Zezé Mota lança sua biografia e diz que já teve vergonha de ser negra

Por - 06/06/06 às 11:01

Felipe Panfili

 

Com o sugestivo título de Zezé Motta – Muito Prazer, foi lançada na noite de segunda-feira, 5, a biografia da atriz e cantora, escrita pelo dramaturgo Rodrigo Murat, na qual ela se mostra por inteiro. Zezé relembra, por exemplo, a fase em que teve vergonha de ser negra, conta o motivo e diz como aprendeu a ter orgulho de sua raça. E, toda orgulhosa, conta também a fase em que virou símbolo sexual por causa do filme Xica da Silva, que está completando 30 anos.

O livro faz parte da Coleção Aplauso, da  Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, e a noite de autógrafo aconteceu no Cine Odeon BR, na Cinelândia, centro do Rio, onde era exibido o filme Xica da Silva.

Quem adquirisse um exemplar, tinha direito a assistir ao longa de Cacá Diegues gratuitamente. Ildi Silva, uma das beldades negras do cenário artístico atual, entrou na fila e ganhou autógrafo de seu ídolo.

“Admiro muito a Zezé, não apenas pelo talento, mas por ser uma mulher desbravadora na questão de lutar por maior espaço para o negro nas artes. Nunca pedi toques a ela sobre trabalho porque, apesar de a gente se conhecer, não tenho intimidade para isso”, resume Ildi.

Vergonha de ser negra

“Quando adolescente, convivi com pessoal de classe média. Eu era a única negra no Tablado (tradicional teatro-escola de formação de atores do Rio de Janeiro), morava em um prédio do Leblon, na zona sul, e minhas amiguinhas, sem maldade alguma, diziam que eu tinha cabelo ruim e nariz chato. Aí, eu comecei a querer consertar tudo isso. Alisava o cabelo e ainda usava uma peruca chanel”, recorda a intérprete de Virgínia, a Bá ,do remake de Sinhá Moça, entre um autógrafo e outro.
Orgulho de sua raça

Zezé aprendeu a ter orgulho de ser negra aos 22 anos e nos Estados Unidos.

“Fiz uma viagem para Nova Iorque, no auge do movimento black americano. Comecei a prestar atenção naqueles negros que se achavam lindíssimos, cheios de auto-estima, que andavam de cabeça erguida. Comecei a refletir: por que o negro brasileiro não tinha essa postura? Um belo dia, voltei para o hotel e, como se fosse uma espécie de batismo, tomei um banho, lavei a cabeça e deixei o cabelo ao natural, abandonando o alisamento e a peruca. Não tenho nada contra quem alisa o cabelo. No meu caso, isso era ruim porque eu tinha como proposta embranquecer. Depois que tomei essa consciência, só alisei as madeixas por conta de trabalho, como aconteceu na novela Corpo Dourado, que interpretava uma empresária metida a besta e não iria usar trancinhas africanas”, diverte-se.

Símbolo Sexual

“Xica da Silva foi um divisor de águas na minha vida. Virei símbolo sexual, junto com a Sônia Braga (que superlotava os cinemas em filmes como A Dama do Lotação), numa época em que o negro era considerado feio. Achei uma vitória da comunidade negra, porque descobrimos que éramos bonitos também”, diz Zezé.

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