Zezé Polessa: “Adoro fazer coisas menores na tevê”

Por - 27/01/13 às 10:15

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Notícias.

A liberdade artística é um dos maiores trunfos de Zezé Polessa. Aos 59 anos, a intérprete de Berna, em Salve Jorge, da Globo, garante que prefere, educadamente, dizer não a um personagem do que se repetir.

Zezé Polessa: "Para mim, não tem graça viver tipos semelhantes. Busco novas possibilidades de atuação", admite.

A exótica turca da atual novela das nove, inclusive, surgiu em um momento onde Zezé queria se dedicar a uma história mais dramática, depois do tom bem humorado de seus ltimos personagens em Escrito Nas Estrelas, de 2010, e Cordel Encantado, de 2011.

"Berna tem uma fixação tão grande pela maternidad, que acabou encontrando problemas", analisa.

Carioca, formada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Zezé deixou tudo para trás em nome das Artes Cênicas. Sua estreia na tevê foi em meados dos anos 1980, em programas humorísticos da extinta Manchete. Ao entrar para a Globo, em 1989, a atriz pôde experimentar o reconhecimento do público por conta de Naná, sua personagem em Top Model. Ao longo da carreira, destacou-se pelos tipos fortes e extravagantes que interpretou em tramas como Salsa e Merengue e Porto dos Milagres.

"A cada novo trabalho, eu procuro o prazer de viver as personagens. Sem isso, fica complicado. Não quero ser apenas funcional para o papel", assume.

Plano clássico

Zezé Polessa já tem planos para quando Salve Jorge terminar. Depois de rodar o país ao longo dos últimos cinco anos, sob a direção de Victor Garcia Peralta, com o monólogo Não Sou Feliz, Mas Tenho Marido, a atriz se prepara para estrelar o clássico Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Edward Albee – com estreia prevista para o próximo semestre.

"Quero continuar no drama. É um projeto incrível e motivador onde vou contracenar com o Marco Ricca", adianta.       

Por conta do tempo que precisaria ter para as leituras e ensaios do novo espetáculo, a atriz admite que não daria conta de fazer Salve Jorge e a peça simultaneamente.

"Seria pressão e drama demais. Já fiz muito teatro e televisão ao mesmo tempo e ficava muito cansada", conta, aos risos.

Porções especiais

Zezé Polessa: Entre uma novela e outra, Zezé Polessa sempre gostou de se aventurar por pequenas participações especiais em outras produções da Globo. Na extensa lista da atriz, constam presenças em episódios de Você Decide, Toma Lá, Dá Cá, Brava Gente, Os Normais, Carga Pesada, entre outras séries e programas.

"Adoro fazer coisas menores na tevê. É onde consigo rever amigos e diversificar minha participação dentro da emissora", acredita.

O Fuxico: Você viajou para a Turquia mesmo sem ter de gravar cenas de Salve Jorge no país. O que a instigou a conhecer o região natal de sua personagem?

Zezé Polessa: Fiz questão de ir para a Turquia conhecer o país, seus costumes e tradições. Foi essencial para estabelecer um ponto de conexão com a personagem. Infelizmente, não tive de gravar cenas lá, mas acho que sentir aquela região foi extremamente importante para dar conta da minha personagem. Até porque eu estava com a cultura árabe, já vista em outras novelas da Gloria (Perez, autora), entranhada na minha cabeça. E não tem nada a ver. A viagem me fez criar com mais embasamento o jeito cosmopolita da Berna.

OF: O que mais chamou a sua atenção nessa viagem?

ZP: A Turquia equilibra muito bem o novo e o antigo em sua cultura. Muito disso vem da mistura de costumes ocidentais e orientais de um país que é metade Europa e o outra metade Ásia. Esse grande detalhe muda tudo. E deixa o país com um ar tradicionalista e moderníssimo ao mesmo tempo. O par formado pela Berna com o Mustafa (Antônio Calloni) retrata muito esse contraste da região.

OF: Como assim?

ZP: Ele é um empresário do Grand Bazar, dono de lojas de tapetes caríssimos. Enquanto ela trabalha com restauração de azulejos antigos. São ricos por conta desses trabalhos, mas ambos têm mente aberta para os negócios e para os assuntos familiares. O único dilema deles era não poder ter filhos. Algo que foi resolvido com a adoção de uma criança brasileira.

OF: O desejo de Aisha (Dani Moreno) em conhecer a família biológica é o ponto de partida dos problemas de Berna. Você acha que ela foi realmente enganada por traficantes ou estava ciente que recorreu a um processo ilegal de adoção?

ZP: Acho que é um pouco de cada coisa. Em um primeiro momento, acredito que minha personagem tenha sido ingênua demais. Quando ela veio pegar a criança no Brasil, a suposta assistente social disse que estava tudo certo, mas que o processo de adoção ainda demoraria uns seis meses para ser definido. A menos que a Berna contratasse um despachante. De acordo com o roteiro, ela achou que daria dinheiro para isso e não para comprar a criança.

OF: – A criança foi entregue a Berna durante a madrugada em um quarto de hotel. Você acha que foi aí que a personagem pecou ao ignorar o crime?

ZP: Sem dúvida. A vontade de ser mãe fez com que ela fechasse os olhos para o que estava acontecendo. A relação dela com a Aisha é muito forte, até porque ela não poderia ser mãe por métodos naturais. E adotar aquela criança foi um momento de realização para Berna. No fundo, ela achava que estava fazendo uma gesto de bondade e é a partir dessa ação que os dramas dela são gerados.

OF: Você é sempre escalada para papéis mais leves e cômicos. Voltar a interpretar um tipo mais dramático era um objetivo seu?

ZP: Eu queria fugir do que geralmente é reservado para mim. Berna é emotiva e tem um lado bem trágico. A única coisa mais leve dela é o fato de ser uma figura exótica. Achei-a interessante desde o momento em que li a sinopse. Não tenho nada contra personagens de humor, tenho algumas no currículo e, por mais semelhantes que elas sejam, sempre dei um jeito de apronfudá-las e diferenciá-las.

OF: Você tem recusado muitos papéis ultimamente?

ZP: Minha postura hoje em dia é um pouco mais criteriosa. Converso com a direção da emissora e com os produtores de elenco. Quando aparece um personagem muito parecido com algo que eu já tenha feito, recuso o papel, mas não saio do projeto. Peço para continuar na trama, mas com outra personagem. Não tem graça ficar me repetindo o tempo todo. Ainda mais em novelas. É difícil até de imaginar ficar interpretando por meses algo que não me estimule.

P – Na última década, você vem mantendo a frequência de fazer um trabalho, seja ele novela ou série, por ano. Esse ritmo está deixando você cansada de fazer tevê?

R – Não estou cansada de tevê. Adoro trabalhar em um local onde minha atuação é valorizada e estão sempre me chamando para trabalhar. No entanto, novela boa ou ruim, normalmente, tem um esquema exaustivo. Por isso, é preciso ter uma motivação a mais para encarar o trabalho. Essa motivação pode estar em novas técnicas da direção, uma personagem mais consistente e diferente, uma boa equipe.

P –  Você estava cotada para interpretar a Muricy de "Avenida Brasil", personagem que acabou ficando com a Eliane Giardini. Se arrepende de ter recusado o convite?

Zezé Polessa: R Eu tinha acabado de fazer "Cordel Encantado" e teria de ir imediatamente para "Avenida Brasil". Fiquei tentada, até porque a diretora era a Amora (Mautner) e o trabalho na novela das seis foi muito legal. Não tenho do que me arrepender porque seria difícil emendar as produções. É uma questão de escolha mesmo. Antes de entrar para "Salve Jorge", estava quase certa de que eu faria o "remake" de "Gabriela". Mas a equipe da Gloria foi mais rápida e me reservou. 

P   Recentemente, o canal pago Viva reprisou "Top Model", sua primeira novela na Globo. Você chegou a rever alguma cena sua nesse trabalho?

R – Foi ótimo rever a Naná! Não deu para acompanhar tudo, mas vi algumas cenas e fiquei bem nostálgica. Não foi um papel fácil. Era minha primeira experiência em novelas, em uma personagem de destaque, então eu me pressionava muito para fazer aquilo dar certo. Engraçado, ao rever as cenas, senti o desconforto que eu estava sentindo na hora de gravar (risos). "Top Model" foi o tipo de novela que, além de cair no gosto do pblico, era muito gostosa de se fazer. Isso nem sempre acontece.

P – Este ano, você completa 24 anos de Globo. É possível escolher um trabalho que represente seu amadurecimento como atriz na emissora?

R – Eu fiz muita coisa ao longo desses anos, fica difícil mencionar somente uma personagem. No entanto, acho que se não fosse a Firma, de "Memorial de Maria Moura", eu poderia ficar um bom tempo sendo lembrada apenas por personagens de humor. Ela tinha aquele bigodinho (risos) e foi uma quebra, um referencial, onde pude provar para mim mesma que eu poderia fazer uma vilã.

 

"Salve Jorge" – Globo – de segunda a sábado, às 21 h.

 

      

Trajetória Televisiva

# "Tudo em Cima" (Manchete, 1985) – Clara.

# "Tamanho Família" (Manchete, 1985) – Duda.

# "Top Model" (Globo, 1989) – Naná.

# "Vamp" (Globo, 1991) – Sílvia.

# "O Portador" (Globo, 1991) – Vilma.

# "Noivas de Copacabana" (Globo, 1992) – Mariana.

# "Memorial de Maria Moura" (Globo, 1994) – Firma.

# "Decadência" (Globo, 1995) – Jandira.

# "Explode Coração" (Globo, 1995) – Mila.

# "Salsa e Merengue" (Globo, 1996) – Marinelza.

# "Hilda Furacão" (Globo, 1998) – Dona Neném.

# "Andando nas Nuvens" (Globo, 1999) – Bonitona.

# "Porto dos Milagres", (Globo, 2001) – Amapola.

# "Agora é Que São Elas" (Globo, 2003) – Tintim.

# "A Lua Me Disse" (Globo, 2005) – Ester.

# "O Sistema" (Globo, 2007) – Valquíria.

# "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" (Globo, 2007) – Justine.

# "Beleza Pura" (Globo, 2008) – Ivete.

# "Toma Lá, Dá Cá" (Globo, 2009) – Harolda.

# "Escrito Nas Estrelas" (Globo, 2010) – Sofia.

# "Cordel Encantado" (Globo, 2011) – Ternurinha.

# "Salve Jorge" (Globo, 2012) – Berna.

Pioneiro no Brasil em cobertura de entretenimento, famosos, televisão e estilo de vida, em 24 anos de história OFuxico segue princípios editoriais norteados por valores que definem a prática do bom jornalismo. Especializado em assuntos do entretenimento, celebridades, televisão, novelas e séries, música, cinema, teatro e artes cênicas em geral, cultura pop, moda, estilo de vida, entre outros.