Viola Davis: a atriz negra mais indicada ao Oscar
Por Redação - 28/04/21 às 06:00 - Última Atualização: 18 agosto 2021
Viola Davis foi indicada mais uma vez ao Oscar 2021 por “A Voz Suprema do Blues”. Ela, que parece que sempre esteve nos principais filmes de Hollywood, é a atriz negra com mais indicações na história da premiação. Porém, antes mesmo de conquistar esse título que, mais do que celebrar seu talento, ressalta a desigualdade nas indicações, Davis já era considerada pelo público um dos maiores nomes de todos os tempos. Curioso notar, então, que a estrela não tenha um currículo tão extenso no cinema quanto suas contemporâneas.
“A única razão pela qual estou quebrando recordes é porque ninguém foi reconhecido. Essa ‘honra’ é uma espécie de honra limitada. O problema é com a própria indústria cinematográfica, não com os prêmios. Você não pode indicar ninguém para prêmios se não houver filmes sendo feitos”
Pensando nisso, OFuxico relembrou a trajetória da atriz e comentou um pouco sobre os seus grandes trabalhos ao longo da carreira.
Confira!
Davis começou no teatro. A atriz ganhou destaque na Broadway em 1996 com a peça “Seven Guitars”, do dramaturgo August Wilson, autor de “Um Limite Entre Nós”, texto adaptado para os cinemas em 2017 e que rendeu à atriz seu primeiro Oscar. Em 2002, chegou aos cinemas no longa “Voltando a Viver”, em que apareceu em apenas uma cena, sem qualquer fala. Mesmo assim, a atriz fez valer o seu tempo de tela e foi indicada por esta performance ao “Independent Spirit Award”, como atriz coadjuvante.
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Mas foi só em 2008 que a atriz, hoje com 55 anos, conseguiu o seu primeiro grande papel nas telas com “Dúvida”, aos 43 anos. Foram necessários apenas oito minutos em cena para que ela conquistasse uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar.
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Na cena, Viola caminha ao lado de Meryl Streep, que representa uma freira desconfiada de que o padre da igreja St. Nicholas no Bronx possa ter abusado sexualmente de Donald, o único aluno negro aceito na escola paroquial. Streep tenta convencer a mãe do rapaz, senhora Miller, interpretada por Viola, de que há algo de errado na forma como o padre tem se relacionado com o seu filho.
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A personagem de Davis, no entanto, prefere ignorar o problema, com o dilema de que o filho poderia perder a única oportunidade na vida caso fosse expulso de uma boa escola. Uma mulher negra não se via nas mesmas condições de denunciar as suspeitas de abuso contra o filho e, entre os males ela teria que escolher, aquele que lhe parecia menos pior.
Viola foi ganhando cada vez mais reconhecimento em sua carreira. No entanto, até para uma atriz da sua grandeza, foi difícil conseguir bons papéis, principalmente pelo fato do racismo também ser uma realidade em Hollywood.
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Em 2012, a atriz foi indicada pela segunda vez ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme “Histórias Cruzadas”, em que interpretou Aibileen Clark, uma empregada doméstica em uma Mississipi marcada pela segregação racial, na década de 60. Bastante ativa em debates raciais, Viola confessou ter se arrependido de estrelar a obra. Para ela, a dinâmica do filme é questionável, já que foca na perspectiva do “white savior”, e não das empregadas domésticas, um comportamento que é bastante comum e problemático da indústria.
“Senti que, no final do dia, não eram as vozes das empregadas que eram ouvidas. Eu conheço Aibileen. Eu conheço a Minny [ambas personagens do filme]. Elas são minha avó. Eles são minha mãe. E eu sei que se você fizer um filme onde toda a premissa é ‘eu quero saber como é trabalhar para pessoas brancas e criar filhos em 1963’, eu devo ouvir como você realmente se sente sobre isso. E nunca ouvi isso no decorrer do filme”, disse a atriz em entrevista ao “The New York Times”.
“Poucas narrativas investem na nossa humanidade. Eles investiram na ideia do que significa ser negro, mas está atendendo ao público branco. Uma parte de mim que sente como se tivesse me traído e ao meu povo por fazer um filme criado na fossa do racismo sistêmico”
Por isso, mais de uma vez, Davis manifestou seu desejo em ter as mesmas ofertas de papéis que Jane Fonda e Meryl Streep. Porém, isso não aconteceu, pelo menos nos cinemas. No entanto, a convite de Shonda Rhimes, Viola ganhou os holofotes estrelando e produzindo “How to Get Away with Murder”, série pela qual ganhou seu primeiro Emmy. Na produção, Viola interpretou a professora universitária e advogada criminal, Annalise Keating. Foi com essa série que ela se consolidou como uma das atrizes mais queridas e prestigiadas pelo público e pela crítica. Neste momento, ela também já tinha sido honrada com um Tony pela montagem de “Um Limite Entre Nós” na Broadway.
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Na série, uma cena tornou-se muito marcante: quando Keanning, ao fim do dia, limpa a maquiagem e tira a sua peruca.
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“Eu queria que essa cena estivesse em algum lugar da narrativa de Annalise. Que [mostrasse] que quem ela foi em sua vida pública e quem ela era em sua vida privada eram absoluta e completamente diametralmente opostas. Porque é isso que somos como pessoas. Usamos a máscara que sorri e mente”, disse à revista “Insider”.
Infância humilde
Viola conquistou um currículo invejável, mas até lá teve um percurso que foi de tudo, menos fácil. A atriz cresceu em Rhode Island em uma casa extremamente pobre. Quinta de seis filhos, com um pai alcoólatra e às vezes violento, a jovem Viola costumava ter problemas na escola, passava fome e ficava sem tomar banho. Sua família nem sempre tinha dinheiro para água e sabão, muito menos café da manhã e jantar. Com frequência, em suas entrevistas, a atriz recorda as dificuldades da infância.
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“Faço isso porque acho que a pobreza envolve muita vergonha. Que você não seria pobre se fizesse a coisa certa. Quando você é pobre é isso que passa pela sua mente. Não é apenas um estado financeiro. É um estado de invisibilidade. É um estado de inutilidade”, disse ao programa “60 minutes” ao ser questionada por que escolhe falar tão abertamente sobre o assunto.
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Quando adulta, Viola se formou em Teatro em duas escolas, primeiro na Rhode Island College. Depois de alguns anos trabalhando nos palcos, ganhou uma bolsa de estudos para a prestigiada Juilliard, onde se formou em 1993. Em sua audição ela fez um monólogo da obra “A cor púrpura”. Ao jornal “The Telegraph”, a atriz falou da experiência em um dos mais prestigiados conservatórios de artes do mundo. “Não posso dizer que não aprecie a minha formação lá, mas não encontrei um sentimento de pertencimento. Era um lugar que ensinava teatro clássico eurocêntrico como se fosse a Bíblia.”
O que vem pela frente?
Com uma carreira de sucesso, Viola Davis acumula três indicações e um prêmio de melhor atriz no Oscar. Já venceu também um Emmy (televisão) e um Tony (teatro) – conquistando a “tríplice coroa de atuação”.
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Entretanto, depois de uma carreira consistente e cansada de ter que provar seu talento, Viola percebeu que não adiantaria esperar que as boas histórias chegassem até ela, seria necessário que ela mesma fosse atrás dessas narrativas. Com quase 30 anos de carreira, a atriz decidiu não esperar mais que Hollywood, que não estava encarando o próprio racismo dando bons personagens para atores negros, se adaptasse. Com o marido, Julius Tennon, ela criou a JuVee Productions, produtora independente que busca promover histórias a partir de “uma ampla gama de vozes emergentes”, trazendo à luz discussões sobre raça e proporcionando maiores oportunidades no teatro e no cinema.
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Em 2019, ela anunciou a intenção de adaptar a peça “O beijo no asfalto”, de Nelson Rodrigues para a Broadway.
Agora, em 2021, Viola retornou ao Oscar indicada como melhor atriz por interpretar Gertrude Rainey (1886 – 1939), uma das primeiras cantoras do blues a ser gravada, em “A voz suprema do blues”, mais uma adaptação da peça de August Wilson. Caso levasse a estatueta para a casa, Davis seria a única atriz negra a ser reconhecida duas vezes pela Academia. Sobre os desafios ainda presentes, ela compartilhou o peso de ser uma figura de inspiração para outras mulheres negras.
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“A responsabilidade de me sentir a grande esperança feminina negra para as mulheres negras tem sido um verdadeiro desafio profissional. Ser esse modelo e pegar o bastão quando você está lutando em sua própria vida tem sido difícil”, declarou ao jornal The New York Times.
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