Preparador de elenco de ‘Verdades Secretas’ é denunciado por importunação sexual

O Ministério Público denunciou o preparador de elenco Sergio Luiz Penna por importunação sexual contra quatro mulheres, alunas de cursos de expressão artística, realizados em espaços na Barra da Tijuca e em Copacabana, nos anos de 2016 e 2019. As investigações são da 13ª DP (Ipanema), que entregou o relatório do inquérito em dezembro. No total, 18 vítimas foram até a delegacia da Zona Sul do Rio de Janeiro.

De acordo com o MP, Sergio Penna aproveitava de seu prestígio e a “necessidade de contatos corporais próprios da atividade artística” para abusar do toque em pelo menos 30 mulheres que participavam dos cursos.

O MP descreve situações em que o denunciado colocou a mão de duas alunas em seu órgão genital, apertou nádegas de outras duas e também tentava beijar mulheres que participavam das aulas. Outros casos, segundo as denúncias, ocorreram em momentos de confraternização após uma aula do curso para atrizes.

A defesa do preparador de elenco negou as acusações: “A trajetória pessoal e profissional de Sergio Penna, diretor de teatro e preparador de elenco por mais de 40 anos, se levanta como um escudo em face de tais acusações, que serão enfrentadas nos autos do processo”, afirmou o advogado João Francisco Neto.

Sergio Penna irá responder pelos crimes de estupro, violação sexual mediante fraude, assédio sexual e importunação sexual. Até o fechamento desta matéria, a Globo não havia se pronunciado sobre o assunto.

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ABUSO DO TOQUE CORPORAL

Na denúncia, a promotora Janaína Marques Corrêa Melo, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da Área Botafogo e Copacabana do Núcleo Rio de Janeiro, afirma que Sergio, durante as atividades do curso, abusava do toque corporal, como longos abraços, toques e alisamentos, e de beijos na boca ou bochechas nas mulheres, justificando sua ações na sua suposta metodologia de ensino, de maneira a obter a confiança das alunas para evitar que, em um primeiro momento, suas investidas fossem tidas como invasivas.

Nos workshops, segundo a denúncia, o preparador de elenco elogiava constantemente as qualidades das alunas, enaltecendo seus talentos, e, quando escolhia alguma para efetivamente abusar sexualmente, de algum modo, dava entender que não tinha lhe dado atenção suficiente, e, no espaço das aulas ou em festas posteriores, aproximava-se das vítimas.

No momento das investidas, o Ministério Público aponta que o preparador de elenco muitas vezes era chamado de “mestre”, se valendo da confiança obtida nas aulas e na confusão mental criada – as mulheres ficavam na dúvida se aquela forma excessiva era o jeito de ser dele ou se era um abuso.

Sendo assim, em diversas ocasiões, os atos libidinosos eram tidos como ações praticadas “sem querer” ou sem cunho sexual, tendo Sergio conseguido “satisfazer sua própria lascívia através do meio fraudulento empregado”.

18 MULHERES JÁ FORAM OUVIDAS NA DELEGACIA

Segundo o delegado Felipe Santoro, titular da 13ª DP (Ipanema), as investigações mostraram que, em outros momentos, as vítimas chegavam a perceber que havia algum tipo de maldade na investida.

“Porém, o medo de desagradar o professor e a vontade de não ser prejudicada no meio artístico fazia com que ficassem inertes, uma vez que a notoriedade do Sérgio era utilizada, naquele momento, como uma forma de retirar a liberdade dessas mulheres”, explicou o delegado ao jornal O Globo.

Nos últimos quatro meses, o titular da 13ª DP (Ipanema) ouviu 18 mulheres que dizem ter sofrido diversas investidas de Sérgio Penna, tanto nos locais de realização dos workshops quanto em bares onde aconteciam as confraternizações pós-atividades. Nesse período, os inquéritos identificaram pelo menos 30 vítimas. A maior parte dos casos, entretanto, ocorreu antes de 2018, quando os crimes contra a liberdade sexual eram condicionados a representação por um prazo, que já acabou, tendo sido extinta a possibilidade do Estado de puni-lo.

“É importante destacar que, por ele ser uma autoridade nesse meio, com alto poder de influência, muitas das vítimas desistiram de seguir carreira por medo de serem descredibilizadas e prejudicadas. Por isso, as mulheres têm que se unir e denunciar para que os fatos sejam devidamente apurados”, disse ao jornal O Globo a advogada Luciana Terra, que representa 41 mulheres.

Em nota, o advogado João Francisco Neto, que representa Sergio Penna, informou que a trajetória pessoal e profissional de seu cliente “se levanta como um escudo em face de tais acusações, que serão enfrentadas nos autos do processo”. “Após mais de quarenta anos como diretor de teatro e preparador de elenco na cena artística de nosso País, se vê, agora, nesta altura da vida, em face de um conclave difamatório com propósitos nebulosos”, disse.

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QUEM É SÉRGIO PENNA?

Foi a experiência e o êxito como preparador de elenco oficial de Rodrigo Santoro por mais de 15 anos que fez com que Sergio Penna se tornasse o número um da Globo quando o assunto é construir personagens complexos. Por ele já passaram Camila Queiroz (“Verdades Secretas”), Grazi Massafera (“Verdades Secretas”), Bruno Gagliasso (“Dupla Identidade”), Isis Valverde (“O Canto da Sereia” e “Faroeste Caboclo”), Juliana Paes (“Gabriela”), Bruna Linzmeyer (“Amor à Vida”), Mateus Solano (“Amor à Vida”), Deborah Secco (“Bruna Surfistinha”), entre outros.

Na primeira temporada de “Verdades Secretas”, Sergio foi o responsável por introduzir todo elenco no submundo da moda. Avesso a métodos, Penna soma mais de 50 trabalhos no currículo entre filmes, séries, novelas e se destaca por criar memórias afetivas de cada papel na cabeça dos atores. Antes de começar como preparador em 2000, com o filme “Bicho de Sete Cabeças”, ele trabalhava como diretor e encenador de teatro, principalmente em São Paulo.

“Talvez uma das essências do meu trabalho seja permitir que o ator diga sem palavras, sinta sem sorrir, sem chorar. Que ele tenha um preenchimento suficiente e perceba que a figura dramática existe fora do texto verbal e fora do set. É fora de cena que vejo e percebo que o ator dominou seu ofício”, disse em entrevista publicada em 2015, quando estreou “Verdades Secretas”.

Na época, Penna chegou a ser sido citado como psicólogo pela modelo Yasmin Brunet, que estreou na novela de Walcyr Carrasco.

PREPARADOR DIFERENCIADO

Sergio Penna acredita no exercício in loco do ator, por isso o processo inclui visitas a ambientes que contribuam para a construção do papel. Juntos eles exploram a narrativa, o imaginário e ele incentiva o artista a adquirir um novo eu.

Em 2008, quando Rodrigo Santoro interpretou Raúl Castro no longa “Che”, o ator e o preparador passaram 20 dias em Cuba viajando de teco-teco, cavalo e se hospedaram em cabanas, uma inclusive, onde Raúl e Fidel ficaram na época da Revolução Cubana (1953-59). O processo é muito significativo e envolve descobertas, pesquisas e solidão, de acordo com o profissional. Para o filme “Heleno”, eles ensaiavam à noite, embaixo de chuva e Rodrigo ficou uma semana no hotel Copacabana Palace, na Zona sul do Rio de Janeiro, vivendo como o jogador de futebol. Para o papel de Jesus Cristo em “Ben Hur” (2016), Rodrigo leu a Bíblia, assistiu diversos filmes e conviveu com estudiosos e teólogos.

“Passei três dias com a Juliana [Paes] no sertão para gente entender a gênesis de Jorge Amado [escritor]. A Gabriela além de ser bonita, subir no telhado e ter um corpo escultural, era uma retirante nordestina que chegava naquele porto de Ilhéus (Bahia) e poderia ter sido uma escrava, era necessário entender isso”, contou Penna, que ainda visitou bordéis da região com outras atrizes da minissérie “Gabriela”.

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