Com enredo fraco, “Desencantada” é apenas carismático

Por - 24/11/22 às 08:00 - Última Atualização: 23 novembro 2022

DesencantadaPôster oficial de Desencantada (Reprodução/Divulgação)

Lá em 2007, a Disney teve uma ideia totalmente “Encantada”: Juntar todas as princesas e todas as histórias clássicas em uma só. Assim nasceu Gisele (Amy Adams), uma princesa toda atrapalhada, porém, com seu senso de “felizes para sempre” sempre atenta. Vítima da Rainha Narissa (Susan Sarandon), ela se vê presa no “reino de New York”. Durante todo o filme ela tenta trazer a magia de Andalasia para sua vida, e voltar para seu reino. Mas, no final, o amor por Robert (Patrick Dempsey) a faz ficar, trocando de lugar com Nancy ( Idina Menzel), que se torna rainha do reino, ao lado de Edward (James Marsden).

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Agora, em 2022, a Disney apostou em trazer de volta os personagens clássicos para a sequência do filme, após 15 anos. “Desencantada” chegou direto no Disney+, e agora conta a história da nova vida de Gisele com sua família, que aumentou com a chegada da filha, e ela tem que lidar com a adolescência de Morgan ( Gabriela Baldacchino), e com o sentimento de infelicidade que um reino sem magia traz.

O enredo tem seus pontos interessantes, como uma varinha mágica que realiza todo tipo de desejo, mas também tem um aproveitamento menor de alguns personagens, trazendo aquela sensação de que estão ali apenas para tapar um buraco.

A HISTÓRIA

A filha de Gisele e Robert recebe a varinha de Andalasia, que deve ser usada apenas por algum descendente do reino. Em diversos momentos somos apresentados a uma Gisele desesperada para trazer a felicidade para o mundo de sua família. Eles então se mudam de NY para Monroeville, uma vila que, supostamente, iria trazer felicidade e alegria.

Mas, não é bem assim que as coisas acontecem. Após uma discussão com Morgan, a princesa resolve fazer um pedido: Ter uma vida de contos de fadas. O que ela não esperava é que isso a transformaria em uma espécie de Madrasta. Seu principal contraponto é Malvina Monroe (Maya Rudolph), que ao ser tocada pela magia, se transforma em uma Rainha Má. Morgan se torna a “Encantada” da vez, com toques de Bela, Branca de Neve, Ariel e Cinderela.

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Claro, Peep, o esquilo, está de volta, e desta vez, a magia o transforma em um gato malvado. Talvez um dos pontos principais que se destacam aqui, ao lado da talentosa e maravilhosa Amy Adams, seja a metalinguagem usada. Ela nada mais é do que um filme que usa e abusa, conscientemente dos clichês de seu gênero para trazer humor, assim como Wes Craven fez em “Pânico”, revolucionando o cinema do horror.

Aqui ela é muito bem empregada: A Madrasta é fútil e tem um gato malvado, a princesa é uma gata borralheira e inocente, o príncipe é só um “backstep” para os momentos de amor do interesse amoroso. A vilã é sempre egocêntrica e cruel.

O QUE É ENCANTADO?

Para citar os pontos que mais se ressaltam em “Desencantada” podemos falar de dois grandes nomes: Amy Adams e Idina Menzel. As duas entregam e trazem Broadway para a Disney. Idina, que inclusive participou e foi consagrada nos grandes teatros e consagrou seu nome em “Wicked” como Elphaba, a Bruxa Má do Oeste de “O Mágico de Oz”. Tudo nestas duas são bem aproveitados.

As duas entregam solos incríveis, atuações impecáveis, e magia em cada fala ou momento que estão abrilhantando a tela. Inclusive, o talento de Adams é tão notável, porque ela tem uma Gisele complexa: Ao mesmo tempo que luta contra a “Evil Gisele”, ela também tem que mostrar a ambição e a perversidade desse seu lado malvado e insano.

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E claro, as duas compartilham a sabedoria de “reinos” que não conhecem: Gisele fala muito sobre Andalasia e Nancy conta e compartilha como é ser uma humana num mundo onde nem sempre o final é feliz. E aí também existe um defeito: Nem sempre essa sororidade é explorada, e só é colocada em planos menores, como aqueles diálogos para encher a linguiça.

A trilha sonora é impecável, e tão boa quanto o primeiro filme. As referências as princesas estão a todo instante em cena, e no solo de Morgan, eles são explícitos, incluindo a recriação da cena em que Ariel sobe em uma pedra e canta “Parte do seu Mundo” com a onda subindo atrás dela e quebrando logo em seguida.

NEM TUDO É FELIZ

O filme em si, ao longo de suas 2h, tem momentos que são alívios cômicos. A história acaba se perdendo, e tendo sua resolução nos últimos 15 minutos, dando a impressão de que tudo foi tão rápido que você perdeu alguma coisa. As cenas de Robert sendo heróico e bravo são divertidas, mas, nem sempre agradam, porque ele parece apenas um bobão com uma espada, e que é isto que o filme quer passar, porém, algo fica desconexo com a troca rápida de personalidade dos Roberts, um é advogado, e o outro é um cavaleiro, que está mais para um bobo da corte. E ele simplesmente some nesta sequência, aparecendo nos últimos minutos para ser um tipo de herói.

Outro grande desperdício são as sidekicks Rosaleen ( Yvete Nicole Brown) e Ruby (Jayma Mays). Como fã e conhecedor do trabalho de ambas, este repórter que vos escreve pode dizer o papel fica muito aquém do que elas são. Jayma é cômica com apenas um olhar, Yvete é uma das melhores humoristas da cena americana.

E aqui elas se tornam reles capangas atrapalhadas de Malvina, e que de fato, é um dos destaques positivos. Talvez tamanha grandiosidade das atrizes escaladas mais atrapalha, por entender que elas poderiam ter papéis e participações muito maiores, do que serem parte de uma trama cômica.

Em suma, “Desencantada” é carismático, colorido, fotograficamente impecável e com uma trilha sonora belíssima. Mas, ele falha em entregar algo coeso e sem tantos momentos em que ficasse o questionamento: Cadê a magia? Porque quando ela aparece, é apenas para dar sentido ao final de um arco. Aliás, logo no começo do filme, Peep, o esquilo, entrega o final do filme, nos primeiros 2 minutos.

Se é algo proposital, foi um belo tiro no pé, já que toda a tensão das cenas finais se torna inúteis, uma vez que o final já foi esfregado na cara do telespectador. Aqui, a Disney mostra que se apoiou exclusivamente na beleza e no talento de seu elenco, com um enredo fraquinho.

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Em formação no Jornalismo pela UMESP. Escreve sobre cultura pop, filmes, games, música, eventos e reality shows. Me encontre por aí nas redes: @eumuriloorocha