brasileiro.
 
Após entrevistar mulheres apavoradas e enfrentar o dilema do farol (abrir ou não abrir o vidro para pedintes), nosso locutor-personagem parte à procura de especialistas em violência. Há entrevistas com o Coronel Erasmo Dias e com Benê Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil, que defende a liberação da venda de armas e o armamento do cidadão, como estratégia de defesa.

Fascinado pelo debate técnico, o locutor vai também ao encontro de dois bandidos que surpreendem o público, ao revelarem suas estratégias de ação. Por fim, além de entrevistar especialistas em defesa pessoal, o locutor conduz o público para o mercado de produtos de segurança, entrevistando vendedores de bunkers residenciais e de carros blindados, entre outros produtos.
 
Apesar da entusiasmada adesão do locutor-personagem aos entrevistados e ao mercado de segurança, o público do filme encontra espaço para ser crítico a esse universo. Para comentar o que os entrevistados e o locutor dizem, o filme usa animações, montagem conceitual, letreiros e trilha sonora dissonante.

No seu conjunto, esses recursos fazem paródia e crítica ao mundo exibido e ajudam a despertar o riso do público. Essa narrativa humorística, no entanto, se presta a um tema sério.
 
Aos poucos e com sutileza, o filme revela ao público o funcionamento do ciclo de violência brasileiro, fenômeno reconhecido por pesquisadores do tema, estudados e pré-entrevistados durante o processo de elaboração do roteiro e produção do filme. Atos de violência, reproduzidos pela mídia, propagam uma cultura de medo que serve de justificativa para o apartheid social.

Esse apartheid, por sua vez, se materializa no consumo de produtos do mercado de segurança privada, consumo esse que aumenta ainda mais a segregação e a violência. É uma lógica perversa: cada carro blindado adquirido, cada arma comprada, cada produto de segurança consumido, ajuda a realimentar o ciclo da violência brasileira. Vem dessa contradição o efeito que o filme desperta no público.
 
 
 

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