De Poliana Moça a Pantanal: A importância da mulher preta na televisão

Por - 25/09/22 às 07:00 - Última Atualização: 24 setembro 2022

Mulheres negras na televisãoZuleica, Martha e Clarice são mulheres negras empoderadas em Pantanal e Cara e Cara e Coragem. Foto: Globo/ João Miguel Junior, João Cotta e Victor Pollak

Na quinta-feira, 22 de setembro, chegou aos cinemas o longa “A Mulher Rei”, protagonizado por Viola Davis e maioria do elenco formado por mulheres pretas.  Mas, e na televisão? Como isso funciona? Nas novelas que estão no ar atualmente, a representatividade aparece às vezes de maneiras sutis, outras escancaradas.

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Ressalto, porém, que apenas a fala de mulheres pretas aparece ao longo da matéria, dando protagonismo às personagens.

Viola Davis esteve no Brasil ao longo da última semana para divulgar a estreia de “A Mulher Rei”, filme que conta a história de um exército de mulheres negras. Elas lutam numa guerra no antigo Reino de Daomé, onde hoje é o Bemim, na África. O longa tem referências à história das Amazonas da região.

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Enquanto isso, no Brasil, “Cara e Coragem”, da TV Globo, trouxe grandes personagens em posição de poder, como Clarice (Taís Araujo), Martha (Claudia Di Moura) e Margareth (Ariana Souza). E não para por aí! Zuleica em Pantanal, Gleyce em Poliana Moça… e a lista segue.

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LUTAS DAS MULHERES PRETAS DO BRASIL

Aline Borges como Zuleica em Pantanal
Aline Borges interpreta Zuleica em “Pantanal”. Foto: Globo/João Miguel Junior

Zuleica, personagem de Aline Borges em “Pantanal”, Globo, é outro exemplo. Ela interpreta uma mulher negra, chefe de sua família, que cria os três filhos com o pai ausente, Tenório (Murilo Benício).

Como se não bastasse, a personagem passa por humilhações do vilão e acaba caindo num cenário de violência psicológica e submissão. E apesar de tudo, não perde suas raízes fortes, de luta e coragem. Diferente da novela das sete, onde Clarice e Margareth já estão em posição de poder, o futuro triunfante de Zuleica é de uma reviravolta e tanto.

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Em outro sentido, Maria Gal traz outro ponto para essa sopa de representatividade. No ar em “Poliana Moça”, SBT, ela leva para as crianças da audiência a imagem de uma mulher que luta para mudar o mundo ao seu redor. Num mundo em que pessoas negras são vinculadas a pobreza e criminalidade, isso é uma necessidade.

Agora, OFuxico reúne conversas com essas atrizes, para destacar a importância das personagens e como uma mulher negra na televisão influencia positivamente a vida da maioria da população brasileira: pessoas pretas e pardas.

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Recentemente, Aline Borges deu um rumo para a história de Zuleica em “Pantanal”. Ela ressaltou as lutas da personagem, as questões que a esposa de Tenório enfrenta e como uma superação digna desses problemas são importantes.

Na reta final da trama, Zuleica, que trabalhava como auxiliar de enfermagem, faz planos de retomar a faculdade. Ainda presa no Pantanal, os sonhos de voltar à vida independente na cidade grande não ficaram para trás. E vão voltar com tudo.

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Para Aline, o final de Zuleica é digno de “rainha”, após um renascimento:

Ela vai renascer. O autor está reservando um final brilhante pra Zuleica, um final digno de todas as mulheres pretas desse Brasil. O que posso dizer é que essa mulher vai terminar como rainha.”

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Em “Poliana Moça”, SBT, Maria Gal dá vida a Gleyce. Na primeira fase, sua personagem se depara com a desigualdade social do nosso país. Mãe de Jefferson e Kessya, ela luta para dar mais condições de vida aos filhos e insiste para que estudem.

Na segunda fase, volta à comunidade onde morava, agora como uma líder social. Gleyce busca mudar a vida das outras pessoas que vivem por lá no papel de agente de transformação através da Instituição CLL.

Maria Gal interpreta Gleyce em Poliana Moça, no SBT
Maria Gal interpreta Gleyce em Poliana Moça, no SBT. Foto: Divulgação

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Em conversa com OFuxico, a atriz reflete a respeito de representatividade. Contudo, enfatiza que a desigualdade é gigantesca. Ela lembra que apesar de maioria da população do país, as famílias negras não têm o mesmo espaço nas telas.

Podemos observar um pequeno aumento, mas não é nem um décimo do que deveria ser. Afinal, 56% da população brasileira é de pessoas negras e as mulheres negras são o maior bloco populacional. Vemos sim um aumento, mas ainda é muito longe do que deveria ser!”

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RAÍZES

Viola Davis interpreta Nanisca em A Mulher Rei. Foto: Reprodução/Youtube

Em entrevista ao “Fantástico”, Globo, Viola Davis falou sobre Nanisca, protagonista de “A Mulher Rei”. A estrela de Hollywood interpreta a líder de um exército de Amazonas na produção. Filmado na África do Sul, ela comenta os bastidores:

“Foi bom estar na África […]. Toda vez que vou à África, sinto que estou indo para casa. Não tenho aquela sensação de sempre ter que me explicar para alguém”.

Além da viagem, a conversa abordou o tráfico de pessoas escravizadas para o Brasil e os Estados Unidos. De acordo com Viola, o sentimento de distância não passa de um “porto” entre um país e outro. No final das contas, são todos povos de uma mesma origem.

Mas, o que Hollywood tem a ver com as produções da Globo e do SBT? Tudo. É importante abrir espaço para que mulheres negras possam chegar ao centro da sociedade. Após três séculos de exclusão, escravidão e submissão, esse tipo de retratação não deveria sequer ser um debate.

Escravizadas por mais de 300 anos no Brasil e nos Estados Unidos, é preciso reparar os danos causados por tanto tempo. Dar voz, espaço e poder a figuras tão importantes não é caridade, mas obrigação. E, além disso, nos leva à superação de uma cultura tão ultrapassada de ódio. Só estranhamos o que não conhecemos.

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