Por Redação - 15/08/16 às 09:49
Prestes a lançar seu primeiro livro Sou Dessas – Valesca Pronta Para o Combate, na próxima Bienal, dia 26, em São Paulo, Valesca disse em entrevista ao colunista Bruno Astuto, da revista Época, que pretende dar força para as mulheres se afirmarem a partir de exemplos das dificuldades e das conquistas que ela teve na vida.
A cantora de 37 anos destacou a passagem mais marcante do livro.
"A dificuldade que minha mãe sofreu para me criar. Das vezes em que ela dormia na rua, depois do trabalho, porque não podia entrar na comunidade de madrugada por causa da violência. Quando ela trabalhava na casa de uma família, a patroa queria que ela me desse, porque achava que ela não teria condições de me criar. E estamos aí, firmes e fortes", disse.
Repaginada não apenas fisicamente, Valesca disse à revista que não se arrepende do apelo sexual que as letras dos seus funks tinham antes.
"Naquela época, fazia todo sentido falar sobre sexo daquele jeito. Por que os homens podiam e a gente não? Mas o funk mudou e eu mudei com ele. Quando fazia meus shows, muitas meninas vinham me contar que apanhavam dos namorados, que foram abusadas pelo pai, que eram discriminadas no trabalho, então senti a necessidade de dar mais voz a elas. Talvez, aí, as letras tenham mudado mesmo".
A cantora ainda destacou que seu foco mudou.
"Não quero mais homem gritando 'gostosa!' para mim; eu quero é as mulheres comigo gritando pelo seu poder, colocando a voz para fora, tirar isso que está entalado na garganta.
Saindo um pouco do funk, que a popularizou, e caminhando para o pop, ela não pensa em apagar o "Popozuda" de seu nome artístico.
"Eu faço pop também, mas serei para sempre funkeira. Quer me chamar de MC? Me chama que eu adoro. A comunidade e o gueto nunca vão sair de mim, fazem parte da minha história. Assino Popozuda com orgulho, até porque o biótipo da brasileira é esse. A gente não tem que querer ser aquelas modelos de capa de revista. Aliás, acho uma besteira ter que ser esquálida para desfilar. Eu tenho celulite e sou superfeliz. Essas marcas ganhariam muito mais dinheiro se pensassem também nas popozudas, fazer roupas para nós mais fashion, que não sejam só coladas no corpo ou com apelo sexual".
Feminista assumida, ela sonha em criar uma Ong.
"Tenho uma vontade imensa de ter uma ONG que dê assistência a jovens carentes grávidas. Eu engravidei muito cedo e ia todo sábado a uma instituição onde aprendia a bordar, costurar, um ofício. Ganhava cesta básica e também o primeiro berço e as primeiras roupinhas do meu filho. Queria devolver isso para o mundo, sei o quanto é dolorido".
Na entrevista, Valesca surpreendeu ao revelar seu gosto musical e qual cantora ouve.
"Maria Bethânia. Eu amo aquela voz, aquela emoção, aquela maneira teatral de cantar e dizer as palavras. A gente vive em mundos diferentes, ela é muito reservada, mas foi muito revolucionária. Quem sabe um dia possamos cantar juntas? Seria um sonho para mim. Mas também ouço muito Gal Costa e Ivete".