Mangueira resgata ancestralidade em enredo arrebatador

Por - 03/03/25 - Última Atualização: 2 março 2025

Mangueira 2025Componentes da Mangueira - foto: JM Arruda

A Estação Primeira de Mangueira levará à Marquês de Sapucaí em 2025 um enredo carregado de história e principalmente representatividade. “À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões” exaltará a herança dos povos bantus, originários da região de Angola, que sobretudo marcaram profundamente a identidade cultural, social e religiosa do Rio de Janeiro.

A narrativa da escola, desse modo, atravessa séculos e destaca a chegada dos bantus pelo Cais do Valongo. “Aproximadamente 80% dos escravizados que desembarcaram no cais eram de origem bantu. Isso influencia não apenas a cultura brasileira, mas a construção sociocultural da cidade do Rio de Janeiro. Principalmente o idioma, diretamente afetado pela cultura bantu, com palavras como ‘xodó’ e ‘quitanda’”, ressaltou o carnavalesco Sidnei França.

Resistência, identidade e celebração da Mangueira

Além de um espetáculo grandioso, a escola reforça acima de tudo seu papel na preservação da memória e no fortalecimento das raízes africanas.

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“Mangueira não é só uma escola de samba, é uma escola pra vida, acima de tudo uma escola que acolhe”, emociona-se um integrante.

Com um enredo que une história, tradição bem como luta, a verde e rosa promete um desfile marcante, onde a ancestralidade será a grande protagonista. Assim sendo, a alma bantu ecoará em cada toque de tambor, transformando a Sapucaí em um palco de resistência e orgulho negro.

Confira o samba-enredo

Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue (bis)
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba (bis)

Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela

Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena

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Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi

Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou

Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente

Meu som, por você criticado
Sempre censurado pela burguesia
Tomou a cidade de assalto
E hoje, no asfalto
A moda é ser cria
Quer imitar meu riscado
Descolorir o cabelo
Bater cabeça no meu terreiro

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino

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