Record mostra hospital comparado a campo de concentração
Por Andreia Takano - 12/08/24 às 21:00
Um lugar construído para tratar doenças psiquiátricas. Mas que teve seu propósito totalmente desfigurado por quase um século. Entre 1903 e 1994, o Hospital Colônia de Barbacena (MG) misturava pacientes com transtornos mentais comprovados com pessoas que não tinham qualquer distúrbio, consideradas loucas por preconceito ou conveniência.
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Estima-se que 60 mil brasileiros tenham sido mortos dentro dos muros do sanatório. Os que sobreviveram sofreram com a violência e os tratamentos agressivos com eletrochoques. O documentário inédito “Hospital Colônia: Insanidade, Tortura e Morte”, que a RECORD exibe na segunda-feira (12/08), denuncia as atrocidades que aconteceram na instituição, que foi comparada aos campos de concentração nazistas.
A equipe do documentário foi até Barbacena e teve acesso exclusivo aos livros de registros do Hospital Colônia. Os documentos mostram que não havia explicação médica para muitas internações. “Era o lugar das pessoas que a sociedade queria limpar. Muitas não tinham, de fato, um transtorno mental,” relata a coordenadora das Residências Terapêuticas, Thais Barbosa.
Entre as principais vítimas, estavam mulheres submetidas a estupros e violência sexual. As gestações eram consideradas um problema no Hospital Colônia. A solução encontrada pela direção do sanatório seguia a mesma crueldade de qualquer tratamento realizado lá dentro: as crianças eram doadas para estranhos. Foi o caso da ex-interna Geralda Siqueira, que teve o filho, João, lá dentro.
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“Um dia, cheguei para visitar o João no domingo. Aí ela (funcionária do Hospital) virou e falou assim: ‘Ó, o João não está aqui mais, não.’ Eu virei e falei com ela assim: ‘Mas a senhora tinha que ter me avisado. Eu não passei autoridade nenhuma, já vim para cá sem autoridade nenhuma. Agora, perdi o filho também, sem autoridade nenhuma’,” conta Geralda.
O historiador Edson Brandão explica como era o processo: “As adoções eram feitas ali de forma quase que clandestina. Eventualmente, um funcionário ou um casal de funcionários, vendo o drama de uma paciente grávida e logo depois tendo uma criança, já, automaticamente, se candidatavam a levar essa criança”.
O tempo, geralmente apontado como o melhor remédio para tudo, nunca foi capaz de apagar as barbáries do Hospital Colônia. “Eles molhavam com álcool, ‘tacavam’ choque e a gente ficava tremendo o corpo”, descreve o ex-paciente Antônio Silva.
Mas, com o passar dos anos, foi possível recolocar no caminho de alguns pacientes o último resquício de amor que existia na vida deles. Com a ajuda dos pais adotivos, a biomédica Raíssa Oliveira investigou por conta própria quem era sua mãe biológica, Rosalina Cassimiro, ex-paciente do Colônia. E não desistiu até encontrá-la. “Foram tantos eletrochoques que ela levou, que perdeu a consciência de tudo. Ficou lá anos e anos, naquele ambiente terrível. Injustamente, desde criança. É triste para todo mundo, não só pela Rosalina, que é minha mãe. Mas para todas as mulheres que tiveram seus filhos tirados delas. Não puderam crescer com os filhos, ter um aniversário com os filhos”, lamenta Raíssa.
A equipe do documentário também confronta os responsáveis pela administração pública nos anos mais difíceis do Hospital Colônia. E denuncia o “chá da meia-noite”: relatos sobre a prática de eutanásia de pacientes no sanatório.
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O documentário “Hospital Colônia: Insanidade, Tortura e Morte” vai ao ar na Record nesta segunda-feira, 12 de agosto, às 22h45.