Vai na Fé: O que garante o sucesso da novela que está movimentando a TV?
Por Flavia Cirino - 20/05/23 às 07:00
A faixa das 19h estava desacreditada e em baixa no que se refere a audiência, desde “Bom Sucesso”, de Rosane Svartann. Curiosamente, é justamente outro trabalho dela, “Vai na Fé””, que tem se encarregado de garantir a recuperação do fôlego perdido, principalmente em sua antecessora, “Cara e Coragem”.
Leia +: Rosane Svartaman ganha status de rainha da faixa das 19h
No ar desde janeiro deste ano, a trama – que muitos acreditavam que seria gospel – surpreende a cada capítulo exibido. Não por acaso, a autora já trabalha em esticar sua história, chegando a 185 capítulos.
O segredo desse sucesso? Rosane contou à reportagem de OFuxico que é apaixonada por pesquisas. E foi durante uma delas, quando avaliava a audiência de “Bom Sucesso”, que ela verificou que de cada grupo de dez espectadores, metade deles se definia como pertencente à religião evangélica.
Em conversa com a emissora, a autora, então, viabilizou a novela, com uma protagonista negra, mãe, pertencente a uma família de base neopentecostal, que se vê diante das lembranças do passado e as tentações “do mundo”.
E a garantia do êxito se estende aos personagens secundários. Ou existe quem não ame Kate Cristina, papel da estreante Clara Moneke?
Com o famoso “gosto de quero mais”, “Vai na Fé” já entrou para a história, mantendo média de 23 pontos de audiência, maior índice do horário desde 2021, superando as duas antecessoras. No último dia 15 de maio, a trama bateu seu recorde, com 26 pontos, maior índice do dia, superando o horário nobre.
Confira alguns motivos que justificam esse sucesso, repleto de drama, triângulo amoroso, humor e um texto primoroso, repleto de boas sacadas, reproduzido por elenco cuja escalação foi assertiva.
SEM HIPOCRISIA
Se houve um tempo um que a religião evangélica ganhou status pejorativo na Globo, como em “O Clone” (2001), quando a devassa Karla (Juliana Paes) se fingia de boa moça, bem como a ex-atriz pornô Soninha Catatau (Paula Burlamaqui), de “Avenida Brasil” (2012), agora o tratamento é outro.
Inserindo passagens da Bíblia no texto, de maneira coerente e interessante, Rosane Svartaman destaca não apenas o respeito, mas o reconhecimento de uma nova realidade. O IBGE prevê que em menos de dez anos, haverá mais evangélicos do que católicos, no Brasil.
REPREESENTATIVIDADE IMPORTA
Com exceção de histórias que abordavam a escravidão, “Vai na Fé” é a primeira novela da história da TV que tem 80% dos atores negros, inclusive no protagonismo, com Sheron Menezzes e Samuel de Assis.
Vale destacar que todo o elenco mostra total química e sintonia.
APOSTA NA JUVENTUDE
Jenifer (Bella Campos), Kate Cristina (Clara Moneke). Hugo (Cabelinho), Otávio (Gabriel Contente), Rafaa (Caio Manhente), Guiga (Mel Maia), Yuri (João Paulo Campos), Fred (Henrique Barreira) entre outros, têm espaço, bons diálogos e participação efetiva na história.
Nenhum personagem do núcleo jovem, da universidade ou da igreja, “aparece por aparecer”, sequer faz as vezes de figurante, como acontece em outras produções.
ENGAJAMENTO DE MILHÕES
Rosane Svartman ama o Twitter! E é na rede social que a trama bomba, principalmente n horário de exibição. Para se ter uma ideia, as menções à novela estão chegando à casa dos dois milhões e superam em dez vezes a trama anterior, “Cara e Coragem”, que trazia nomes como Taís Araújo e Paolla Oliveira.
LIBERDADE
Apesar da religião, Jenifer (Bella Campos) na melhor amiga, a desvairada e livre (Clara Moneke), seu ponto de equilíbrio.
Da mesma maneira que a patricinha Guiga (Mel Maia) se descobre apaixonada pelo humilde Yuri (João Paulo Campos), que está despertando para a bissexualidade.
E ao mesmo tempo em que um belíssimo coral um dia aparece cantando o louvor “Resposta”, de Thales Roberto, ícone gospel, a trama destaca participações de Ludmilla e a dupla Maiara & Maraísa.
VAMOS!
Lui Lorenzo é um acerto. Divertido, leve, ao mesmo tempo em que destaca diferentes formas de afeto, o papel de José Loreto consegue divertir e ao mesmo tempo emocionar, principalmente quando se entrega ao som de Lulu Santos e aos lamentos por ter sido preterido pelos pais.
MAS, TUDO TEM UM PORÉM…
O público está questionando ainda o porquê a emissora não exibiu o beijo lésbico entre Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman).
A explicação: não afastar o público evangélico, inclusive o que migrou das novelas bíblicas da Record TV, para acompanhar a trama contemporânea e secular da Globo.
Siga OFuxico no Google News e receba alertas sobre as principais notícias sobre famosos, novelas, séries, entretenimento e mais!
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino