Rosane Svartman acerta em cheio com sequência comovente de ‘Dona de Mim’
Por Flavia Cirino - 06/08/2025 - 11:35

A novela “Dona de Mim” segue conquistando o público com cenas fortes, atuações emocionantes e uma condução de roteiro que eleva a trama a outro nível. No entanto, mesmo em meio a toda a comoção causada pelo acidente de Abel (Tony Ramos), um nome se sobressai por trás das câmeras: Rosane Svartman.
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A autora, reconhecida por sua habilidade em tratar o emocional de maneira inteligente e nada apelativa, entrega um dos momentos mais sensíveis da teledramaturgia recente.
Conforme os capítulos avançam, o acidente de carro que tira Abel e Rebeca (Silvia Pfeifer) de cena não se limita a um espetáculo visual. Apesar da computação gráfica impecável — que recriou o túnel, o ônibus e o capotamento com realismo técnico impressionante —, é no silêncio que vem depois que o roteiro de Svartman encontra sua verdadeira força.
Durante dois capítulos inteiros, o paradeiro de Abel permanece um mistério. O corpo não aparece, os personagens mergulham na angústia da espera e o público, por sua vez, assiste em estado de tensão e expectativa. Mas Rosane escolhe não seguir o caminho óbvio. Em vez de revelar rapidamente o destino do personagem, ela entrega uma das cenas mais sutis e tocantes da novela.
O acerto está na delicadeza, não na explosão
Rosa, interpretada com emoção precisa por Suely Franco, protagoniza o momento mais poético da história até aqui. Ela sonha com o filho Abel. No entanto, não é um sonho qualquer. O reencontro entre mãe e filho se dá em um plano que mistura o espiritual e o emocional, conduzido com tanta delicadeza que é impossível não se emocionar.
Abel aparece sereno. Com os olhos calmos e uma ternura que contrasta com a tragédia anterior, ele pede perdão. Não por uma grande falta, mas pela sensação de não ter sido o filho ideal. Rosa, com a voz trêmula, responde: “Você foi tão além de tudo o que nós sonhamos.”
O diálogo entre eles segue numa linha tênue entre sonho e despedida. Abel agradece pelos valores recebidos, diz que tentou passá-los aos filhos, enquanto Rosa insiste: “Sempre existe uma oportunidade.” A fala, por si só, já é um manifesto do amor materno. Mas Abel responde com o que parece ser a confirmação de seu destino: ele não terá mais essa chance.
Sutileza e emoção em cena
De forma igualmente delicada, ele menciona que Rebeca “também foi embora”, revelando sutilmente que ambos perderam a vida no acidente. O roteiro evita anunciar a tragédia com palavras pesadas. Em vez disso, conduz o espectador com sensibilidade, quase como quem sussurra uma má notícia no ouvido de alguém querido.
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Antes de desaparecer, Abel beija a testa da mãe. Diz: “Eu te amo, dona Rosa”. E ouve: “Também te amo, meu menino! Você sempre será o meu menino, você sabe, não é?” Ao acordar, Rosa permanece confusa, entre o que foi sonho e o que, talvez, tenha sido uma visita real.
É nesse ponto que Rosane Svartman brilha com mais intensidade. Em vez de explorar o luto com clichês, ela oferece ao público um tipo de despedida raramente vista na TV aberta: silenciosa, espiritual, cheia de afeto e comovente sem precisar do grito.
Razões que mostram o ‘baile’ de Rosane Svartman
- Narrativa emocional com profundidade – A autora constrói relações complexas, que tocam o público por serem verossímeis e afetivas.
- Cenas de impacto com significado real – O acidente não é gratuito. Ele movimenta a trama, mas também serve de gatilho para uma discussão mais ampla sobre amor, perdão e passagem.
- Diálogos com alma e função dramática – Cada fala, mesmo curta, carrega uma carga emocional que amplia o peso das cenas. Nada soa forçado ou mecânico.
- Uso inteligente do tempo e do silêncio – Ao prolongar o mistério do paradeiro de Abel, Rosane permite que o público processe a tragédia de forma gradual, respeitosa e humana.
- Sensibilidade no sobrenatural – A cena entre mãe e filho flerta com o espiritual sem cair no misticismo exagerado. É emocional, simbólica e extremamente tocante.
Rosane Svartman não escreve novelas apenas para entreter. Ela costura dramas com poesia, transforma a dor em delicadeza e encontra beleza até nas despedidas. “Dona de Mim” mostra que, quando o roteiro é tratado como arte, a televisão atinge o seu melhor.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino

























