‘Quanto Mais Vida, Melhor!’: A moda dos personagens
Por Flavia Cirino - 22/11/21 às 07:00 - Última Atualização: 20 novembro 2021
Contemporâneo como a trama de Mauro Wilson, o figurino de ‘Quanto Mais Vida, Melhor!’ é assinado por Natalia Duran e decodifica costumes, tendências e personalidades bem típicas dos tempos atuais. “Nosso diretor, o Allan Fiterman, costuma falar que essa é uma novela com um colorido maior. E isso é possível por ser uma novela também das sete, que a gente pode ousar muito mais da moda”, comenta Natalia, que acrescenta sobre a encomenda que recebeu: “O Allan me deu uma paleta de cores para seguir com os protagonistas. A Paula Ferrari é look total. É meio anos oitenta, mas que está sempre voltando. Mas sugeri que em vez de ser só uma cor, trabalhássemos com cores muito vibrantes. Ela é luz, é positiva, e a Giovanna Antonelli carrega isso muito bem”.
Natalia e equipe usaram e abusaram das profissionais de costura da própria Globo. “A maioria das roupas da Giovanna são feitas na costura dos Estúdios Globo, porque a gente não conseguiu encontrar… não as cores, mas as formas”, explica.
Já Neném é um esportista tijucano, aquele do chinelo slide, da calça de helanca, está sempre com uma camiseta de material mais sintético, de camiseta de esporte. “Ele usa muita roupa de esporte. Ele acorda e põe uma roupa como se estivesse indo a um treino. Só que tive dificuldade também, porque a maioria das roupas de esporte têm tons muito fortes. Eu tive que diminuir e abaixar o tom todo, porque o Allan o queria entre os marrons, ocres, mostardas; tons mais terrosos”, explica Natalia.
Ainda para a composição do figurino dele e do seu núcleo, foi preciso desenvolver camisas de futebol e comprar peças em leilão, como camisas da Copa de 2001 para poder vestir o elenco presente numa partida entre Brasil e Argentina. “Essas camisas são compradas de colecionadores, em leilão, porque elas têm de ser as camisas originais. Não temos o time inteiro. Isso vai ser replicado em computação gráfica”, completa.
Para montar o figurino de Guilherme, Natalia explica que fez uma extensa pesquisa pelo universo dos cardiologistas e usou como referência algumas séries americanas e levou para a novela um trench coat. Guilherme é todo trabalhado no preto, nos cinzas e azuis, de camisaria, até os azuis marinho. Usa sempre um casaco sete oitavos, que é um casaco mais longo, tipo uma capa, uma parca; camisa, gravata e colete. Anda com calças retas, com um tênis azul marinho ou um tênis branco.
“Descobri que vários médicos são de uma vaidade enorme, adoram se vestir bem. Esses medalhões vão de terno para o trabalho. Chegando lá, eles trocam e põem o jaleco. O Mateus, eu resolvi fazer diferente. Resolvi colocar um colete para empoderar ele. O personagem tem muita certeza de que ele é o melhor cirurgião do Brasil. Ele ganha todos os prêmios e então eu dei essa blindada com o colete, gravata. Ele fez um estilo ali. E esses médicos são meio estilosos, usam o relógio pra baixo, muitos usam tênis também”, pontua ela.
Natalia enxerga o figurino de Flávia como o de uma jovem de vanguarda. Seu guarda-roupa não é extenso, ela tem poucas peças e muita atitude de composição de roupa, usa meia arrastão e botas acima do joelho, de dia. Não tem opções de roupa para sair de dia ou de noite.
“É uma jovem garota do Rio de Janeiro, da Tijuca, que veste a camisa que era do namorado, com a meia arrastão que comprou na Saara, com o short que comprou no brechó, com o sutiã que comprou na loja de departamentos, e usa uma camiseta de festival de rock, por exemplo, cortada. Tem 19 anos, não sabe o que quer na vida ainda… Ao mesmo tempo, foi abandonada pela mãe, faz pole dance. É vanguardista. Uma menina que é a cara das jovens de hoje em dia, um jeito de que “tudo posso, ninguém me para! ”. Eu sinto que é a roupa que vai passar o dia inteiro com aquela mochila enorme. No meio do caminho, amarra a blusa na cintura e a camisa já vira um adereço. O sutiã que estava por baixo, passa a estar por cima da camiseta. Enfim, é muita atitude.”
Outra personagem feita para causar dos pés à cabeça com seu visual é Carmem (Julia Lemmertz). Para montar o figurino dela, Natalia desenvolveu várias peças de couro em parceira com marcas do Sul do país. “Quando o Mauro falou e escreveu que ela era uma mulher que andava de moto, na mesma hora fiquei imaginando uma mulher com muito couro, com cores meio metalizadas e eu amo preto e branco. A Julia embarcou na proposta que a gente tinha. Precisava que a Carmem fosse uma mulher que usasse jaquetas de couro, calça de couro, que usasse bota… Ela não é uma mulher de vestido de linho e sandalinha. Ela é bélica. Para o cabelo, a gente se inspirou na Tilda Swinton, mas eu queria esse clima meio Berlim nela, sabe? Eu queria essa coisa meio gélida, essa pessoa fria. Eu falei: ‘Julinha, você tem coragem de raspar o cabelo aqui? Vamos descolorir o seu cabelo?’, descreve ela, que contou com a adesão total da atriz para a criação de Carmem Wollinger.
CENOGRAFIA E PRODUÇAO DE ARTE FOCADOS NA FIGURA HUMANA
A equipe de fotografia de “Quanto Mais Vida, Melhor!”, liderada por Henrique Sales, recebeu a orientação de separar imageticamente o universo dos protagonistas da novela. A ideia de criar e marcar visualmente a identidade de cada um deles está sendo executada na forma de filmar Neném (Vladimir Brichta), Paula (Giovanna Antonelli), Guilherme (Mateus Solano) e Flávia (Valentina Herszage) para explorar a composição de cores feita para cada universo criado de acordo com a personalidade de cada um.
“Primeiro, fui entendendo com o Allan (Fiterman, diretor artístico) e com o Pedro Brenelli (diretor geral) o que eles estavam apostando como a imagem dessa novela. Como a maior parte dela contempla o universo da Tijuca, e eu por ter a sorte de ter vindo do Engenho de Dentro, bebi da fonte do Walter Firmo, um gigante no registro da vida no subúrbio carioca. Nesse mergulho, dei de cara com a foto de um neném deitado sobre uma bandeira do Flamengo, que é o meu ponto de partida: ele está sobre a grama e nosso Neném é um jogador de futebol. E o Allan também nos mostrou as referências dele, de séries, filmes e fotografias que tinham características específicas que traziam cores, brilhos e muita ousadia”, explica Henrique.
Além da separação das cores de cada protagonista, as cenas dos quatro evidenciam propositalmente que eles estão sempre na eminência de algo, de que a hora deles está chegando.
“A cor é sensorial, é o que indica a temperatura da atmosfera filmada, do momento em que eles vivem. E a novela fala de valorizar o que não era valorizado. A vida agora, especialmente com a pandemia, tem mais valor, e a novela reflete sobre isso e traz isso nas suas imagens”, defende ele.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino