‘Ainda sinto os efeitos da tempestade’ reflete Karol Conká após ‘BBB21’

Por - 02/07/21 às 14:33

Karol Conka semblante sereno e cabelo soltoDivulgação/Lara Pinho

Karol Conká construiu uma carreira, mas enfrentou muito preconceito e machismo pelo caminho, mesmo assim, ela não desistiu e seguiu na luta para conquistar o seu espaço. Com a fama alcançada e todo prestígio da classe artística, no início do ano ela participou do ‘Big Brother Brasil’ e protagonizou um dos piores momentos de sua vida. Hoje, a cantora de rap deu a volta por cima, e mostra a força da mulher preta, mesmo depois de um dilúvio.

 “Na hora da ira, a gente perde a postura”, disse ela em entrevista exclusiva ao OFuxico.

Uma nova chance

Reconhecendo os próprios erros, a ex-bbb tem consciência dos fatos, e falou como encarou essa redescoberta. 

“Não me arrependo de ter participado do ‘BBB’. É uma oportunidade incrível. Eu me arrependo de não ter cuidado de mim antes de me aventurar num confinamento com muita pressão, longe da minha rotina, dos hábitos que me mantém centrada… Na hora da ira, a gente perde a postura, o equilíbrio das emoções. No meu caso, eu já não via graça em nada, meu lado bom ficou escondido embaixo de uma carapaça mau humorada. Eu sinto muito por tudo e hoje enxergo essa experiência como uma grande oportunidade de reflexão sobre como lidamos com situações desafiadoras e o quanto cobramos dos outros o equilíbrio que muitas vezes não temos em nós mesmos”.

“Quando ouvi a música ‘Dilúvio’ novamente, depois da minha saída do ‘BBB’, fiquei com a sensação de que a canção falava sobre a experiência turbulenta que vivi. Escrevi essa música em 2020, por estar muito triste com a situação de pandemia no mundo. Eu fiz pequenas alterações na composição para que ela se encaixasse ainda mais com o meu momento. Escolhi lançar essa faixa porque, pra mim, não havia sentido cantar nada que fosse além da verdade dos meus sentimentos. Eu consigo respirar aliviada por ter capacidade de reconhecer cada luta e cada tombo como um convite à renovação e reflexão sobre os próximos passos. Eu ainda sinto os efeitos da tempestade que passou, e sigo respirando aprendizado com muita disposição”.

Sobre corresponder às expectativas dos outros, Karol falou abertamente sobre o assunto. “Nós temos a tendência de criarmos expectativas demais em tudo e cobramos demais uns dos outros. É natural que as nossas atitudes sejam julgadas, ainda mais numa área de grande exposição. Eu me sinto liberta quando trabalho na aceitação dos meus defeitos e qualidades, tendo a oportunidade de amadurecimento”, disse.

É natural que as nossas atitudes sejam julgadas, ainda mais numa área de grande exposição”, afirmou

Nova fase artística

Foi a partir dessa experiência que nasceu um novo projeto ‘Vem K’ e também a retomada artística com o lançamento de ‘Mal Nenhum’. 

“O ‘Vem K’ é um programa autoral no meu IGVT, que traz algumas curiosidades e conteúdos que tenham a ver com o meu cotidiano. Há alguns meses reconheci que nunca tinha vivido a experiência de tratar as minhas dores e traumas em sessões de terapia, esse tema ainda era um tabu pra mim. Eu comecei uma jornada de autoconhecimento e reparação dos meus hábitos com a ajuda de profissionais da área de saúde mental. Sinto que muitas pessoas têm as mesmas dúvidas que eu e procuram respostas”, explicou Karol que se aliou à Suba, numa parceria para abordar temas com profissionais da área. “Eu fico feliz em compartilhar minhas descobertas e contribuir trazendo informação sobre saúde mental”. 

E seguiu dizendo: “O meu último lançamento, ‘Mal Nenhum’, foi produzido por RDD e traz uma batida envolvente. Nele falo sobre o cuidado que devemos tomar para não cair nas armadilhas da vida, sobre a tentativa de se manter em equilíbrio em meio aos caos. O clipe foi dirigido por Premier King que soube traduzir no visual o que a letra traz”. 

Rap, feminismo e preconceito

Karol faz parte de um cenário musical, onde poucas mulheres têm a oportunidade de chegar, mas ela soube lidar com as diferenças dentro do movimento, e contou como enxerga esse cenário daqui há 10 anos.

“Há 10 anos me fizeram essa mesma pergunta. Hoje eu vejo que o que eu desejava para o cenário musical feminino, de fato, começou a acontecer. Mas reconheço que ainda falta muita coisa para ser discutida e entendida. Eu gosto de imaginar um cenário democrático, como espaço para todas, muita coragem, respeito e meios que contribuam para a profissionalização e bom desempenho das nossas artistas”.

“Eu escolhi o rap por identificação e, quando percebi que era um meio machista e muito difícil de dialogar, criei as minhas cascas de proteção pessoal para conseguir ser levada à sério. Eu sabia que se fosse depender da opinião e achismos masculinos, não estaria onde estou. Eram muitas limitações impostas, então, decidi fazer do meu jeito, para quem quisesse ouvir, para quem se identificasse comigo e com os meus sentimentos, e percebi que não estava sozinha, que aos poucos eu provaria que a minha arte também é digna de respeito. Sou muito grata por transformar as minhas vivências em poesias e melodias”.

“Eu escolhi o rap por identificação”, pontuou Conká

“O feminismo negro é uma maneira de mostrar que existem mulheres negras pensando na sociedade como um todo, e nas diferentes identidades que existem nos movimentos. Muitas pautas acabam girando em torno de uma realidade direcionada a uma classe, ignorando as diferentes vertentes e as diferentes realidades existentes na sociedade. Eu indico os livros da filósofa Djamila Ribeiro, e suas sugestões de leitura”, refletiu.

Pandemia 

Isolada, a cantora de rap contou como tem desacelerado e aproveitado o tempo para ficar com a família. 

“Eu senti que as coisas se aceleram de uma forma diferente, e o tempo com a minha família é sempre muito prazeroso. Eu consigo planejar os meus dias para focar no meu trabalho, separo momentos de atividades divertidas com o meu filho, a minha mãe e o meu irmão. Eu levo o isolamento muito a sério. Eu tenho buscado melhorar em temas que tenho interesse, combino vídeo chamada com amigas, chamo a família pra maratonar séries, faço karaokê, estudo inglês, busco me informar e tomo o cuidado necessário para manter a segurança da minha família, e todos que me cercam” concluiu.

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