Entenda a polêmica: Claudia Leitte enfrente ação judicial por intolerância religiosa

O Ministério Público da Bahia (MP‑BA) entrou com uma ação civil pública contra a cantora Claudia Leitte, acusando‑a de discriminação e intolerância religiosa após alterações em letras de músicas tradicionalmente ligadas às religiões de matriz africana. 

A polêmica começou quando vídeos antigos de apresentações de Claudia Leitte começaram a circular em redes sociais e grupos de discussão. Neles, em versões ao vivo da música “Caranguejo”, a cantora substituiu o verso original que dizia “saudando a rainha Iemanjá” por outro que introduz o nome “Yeshua”, expressão em hebraico associada a Jesus.

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Essa modificação se tornou alvo de representação formal apresentada à Promotoria pela iyalorixá Jaciara Ribeiro e pelo Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro‑Brasileiras (Idafro). 

O que o MP‑BA alega na ação

Na ação ajuizada no dia 2 de dezembro de 2025, o MP‑BA afirma que a substituição reiterada de referências a orixás em músicas consagradas configura um ato de discriminação religiosa e violação ao patrimônio cultural protegido pela Constituição.

Os promotores da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, incluindo Lívia Maria Santana Vaz e Alan Cedraz Carneiro Santiago, sustentam que as alterações não se tratam de simples improvisos artísticos, mas reforçam uma lógica de exclusão de elementos ligados às tradições de matriz africana no contexto cultural baiano. 

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O MP pede que a Justiça:

Condene Claudia Leitte ao pagamento de R$ 2 milhões por dano moral coletivo;

Determine que esse valor seja destinado ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos ou a entidades ligadas às religiões de matriz africana;

Obrigue a cantora a fazer uma retratação pública em veículo de alcance nacional;

Proíba que ela pratique atos considerados discriminatórios em apresentações, entrevistas, produções artísticas ou redes sociais. 

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Direito autoral, cultura e símbolos religiosos

Especialistas consultados por veículos jornalísticos também chamam atenção para o aspecto do direito autoral no debate. A Lei de Direitos Autorais brasileira garante aos autores o direito de preservar a integridade de suas obras, incluindo letras de músicas. Se compositores originais não autorizarem modificações, a interpretação da obra pode ferir esse direito moral. 

Além disso, a ação ressalta que as religiões afro‑brasileiras têm reconhecimento constitucional como patrimônio cultural imaterial, o que exige proteção contra práticas que resultem em “esvaziamento simbólico” de seus elementos centrais. 

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Posicionamentos públicos e repercussões

Claudia Leitte comentou publicamente o assunto durante o Festival Virada Salvador, destacando que o racismo é uma pauta séria que merece discussão profunda e não julgamentos superficiais. Ela afirmou valorizar o respeito e a integridade, e que esses temas não devem ser julgados no “tribunal da internet”. 

Até o momento, a assessoria da cantora não divulgou uma nota oficial completa sobre a ação movida pelo MP.

Nas redes sociais, a polêmica também ecoou entre fãs e outros artistas, e reacendeu debates sobre representação cultural, liberdade artística e respeito às tradições afro‑brasileiras no meio musical.

Impacto cultural e legal

O caso envolvendo Claudia Leitte se tornou um dos maiores debates recentes no cruzamento entre cultura popular, música e intolerância religiosa no Brasil. Especialistas em direito e cultura destacam que a discussão não se limita a um único evento, mas dialoga com questões mais amplas sobre preservação de tradições culturais e respeito à diversidade religiosa no país.