Caso Klara Castanho: Hospital quebra silêncio e abre sindicância para apurar vazamento de dados

Por - 27/06/22 às 13:50

Klara Castanho de gorroReprodução Instagram @klarafgcastanho

O Hospital e Maternidade Brasil, administrado pela Rede D’Or São Luiz, local onde Klara Castanho se internou e deu à luz, fica na Região Metropolitana de São Paulo. O local informou, através de uma nota, que se solidariza totalmente com a atriz e que está com uma sindicância aberta para apurar o vazamento do prontuário com dados sigilosos do tempo em que a atriz esteve internada por lá.

Leia+: Klara Castanho: Colunista se pronuncia após matéria no ‘Fantástico’

De acordo com Klara, ainda anestesiada após um parto, fruto de um estupro sofrido por ela, uma enfermeira a ameaçou divulgar o assunto para a imprensa, falando sobre a entrega da criança para adoção.

A instituição diz, em seu texto, que seu “princípio é preservar a privacidade dos pacientes, bem como as informações de prontuário médico.”

“O Hospital e Maternidade Brasil tem como princípio preservar a privacidade de seus pacientes bem como o sigilo das informações do prontuário médico. O hospital se solidariza com a paciente e familiares e informa que abriu uma sindicância interna para a apuração desse fato”, diz o comunicado.

A apuração das informações de Klara e da conduta de médicos e enfermeiras relacionadas vai contar com a apuração de entidades profissionais e pela própria D’Or São Luiz.

COFEN

O caso de Klara Castanho continua dando o que falar e está envolvendo até órgãos públicos. Na carta aberta, onde contou sobre o estupro que sofreu, o parto e a entrega do bebê à adoção, a atriz contou que não sabia como a informação vazaria e chegou a citar que uma das enfermeiras chegou a falar sobre “um colunista” saber do caso.

Após isso, Klara contou que, após o parto, ainda atordoada, já começou a receber mensagens de um colunista, que ela não cita o nome.

Leia+: Klara Castanho se manifesta após falar de estupro e agradece apoio

Diante disso, o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) e o Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) publicaram cartas abertas dizendo que vão apurar se houve vazamento de dados sigilosos de Klara Castanho, algo que é considerado um crime.

Confira o comunicado do Cofen!

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) manifesta profunda solidariedade à atriz Klara Castanho, que, após ser vítima de violência sexual, teve o seu direito à privacidade violado, durante processo de entrega voluntária para adoção, conforme assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Leia+: Antônia Fontenelle se irrita com matéria do Fantástico e rasga o verbo

Diante dos fatos, o Cofen determinou a apuração da ocorrência e tomará todas as providências que lhe couber para a identificação dos responsáveis pelo vazamento de informações sigilosas pertinentes ao caso.

O princípio basilar da Enfermagem é a confiança. Portanto, o profissional de saúde que viola a privacidade do paciente em qualquer circunstância comete crime e atenta eticamente contra a profissão, conforme prevê o Art. 52 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.

Leia+: “Entrega legal” feita por Klara Castanho está disponível para todas as mulheres

Casos assim devem ser rigorosamente punidos, para que não mais se repitam. Da mesma forma, devem ser execrados comunicadores que deturpam a função social do jornalismo para destruir a vida das pessoas. Vida privada não é assunto público.

Assim como Klara, milhões de mulheres brasileiras são vítimas de violência sexual todos os anos e não encontram o acolhimento a que têm direito. São julgadas, ultrajadas e abandonadas, com sequelas para a vida toda.

Esse caso é reflexo de um problema muito mais profundo, que precisa ser enfrentado pela sociedade brasileira. Como uma força de trabalho majoritariamente feminina, a Enfermagem sente na pele o que é a violência de gênero.

De acordo com dados do próprio Ministério da Saúde, 17 mil meninas com idade inferior a 14 anos tiveram filhos em 2021, todas elas vítimas presumidas de estupro de vulnerável. Crianças que se tornaram mães, sem nenhuma noção de seus direitos.

Leia+: Luisa Sonza denuncia crime contra Klara Castanho

Que a revolta provocada pelo caso Klara Castanho sirva realmente para uma mudança verdadeira. As mulheres precisam ter os seus direitos reprodutivos respeitados e atendidos. A sociedade brasileira não pode continuar torturando mulheres como ela.

O Cofen e a Enfermagem estão com Klara e com as mulheres vítimas de violência, contra os maus profissionais e contra o machismo. Estamos com todas as mulheres.

ENTENDA O CASO

Antônia Fontenelle reagiu a uma entrevista de Leo Dias e expôs o caso de Klara, sem citar nomes.

Leia+: Lady Gaga desabafa sobre revelação de estupro

Fontenelle conta que a atriz tem 21 anos e não quis ver o filho após o nascimento: “Segundo as informações que ele [Leo Dias] têm, pediu que o hospital apagasse a entrada dela no hospital e pediu que nem queria ver o filho”.

Antônia decidiu cobrar Klara sobre o paradeiro da criança: “A coisa que mais me doeu foi: cadê essa criança?”, diz Fontenelle. Ela ainda diz que a jovem pagou cerca de R$ 50 mil para esconder a história.

“No meio disso tudo, eu não quero saber de nada, eu só quero saber cadê essa criança, para quem essa criança foi doada, se estão criando essa criança direito”, continuou.

Antônia não mostrou arrependimento e, para finalizar, mandou um recado bem direto para Klara: “Nem ouse me ligar chorando. Eu não vou dar seu nome, eu não tenho esse direito, mas não ouse me ligar chorando porque eu posso perder minha paciência e dar seu nome”.

Depois que tudo foi revelado pela própria Klara Castanho, Antônia Fontenelle e Leo Dias foram muito atacados na internet, algo que fez com que a apresentadora desativasse os comentários.

“Como eu sei que futuramente ninguém vai vir aqui pedir desculpas pelos ataques, desativei os comentários dos donos da razão. Escrevam nas paredes de vocês. Aqui não”.

Antônia Fontenelle bloqueou comentários no Instagram
Reprodução/Instagram

CARTA ABERTA

Klara Castanho surpreendeu ao fazer uma carta aberta contando que foi vítima de um estupro, algo que resultou em uma gravidez indesejada há algum tempo. Além disso, a atriz revelou que não fez o aborto e, após o parto, entregou o bebê à adoção. Vale lembrar que o nome da atriz foi Trending Topics do Twitter por conta do assunto, que só foi confirmado por ela na noite deste sábado (25).

Confira o relato de Klara Castanho, em carta aberta, na íntegra!

“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la desse maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família nem dos meus amigos.

Estava completamente sozinha. Não, eu não fiz boletim de ocorrência. Tive muita vergonha, me senti culpada. Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que tive forças para fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim.

Uma tristeza infinita que eu nunca tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido. Os fatos até aqui são suficientes para me machucar, mas eles não param por aqui. Meses depois, eu comecei a passar mal, ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser uma gastrite, uma hérnia estrangulada, um mioma. Fiz uma tomografia e, no meio dela, o exame foi interrompido às pressas”, ainda escreveu a atriz.

Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando soube. Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga. Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu. O médico não teve empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência.

E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher. Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter. Entre o momento que eu soube da gravidez e o parto se passaram poucos dias. Era demais para processar, para aceitar e tomei a atitude que eu considero mais digna e humana.

No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: ‘Imagina se tal colunista descobre essa história’. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente para me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo de processar tudo aquilo que estava vivendo, de entender, tamanha era a dor que eu estava sentindo. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber se eu estava grávida e eu falei com ele”.

Mas apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança. Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações erradas e ilações mentirosas e cruéis.

Leia+: Ex-Menudo revela estupro aos 11 anos, ao entrar no grupo

Vocês não têm noção da dor que eu sinto. Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei. A criança merece ser criada por uma família amorosa, devidamente habilitada à adoção, que não tenha as lembranças de um fato tão traumático. E ela não precisa saber que foi resultado de uma violência tão cruel. Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias.

A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho”, finalizou.

Siga OFuxico no Google News e receba alertas das principais notícias sobre famosos, novelas, séries, entretenimento e mais!

Tags:

Pioneiro no Brasil em cobertura de entretenimento, famosos, televisão e estilo de vida, em 24 anos de história OFuxico segue princípios editoriais norteados por valores que definem a prática do bom jornalismo. Especializado em assuntos do entretenimento, celebridades, televisão, novelas e séries, música, cinema, teatro e artes cênicas em geral, cultura pop, moda, estilo de vida, entre outros.