‘Quanto Mais Vida, Melhor!’: A arte de fazer cenário de novela

Por - 22/11/21 às 06:00 - Última Atualização: 20 novembro 2021

Ana Hikari fazendo pole danceFoto: Reprodução/ Instagram @quantomaisvidamelhorofi

As equipes de cenografia e produção de arte, lideradas por Anne Bourgeois e Eduardo Feijó, respectivamente, traduziram os diferentes universos retratados em “Quanto Mais Vida, Melhor!”. Eles receberam da direção um briefing a respeito dos quatro protagonistas, que deveriam ter espaços bem marcados.

“O Neném, por exemplo, tem uma coisa mais vintage, suburbana, com muita vivência, com cor. O Guilherme, uma estética mais limpa. A Paula é o mundo do display. É aquela pessoa que parece que produz tudo para uma foto no Instagram. A vida dela é assim. E a Flávia é aquela menina desmiolada, inconsequente, que vive num mundo colorido e perigoso”, explica Edu, acrescentando que a escrita de Mauro Wilson também encaminhou a produção desses espaços: “O estilo dele não é uma novela realista. Tem um pouco de linguagem dramática de história em quadrinhos. E a gente procurou achar um mundo meio estilizado dentro de um realismo da Tijuca”.

Coração da novela, como o coração de mãe, a casa de Nedda (Elizabeth Savala) é inspirada em casas antigas típicas das que são encontradas nas proximidades da Tijuca, bairro que eles visitaram na companhia do autor. É um lar que retrata a quantidade de gente que habita ali. Muita vivência. É uma casa que tem muita vida, muita gente morando ao mesmo tempo, e cozinhando, e comendo, e fazendo unha, lavando roupa… Uma casa com excesso de tudo. “Tem uma azulejaria dentro da casa, a presença do art déco, dentro da paleta de tons terrosos. Apesar de ter toda aquela coisa tão afetuosa da casa da mãe, ali dentro habita uma certa decadência, habita também a amargura das derrotas”, conta Anne.

SALÃO DE CABELEIREIROS, BOATE E MOTEL

O Neném Coiffeur, salão da Nedda, acaba sendo um apêndice da casa: tem o mesmo conceito, essa coisa com excesso de tudo, e com coisas que contam o tempo. Ela tem os aparelhos todos de uma época, misturados com itens mais modernos, uma vitrine do Neném, uma parede com troféus, fotos para mostrar como tudo naquela família gira em torno dele. “O salão é do Neném, depois vem a  quentinha do Neném. O marketing deles é o Neném, que é o ídolo para aquela família”, sintetiza Eduardo.

Já a boate Pulp Fiction e o motel Arriba Karakas são todos trabalhados nos letreiros e iluminação em neon, têm um visual futurista, dos anos 70. Ainda na Tijuca cenográfica fica o cenário que se tornou o preferido da equipe da novela: o bar Karaokê. Feito com peças do acervo da Globo, ele tem um teto todo feito de sapatos tipo ‘Dancin’ Days, e uma pista de dança no meio, além de uma parede de capas de disco.

“Ele acabou ficando um espaço muito mais bem construído do que as referências que a gente trazia. A primeira ideia era de que ele fosse meio muquifo, e ele acabou virando um espaço bem impactante, visualmente falando. Ali, temos referências desde Santa Teresa até Barcelona. Fomos misturando na nossa pesquisa coisas de Karaokês mundo afora”, revela Anne, para ser complementada por Eduardo: “Podia estar em Tóquio esse karaokê”.

MANSÃO DOS MONTEIRO BRAGANÇA

De lá para a Zona Sul do Rio, mais exatamente para o Leblon, fica a mansão dos Monteiro Bragança. Seguindo para a Barra, (onde) fica a cobertura de Paula (Giovanna Antonelli). “O Guilherme (Mateus Solano) é um cara rico, bem-sucedido, narcisista. Ele tem o que é de melhor. A casa dele tem obras de arte, tem arquitetura, tem design brasileiro. Já a de Paula, que é uma nova rica, abusa nas cores e tudo”, comenta Eduardo.

A casa dela é um acontecimento à parte: tem um paredão num tom rosa, um jardim de cactos grande, como se fosse um terrário enorme. “Essas são coisas bem cinematográficas, é quase que uma foto de revista de moda o tempo todo”, comenta Anne.

Como se diz hoje em dia, é uma casa “instagramável”. Principalmente, por conta da característica monocromática dela. “O cenário que eu mais me divirto é o cenário da Paula. Isso se deve ao fato de ela ser um pouco ‘color block’. Ela anda ou só de rosa, ou só de amarelo. Look total. Quando ela está de amarelo, a bolsa é amarela, o sapato é amarelo, o celular é amarelo. E aí, a gente começou a combinar a camisola que ela usa com a cor do suco que ela toma no café da manhã. Tudo nela tem esse jogo de cores. E a Terrare, a empresa, é também outra extensão da casa. Na sala de reuniões, a mesa com as cadeiras parece um estojo de canetinhas coloridas. Uma de cada cor, superbem definido, superbonito”, explica Eduardo.

WOLLINGER COSMÉTICOS

O mundo de Carmem (Julia Lemmertz) também é sofisticado. A sala de presidente da Wollinger Comésticos tem mais madeira, cor de pinho, mais natural e menos plástico e colorido que o universo de Paula. A empresária também presenteia o filho, Gabriel (Caio Manhente), que era estudante de mixologia, com um bar com visual contemporâneo.

A falta de um lugar para chamar de seu se refletiu até na construção do lar de Flávia (Valentina Herszage). A casa de seu pai, Juca (Fabio Herford), e da madrasta, Odete (Luciana Paes), não tem nada que reflita a sua personalidade. Ela é um peixe fora d’água e não pertence àquele lugar. 

“Ela é meio nômade. Mas a opção pela estética e pela paleta dela está na boate. A casa é do pai e da madrasta e tem lá suas histórias, o universo dos dois, daquela depressão crônica dele, parecem coisas mais velhas, é uma miscelânea”, define Anne.

Foto: TV Globo/ João Miguel Jr.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino