Show da impunidade: como Gato Preto e Bia Miranda viraram um desserviço social
Por Flavia Cirino - 25/08/2025 - 06:56

O “Fantástico”, exibido na Globo na noite de domingo, 24 de agosto, escrachou a sucessão de erros e contradições em torno do casal Gato Preto e Bia Miranda.
Na última quarta-feira, 20, o nome de Samuel Santana, o Gato Preto, voltou a ocupar manchetes após causar um acidente em São Paulo ao lado de Bia Miranda. O episódio, que poderia ter conotação de um caso isolado, ganha contornos muito mais graves quando observado dentro do histórico de condutas criminosas que os dois acumulam.
Gato Preto acaba denunciado por violência contra Bia Miranda
A cada aparição pública, o casal escancara uma realidade desconfortável: influenciadores digitais transformando a ilegalidade em conteúdo e a violência em espetáculo, com direito a audiência fiel e engajada.
O acidente que escancara um padrão
De acordo com imagens obtidas pelo “Fantástico”, Gato Preto já havia avançado sinais vermelhos mais de uma vez antes da colisão. No carro atingido estavam o comerciante Edilson Maiorano e seu filho, que sofreu fratura na mandíbula.
Gato Peto estava nu e com duas mulheres ao ser preso
O desfecho poderia ter sido ainda mais trágico, mas o comportamento do influenciador após a batida tornou a cena ainda mais reveladora. Ele deixou o local sem prestar socorro, debochou nas redes sociais da gravidade do caso e tentou naturalizar uma conduta criminosa ao afirmar: “Quem nunca tomou uma e cruzou um sinal vermelho?”.
Essa frase resume o tom de irresponsabilidade que marca sua trajetória. Não se trata de um erro isolado, mas sim de um padrão de comportamento que mistura imprudência, desrespeito e a tentativa constante de vender caos como estilo de vida.
A vitrine do crime travestida de glamour
Enquanto vítimas acumulam ferimentos e traumas, o casal continua a alimentar seguidores com ostentação de carros de luxo, vídeos em boates e declarações agressivas.
Os dois Porsches que aparecem em suas redes, por exemplo, somaram 24 multas em dois meses. Nenhum deles está em seu nome, o que levanta suspeitas de lavagem de dinheiro. Ainda assim, essa rotina de ilegalidade é apresentada nas redes como parte de um lifestyle aspiracional, e não como aquilo que realmente é: um retrato claro de irresponsabilidade criminosa.
Ao mesmo tempo, Bia Miranda alterna papéis de vítima e de cúmplice. Já relatou agressões sofridas por Gato Preto, mas também participou de brigas, incentivou violência e até gravou vídeos narrando agressões contra outras mulheres. Essa ambiguidade não reduz sua gravidade, mas reforça a normalização da violência como elemento de entretenimento.
O papel das redes na perpetuação do caos
Aqui surge uma questão central: por que figuras com histórico tão grave seguem ocupando espaço privilegiado nas redes sociais? A resposta está no modelo de negócios dessas plataformas, que prioriza engajamento acima de qualquer outro critério.
Quanto maior o escândalo, mais cliques. Quanto mais polêmica, mais alcance. Nesse cenário, Gato Preto e Bia Miranda se tornam personagens de um reality distorcido, em que a audiência cresce à medida que novas agressões, infrações e investigações aparecem.
Relembre a prisão de Gato Preto
Esse ciclo produz um efeito devastador: seguidores, especialmente jovens, passam a enxergar infrações de trânsito, violência de gênero e envolvimento com atividades criminosas como situações banais ou até aspiracionais.
O que deveria ser exemplo de alerta se transforma em espetáculo digital, sustentado por algoritmos que premiam justamente quem gera mais controvérsia.
Um desserviço que ultrapassa a esfera individual
Ao transformar crime em conteúdo, o casal presta um desserviço que não se limita às próprias vítimas. O impacto se espalha pela sociedade, fortalecendo a ideia de que a impunidade é regra e que a fama pode blindar comportamentos ilegais.
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A cada episódio, cresce a sensação de que não há consequências para quem ostenta poder de influência e engajamento.
Além disso, episódios como esse fragilizam debates sérios sobre violência de gênero, exploração ilegal e segurança no trânsito. Enquanto milhares de famílias convivem com dores reais causadas por imprudência e agressão, os dois usam a visibilidade para esvaziar a gravidade dessas pautas, reduzindo tudo a um espetáculo de autopromoção.
O mais alarmante é perceber que, em meio a tantas denúncias, agressões documentadas em vídeo e investigações em andamento, os dois seguem produzindo conteúdo como se nada tivesse acontecido. É a consagração da impunidade como estratégia de marketing.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino

























