Herdeiros da Família Imperial emitem nota de repúdio contra novela das 18h
Por Flavia Cirino - 28/10/21 às 10:32
Afirmando que cenas da novela “Nos Tempos do Imperador” atacam a honra de seus familiares, os herdeiros da família imperial brasileira assinaram uma nota de repúdio contra a novela exibida na Globo na faixa das 18h. Na nota publicada nas redes sociais oficiais da família que vive parte em São Paulo e em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, eles acusam que a trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão “atacar a honra de Dom Pedro II e fazer investidas mentirosas contra sua memória”.
“Atendendo ao apelo de pessoas amigas e daqueles que hoje constituem uma forte corrente monárquica, manifestamos, com justa indignação, não apenas como seus descendentes e herdeiros dinásticos, mas também como brasileiros que verdadeiramente amam sua Pátria e valorizam sua História, nosso repúdio aos ataques da TV Globo, através de sua novela ‘Nos Tempos do Imperador’, contra a honra do Imperador Dom Pedro II”, inicia a nota.
No texto, os herdeiros defendem o monarca, que na novela é vivido por Selton Melo: “Dom Pedro II foi o nosso melhor Chefe de Estado, cuja boa obra na condução dos destinos públicos do Brasil, ao longo de quase meio século de reinado pessoal, faz-se sentir até os dias de hoje. Senhor de costumes privados sabidamente ilibados, o Imperador foi também um pai de família modelar, coluna do lar, protetor suave e varonil dos seus”.
RACHADINHAS E INDIRETAS REVOLTAM OS HERDEIROS
A maior reclamação da família Orleans e Bragança é em relação aos autores Alessandro Marson e Thereza Falcão. No texto da trama, rotineiramente há indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) além de e atitudes do próprio Dom Pedro e do vilão Tonico Rocha (Alexandre Nero). Simpatizantes da direita, a Família Imperial apoia o atual governo. Entre as cenas que revoltaram os herdeiros de Dom Pedro II, estão passagens em que Tonico diz que iria praticar uma rachadinha, esquema de corrupção em que laranjas assumem cargos públicos e devolvem parte do salário ao chefe maior para que ele enriqueça ilicitamente.
“A Globo vem promovendo sistematicamente, nas últimas décadas, uma verdadeira revolução cultural, caracterizada pela desconstrução dos padrões tradicionais, a promoção da extravagância, da amoralidade e da cultura do caos, e denegrindo sistematicamente a nossa Nação”, diz a nota.
E conclui: “O maior biógrafo de Dom Pedro II é, sem dúvida alguma, o povo brasileiro, que, passados quase 130 anos de sua morte no injusto e penoso Exílio, não se esqueceu da grande respeitabilidade, da paternalidade e, sobretudo, da brasilidade de sua figura. Por isso mesmo, rejeita as investidas mentirosas contra a sua memória. Não surpreende, pois, a novela estar registrando índices de audiência fraquíssimos, para a grande consternação da emissora, conforme tem sido noticiado na imprensa”.
Publicado as redes da organização Pró Monarquia, que os representa, o texto é assinado por seis nomes: Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil e deputado federal (PSL/ SP); Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil; Dom Antonio de Orleans e Bragança; Dona Christine de Orleans e Bragança; Dom Rafael de Orleans e Bragança e Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança
Vale ressaltar que a monarquia já não existe no Brasil. A novela “Nos Tempos do Imperador” é uma obra de ficção.
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Questionada pelo OFuxico, a emissora não se pronunciou sobre sobre assunto até o fechamento desta matéria.
NOVELA CERCADA DE CRÍTICAS DESDE A ESTREIA
No último dia 26 de agosto, OFuxico fez o alerta: cenas da novela “Nos Tempos do Imperador” não estavam legais… a maneira como a trama aborda a escravidão e o racismo gerou até pedidos de desculpas por parte da autora e crescentes críticas nas redes sociais, iniciadas na estreia e que seguem frenéticas, ressaltaram vários equívocos apontados na trama. E eis que agora, oficialmente, diante de inúmeras críticas, a história terá cenas regravadas.
Com a entrada do escritor e pesquisador da cultura afro-brasileira, Nei Lopes, na equipe para dar uma consultoria, vários capítulos foram revistos. Uma das sequências que serão refeitas envolve a Princesa Isabel, que, na segunda fase da história, será vivida por Giulia Gayoso.
A trama das 18h também será avaliada em um grupo de discussão com telespectadores promovido pela Globo de forma virtual, por conta da pandemia. A ideia é fazer mais ajustes depois que sair o resultado. OFuxico já havia destacado que reuniões internas estavam sendo realizadas para tentar frear as duras críticas que resultaram em índices decrescentes de audiência.
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PRIMEIRO CAPÍTULO JÁ DISSE A QUE VEIO
Logo no primeiro capítulo, um grupo de negros escravizados identificados como Males invade uma fazenda para libertar seus pares. Na cena, homens e mulheres são dizimados pelos capitães do mato e seus capatazes. Uma mulher negra é baleada na frente do filho, golpes de capoeira são interrompidos por facada.
O negro Jorge/ Samuel (Michel Gomes) se fere nesse combate e é salvo por Pilar (Gabriela Medvedovski), moça branca de família abastada, que apesar de ser descendente do opressor, caiu imediatamente nas graças do escravizado fugitivo. Ele agradece a mocinha por ter salvado sua vida e a chamou de “anjo”. Já se sabe que eles serão um casal na novela.
Em outra cena, a Condessa de Barral (Mariana Ximenes) é recebida por negros sorridentes na lavoura ao visitar um bebê recém-nascido.
Na pele de Dom Pedro II, Selton Melo interpreta um personagem “humanizado”, que deixa até que esqueçamos que ele não aboliu os escravizados. Poderia… A visão de herói da nação que a novela vai tentar imprimir, não é real. D. Pedro II sequer estava presente à assinatura da Lei Áurea e a imagem dele é construída como em contraponto com o comportamento de Pedro I. Mas já é outra história…
CENAS ENTRE PILAR E SAMUEL FORAM O ESTOPIM
Em agosto, uma sequência causou revolta nas redes sociais. Nela, Pilar (Gariela Medvedovski) e Samuel (Michel Gomes) conversaram sobre a possibilidade de ela morar com ele na Pequena África. Em determinado momento, os dois discutiram o preconceito que ela poderia sofrer por ser branca. Uma “brilhante” aula de “racismo reverso”, que é a maneira que quem não entende de questões raciais justifica uma suposta prática de negros contra brancos.
A Pequena África, local real, localizado no Centro do Rio de Janeiro, é onde se estão as principais marcas deixadas pela história dos negros na cidade. Era o ponto de acolhimento e proteção para negros livres, ex-escravizados, e também fugitivos.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino