Várias gerações festejam cinqüentenário de Rio, 40 Graus

Por - 01/11/05 às 12:15

Felipe Panfili

Apesar de o próprio cineasta Nelson Pereira dos Santos rejeitar o título de pai do cinema novo, seu filme Rio, 40 Graus é considerado o precursor da forma moderna de se falar do Brasil nas telas. E, para comemorar os 50 anos do longa, um jantar no restaurante Fiorentina, tradicional point de cinéfilos cariocas, reuniu na noite de segunda-feira, 31 de outubro, o diretor do longa e várias gerações de atores e cineastas, bem como a cantora Miúcha, que tinha um motivo especial para estar ali.

Nelson é autor do documentário Raízes do Brasil, que fala da vida e obra de Sérgio Buarque de Holanda, pai dos famosos Chico, Cristina, Ana de Holanda, da própria Miúcha e avô de Sílvia Buarque, também presente no evento com o marido, Chico Diaz.

No jantar, compareceram ainda: Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, que no dia 30 de outubro tinham terminado de rodar o mais recente longa de Nelson Pereira dos Santos: Brasília 18%. Do elenco, estiveram presentes: Bete Mendes, Othon Bastos e Déo Garcez, além da neta Mila Chaseliov, que faz uma participação como repórter no filme.

Simone Spoladore e o namorado, o cineasta Eric Rocha (filho de Glauber Rocha), também foram abraçar o cineasta na noite em que se comemorou o cinqüentenário de Rio, 40 Graus.

Mauro Mendonça também foi muito festejado por ter feito parte do elenco do longa homenageado, no qual dividiu a cena com Jece Valadão e a falecida Glauce Rocha.

“É muita emoção reunir tanta gente, de gerações diferentes, em um momento em que estamos lutando para resgatar os originais de Rio, 40 Graus, já que a nossa cópia original se perdeu em um dos incêndios da Cinemateca Nacional. Por sorte, temos uma cópia na Cinemateca de Praga e já estamos em negociações para resgatar, a partir dela, nossos negativos. Acho que vai dar tudo certo, porque a Petrobrás está patrocinando a restauração dos meus 17 longas e os dos dois média-metragens”, confia Nelson Pereira dos Santos.

Quem é o cineasta

Paulistano do Brás e criado no Bixiga, nascido em 22 de outubro de 1928, Nelson Pereira dos Santos só conheceu o Rio de Janeiro aos 20 anos. Estudou Direito na USP, onde exerceu intensa atividade política. Paralelamente, trabalhou como revisor no Diário da Noite em São Paulo e, posteriormente, no Diário Carioca e Jornal do Brasil, ambos no Rio de Janeiro.

Cineasta autodidata, iniciou a carreira em 1950, com o curta Juventude e, no ano seguinte, estreou como assistente de direção no filme O Saci, de Rodolfo Nanni. Em 1955, aos 27 anos, lançava seu primeiro longa Rio, 40 Graus, sucesso de público e crítica. Ao longo de 52 anos de carreira, Nelson Pereira dos Santos dirigiu 17 longas, entre eles, Vidas Secas, Azyllo Muito Louco, Tenda dos Milagres, Memórias do Cárcere, Jubiabá, assim como 16 curtas e inúmeros programas de televisão.

Nelson fala de Rio, 40 Graus

O cineasta conta que Rio, 40 Graus foi inspirado no que viu quando foi assistente do filme Balança Mas Não Cai¸ com o Paulo Gracindo. O estúdio era localizado junto à favela do Jacarezinho, zona norte carioca e a maior da época. Ele morou durante algum tempo na favela onde residiam alguns eletricistas e maquinistas do filme Balança.

“Eles me convidavam para almoçar na casa deles, aos sábados, uma feijoada ou um cabrito. Aí, eu conheci a favela. Era um ambiente rural, romântico. Eu escrevi o roteiro de Rio, 40 Graus e, finalmente, quando o filme ficou pronto, a Columbia Pictures comprou a distribuição, o que foi a grande glória. Tivemos uma excelente bilheteria, apesar do exibidor, que não gostava do filme, tirá-lo de cartaz”, costuma relembrar o cineasta.

Nelson brinca que Rio, 40 Graus e ele só ficaram famosos por causa do chefe de polícia do governo Café Filho, o então coronel Geraldo de Menezes Cortes, ter proibido a exibição durante quatro meses, o que fez com que o filme e seu diretor virassem manchete de jornais.

Nelson recorda que o chefe de polícia dizia que até o título do filme era mentiroso, porque a temperatura máxima registrada no Rio, na sombra, era de 39,6 graus e não 40, além de exibir a ficha policial do cineasta, na qual constava que ele era comunista, desde a época da faculdade de direito.

Brasília 18%

Nelson Pereira dos Santos retornou a filmar em 2005, e voltou suas câmaras para o Planalto Central, cenário de seu novo longa: Brasília, 18%. Não se trata de nenhum percentual de alguma mesada partidária, apressa-se em explicar o cineasta, apesar de falar de corrupção política. 18% trata-se do grau de umidade médio do ar na Capital Federal.

“Tenho medo de que algum censor moderno venha a carimbar a película, quem sabe? Porque a média jamais chegou a 18%. Parece que as Capitais Federais estão fadadas a servir de cenário para a pior das facetas do povo brasileiro”, dispara Nelson.

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