Wagner Moura sobre Bolsonaro: ‘Personagem conectado ao esgoto’
Por Redação - 23/10/21 às 10:45
Na próxima segunda-feira, 25 de outubro, o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, embarca em uma turnê de pré estreias pelo País. O longa era para ter sido lançado há dois anos, mas a pandemia e uma confusão envolvendo a Ancine (Agência Nacional de Cinema) atrapalharam o lançamento.
De acordo com Moura, o filme foi censurado por se tratar de uma biografia de Carlos Marighella, guerrilheiro comunista que lutou contra a ditadura militar.
“Eu tenho uma visão muito clara sobre isso e não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. As negativas da Ancine para o lançamento e, depois, o arquivamento dos nossos pedidos não têm explicação. E isso veio em uma época em que o Bolsonaro falava publicamente sobre filtragem na agência, que filmes como ‘Bruna Surfistinha’ eram inadmissíveis, que não ia dar dinheiro para financiar filmes LGBT. Foi bem nessa época que os nossos pedidos de lançamento foram negados e, logo na sequência, os próprios filhos do Bolsonaro foram às redes sociais comemorar a negativa da Ancine. É triste que um filme que tenha sido feito em 2017 até hoje não tenha estreado? É triste. Porém, hoje em dia, já está muito mais claro para os brasileiros a tragédia que é o governo Bolsonaro do que talvez em 2019, quando tentamos lançar ‘Marighella’ pela primeira vez. Talvez, hoje, haja uma maior compreensão de que isso é um produto cultural brasileiro, que o fato de ser proibido, censurado, atacado pelo governo é um absurdo”, disse ele em uma conversa com a Folha.
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O diretor ainda afirmou que a resistência ao filme é um retrato dos tempos atuais e de um governo que ataca a cultura.
“Qualquer obra é a conjunção do que um realizador pensa e projeta com o tempo em que aquela obra é vista. A polêmica de ‘Marighella’ é muito menos sobre o Carlos Marighella e a luta armada do que sobre o governo Bolsonaro. É um filme sobre um personagem histórico, de seu tempo; Bolsonaro que é um personagem anacrônico”, afirmou.
CENSURA
Wagner Moura fez questão de ressaltar que ainda existe censura no Brasil. “Não é censura como foi na época da ditadura, de que não vai passar e pronto, mas é uma censura que inviabiliza o lançamento de filmes por uma via burocrática. É triste, é só triste. Eu não tenho raiva, só tristeza. O que acontece é que a arte e a cultura são, por excelência, independentemente de como se posicionam os artistas, inimigas do fascismo. Se você vai buscar na história, todos os regimes fascistas começam por atacar artistas”, afirmou.
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GOVERNO BOLSONARO
O artista nunca escondeu a sua insatisfação com o governo de Jair Bolsonaro e fez questão de deixar isso ainda mais claro.
“Eu costumo dizer que a vitória do Bolsonaro nas eleições foi trágica, mas pedagógica. Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que o Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade. O favor que o Bolsonaro nos fez foi revelar esse outro Brasil, que estava camuflado, foi nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota. O Brasil é um país que nem é mais uma piada internacional. Quando os estrangeiros vêm falar com a gente, eles falam com pena. Agora nós temos que enfrentar isso”.
Wagner também comentou sobre o fato de Mário Frias ter aceitado fazer parte da Secretaria Especial de Cultura. “Qualquer pessoa que aceite fazer parte desse governo já é, por excelência, anticultura, anti-direitos humanos, anti-meio ambiente, antiprogressismo. Você olha para qualquer um deles e vê que são pessoas medíocres, recalcadas”, disse.
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ELEIÇÕES
Para concluir, Wagner Moura confirmou que se as eleições acontecessem hoje, ele votaria no Lula. “Eu acho que o que está em jogo, hoje, é a democracia em si. O retrocesso foi tão grande que nós temos que olhar para a saúde da democracia, independentemente de quem seja o próximo presidente do Brasil. A gente tem que derrotar esse atraso. Okay, olhamos para isso e não gostamos. Foi um encontro com as nossas raízes mais profundas, mas aprendamos com isso. Se a eleição fosse hoje, eu votaria no Lula. Eu reconheço ele, talvez, como o presidente mais importante da história do Brasil”, disse.
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