Dia Nacional do Cosplay: Bastidores, desafios e o amor pela arte
Por Raphael Araujo - 21/07/23 às 07:30
Caso você não sabia, agora sabe: no dia 21 de julho, é comemorado no Brasil o Dia Nacional do Cosplay, data criada em 2011 após uma votação iniciada pelo Cosplayer Adrian D.Oliveira, integrante grupo Melhores Cosplays do Mundo (MCM).
Visto por muitos como uma “fantasia”, um cosplay é mais que isso, a começar pelo seu significado em si: a junção das palavras, em inglês, que junta costume (fantasia) e roleplay (brincadeira ou interpretação), ou seja, fazer o cosplay de um personagem é “o ato de se vestir/se tornar ele”, e não apenas uma homenagem.
Os cosplayers são muito vistos em eventos de cultura pop, na qual os personagens escolhidos adicionam mais vivacidade e ambientação no local, deixando tudo ainda melhor. A prática começou, até onde se sabe, em 1939 na WorldCon, mas virou febre mundial no mundo ao final da década de 1970 e no Brasil começou a se popularizar em 1980, e cada vez mais vemos a profissionalização desse mundo.
MAS AFINAL, O QUE DIZEM OS COSPLAYERS?
OFuxico conversou com alguns cosplayers sobre essa arte, como foi o caso de Igor Gimenes (@gimenesigor), que aposta muito em personagens queridos do mundo literário, e para ele, “cosplay é arte, é amor, é você trazer aquele personagem a vida”.
“É levar todo seu amor por ele, para as outras pessoas, dar essa mesma alegria para elas, espalhar o amor e a história desse personagem (isso quando for algum personagem que mereça isso também né, vamos combinar). É se conectar com a obra e com os fãs da mesma forma que você gostaria de ser conectado”, garantiu ele, que está nesse meio há três anos.
“Sou cosplayer desde 2019, com meu newt totalmente improvisado e meu Capitão América que era só um protótipo na época. Eu sempre gostei de me fantasiar (desde pequeno me vestia de papai Noel porque eu o amava, ia com sino e barba pra todo lugar que qualquer época do ano), amava as épocas de Halloween em outubro porque podia me fantasiar sem ninguém falar nada, mas em 2019 tudo mudou, fiz meu primeiro cosplay no improviso usando couro sintético, eva e papel Paraná, e fui no meu primeiro evento também, que foi o Caf (Campinas Anime Fest)”, revelou.
Outro cosplayer a dar seu parecer foi Vitor Noqueli (@vitoritsme), que é namorado de Igor: “O significado de cosplay e de ser cosplayer para mim é diversão. É incrível você entrar dentro do personagem que você admira e ama, e ser reconhecido como ele. É algo muito gratificante”.
“Eu sou um cosplayer bem recente, meu primeiro cosplay de fato foi o Wiccano, que eu fiz para CCXP22. Meu primeiro contato foi aos 13 anos, descobri pesquisando coisas sobre o Wiccano (da equipe Jovens Vingadores, da Marvel) e desde então eu tive essa vontade de fazer e depois de 8 anos eu finalmente fiz”, contou ele.
Acha que tá pouco amor? Pois Priscila, mais conhecida como Tsu Keehl (@tsukeehl), que se iniciou nessa arte em 2010/2012, aproximadamente dez anos depois de seu primeiro contato com cosplayers, compartilha da mesma visão e acrescenta: “Para mim, cosplay é um hobby artístico capaz de incentivar e impulsionar aqueles que a ele aderem, a descobrirem gostos e talentos, colocar a criatividade em alta, amadurecer socialmente e, principalmente se divertir, podendo se transformar naqueles personagens que gosta e conhecer outras pessoas que compartilham dos mesmos gostos”.
ESCOLHENDO OS PERSONAGENS
Com certeza uma grande dúvida que surge é: como funciona a escolha de qual personagem ganhará cosplay? “O meu principal critério é eu me interessar pelo personagem. Se gosto do personagem pela obra a qual pertence, pela índole, pelo estilo ou uma mistura de tudo isso”, declarou Tsu.
“A admiração que eu tenho pela personagem e o que ela possa representar. Também gosto de ter coisas em comum tanto físico quanto de personalidade, assim as pessoas conseguem identificar mais”, explicou Vitor. “Eu não me sinto bem em fazer personagens que não tem meu cabelo por exemplo, usar perucas é muito difícil e esquenta muito, num nível absurdo, ainda mais quando vamos usar esses personagens pra eventos que duram metade de um dia, então sempre busco fazer personagens que não precisam de perucas”, apontou Igor.
“Personagens com roupas diferentes também me chamam a atenção, por exemplo, temos o Capitão América, que é um cosplay bastante comum na comunidade. Eu quis fazer duas versões que eu vi poucas pessoas fazendo, que é a versão dele em ‘O Primeiro Vingador”, com a roupa militar e escudo todo prateado, e a versão dele com a farda da guerra quando ele sofre o acidente no avião e é congelado no começo do filme. Essas versões mais diferentes e pouco visadas pra cosplay me chamam mais atenção porque eu gosto de ser diferente”, completou ele.
COSPLAYS FAVORITOS
E claro que cada um tem seus queridinhos: “Acho que o Wiccano e Charlie (de ‘Heartstopper’) são meus xodozinhos. E o Charlie é com certeza o favorita das pessoas”, contou Vitor. “Tenho apreço por todos os meus copslays (e são mais de 50! rs), mas acho que os que possuo maior apreço são o Levi Ackerman (de ‘Attack on Titans’), Death (de ‘Sandman’), Cruello (‘Disney Genderbend’) e Sailor Saturno (‘Sailor Moon’)”, revelou Tsu.
“Tenho 4 xodós no cosplay: o Hulkling da Marvel, que se tornou um dos meus carros-chefes esse ano depois que eu o melhorei pra levar pra eventos; o Nick Nelson de ‘Heartstopper’, que é o cosplay que mais me sinto confortável porque traz toda a minha verdade e essência; o capitão América, que é o primeiro contato que eu tive com heróis desde pequeno, mas era muito pouco difundido no Brasil na época (apenas quem era do meio Geek mesmo conhecia, porque nas animações era mais comum vermos o Batman e o Superman); e o Príncipe Henry do livro ‘Vermelho Branco e Sangue Azul’”, contou Igor.
“Esse cosplay [Henry] foi muito importante numa época da minha vida. Ele me trouxe a honra de conhecer e tirar foto com a autora do livro, a Casey McQuiston, então ele se tornou muito importante para mim também. No meu perfil no Instagram acho que o mais aclamado sempre vai ser o Capitão América, que traz bons resultados na plataforma, e o Nick Nelson que apesar de novo na mídia Geek, vem ganhando notoriedade e relevância também”, completou Gimenes.
DESAFIOS DE SER COSPLAYER
É muito legal ser cosplayer e poder acompanhar essa arte, mas claro que, assim como em todo lugar, há desafios, como por exemplo: “Sentir confiança que a roupa está de fato boa, a preocupação de algo dar errado com sua roupa/acessórios e que você está fazendo seu trabalho bem. Meu desafio como cosplayer é não ser tímido e o medo de não estar fazendo uma cara simpática quando pedem foto haha”, descreveu Vitor.
Para Igor: “Com toda certeza tirar a sua concepção do personagem do papel, da tela, ou afins, e transformar aquilo em algo pra você usar. É muito difícil você escolher um tecido que combina com o personagem porque temos uma variação enorme, seja de preços, de tipos, de ornamentos e afins, que podemos colocar na roupa pra melhorar cada vez mais”.
“Esse é o processo mais difícil, os outros é só a diversão mesmo, você atuar como o seu personagem, você conhecer ele a fundo, todos os trejeitos, as falas, a linguagem corporal, tudo vira uma grande brincadeira depois que você já está pronto”, completou ele.
“Acho que tudo depende do personagem escolhido. Há personagens que são mais simples, que não requerem tantos acessórios, com trajes mais básicos ou cujos gastos são menores. Já outros cosplays acabam por exigir gastos e trabalhos maiores pela quantidade de detalhes, tipos de acessórios, maquiagem, estilização, etc”, disse Tsu.
“Para mim, o desafio começa no momento que decido que vou fazer determinado cosplay. Começo então a pesquisar, o que vou precisar fazer ou comprar. Há sempre a ansiedade em estrear um novo cosplay, se o resultado final irá ficar bom e se vou conseguir incorporar bem o personagem, seja para fotos ou desfiles. Mesmo com o cosplay concluído e estreado, eu sempre busco aperfeiçoar um pouco cada vez que o uso, até que consiga deixá-lo do jeito que eu quero”, afirmou ela.
COMO OS COSPLAYERS AGEM ENTRE SI?
Com essa pergunta, as repostas de cada um foram bem variadas. “Até então, eu fui muito bem recepcionado e acolhido. Não posso reclamar de nada., garantiu Vitor. Igor tem uma visão contrária: “A classe cosplay é bastante desunida, quem diz o contrário não abre o olho. É bastante triste dizer isso, mas infelizmente é uma classe que tem muita competitividade, não tem aquela união que deveria ter, onde um ajuda o outro a melhorar e evoluir”.
“As pessoas estão mais preocupadas com os ganhos pessoais e tudo mais, e esquecem de ajudar, de aprender com os outros, eu sou do tipo que não tem medo não, chego perguntando pra saber de materiais, de técnicas, e tem muita gente que não gosta disso, acha que falar sobre uma técnica que usa pra costura ‘x’ vai acabar desfavorecendo a pessoa a ganhar suas encomendas pra roupas e afins, e não é bem assim né!”, continuou ele.
“Acho que o que mais precisa melhorar é a abertura das pessoas para abraçar toda a comunidade, entender que tá todo mundo no mesmo barco pra aprender e evoluir ali. Ninguém nasceu sabendo e ninguém é obrigado a investir milhões de dinheiro em um cosplay para ele ser bom!”, completou.
Já Tsu afirmou: “A cena cosplay é uma cena composta por pessoas e como tal, possui seus aspectos positivos e negativos. Vai muito da experiência individual de cada um. Muito da cena cosplay melhorou e tem melhorado gradualmente, mas ainda há muito para se melhorar. Porém, dizer no que é preciso melhorar é complexo e difícil, depende muito das escolhas e posturas de cada um”.
ALERTAS NECESSÁRIOS
Aliás, Tsu Keehl, como uma mulher no mundo cosplayer, enxerga cobranças diferentes em relação aos homens: “Principalmente para as mulheres, ainda há uma cobrança maior de parte de pessoas (principalmente ‘de fora’ da cena cosplay), de que a cosplayer precisa ter “corpo e aparência” padrão de determinado personagem, o que é uma tremenda bobagem. Além disso, há ainda posturas preconceituosas em cima de cosplayers por conta de etnia, o que é terrível e precisa ser combatido”.
Em relação à experiências pessoais relacionadas ao assunto, falou: “Estranhamente, nunca cheguei a sofrer preconceito. Mesmo eu fazendo cosplays masculinos. Porém, conheço muitas cosplayers que já foram vítimas de assédio por conta de cosplays que elas faziam. No meu caso, nunca sofri algo do tipo, acho que por conta da minha postura tanto na vida real quanto virtual”.
O QUE O FUTURO AGUARDA?
Ao fim das entrevistas, cada um contou o que anseia como cosplayer: “Meus maiores sonhos e objetivos é conseguir trabalhar mais como cosplay, ser reconhecido por esse trabalho, e claro, me divertir fazendo meus personagens favoritos (e se possível muitos casais gays)”, apontou Vitor.
Sobre spoilers de próximos cosplays, ele contou: “Acredito que ver seus personagens favoritos ganhando vida e conhecer outros personagens. E sempre ganhando algumas melhorias. […] Gosto de focar em personagem que façam parte da comunidade LGBTQIAPN+, ainda mais se for do lado do meu namorado”.
Tsu também tem muitas metas em mente: “Concluir meus projetos pendentes, continuar realizando ensaios, participando mais de concursos em eventos e conseguir, nos próximos três anos, fazer todos os cosplays que tenho em mente”.
Sobre personagens específicos, ela disse: “Bom, não posso revelar muita coisa, mas tenho projetos em andamento e projetos que em breve entrarão em andamento, de cosplays de obras clássicas e também de obras atuais. E quem sabe uma novidade nos meus cosplays masculinos”.
CONEXÃO COM O PÚBLICO
Igor foi na mesma visão do namorado e da amiga, e acrescentou sobre a conexão com o público: “Eu espero continuar levando meu amor pelos personagens para todo mundo que também os ama como eu! Quero fazer a diferença!”. Ele inclusive contou um momento bastante fofo com uma menina no Tudum, evento da Netflix, na qual ele e Vitor foram como Nick e Charlie, chegando a serem notados pelo perfil da Netflix Brasil no Twitter.
“No Tudum, conhecemos uma menininha que veio abraçando eu e o meu namorado falando que ela não pensava que ia conhecer os atores da série ali, e estava conhecendo, e a gente abraçou ela. É isso que vale a pena no cosplay, esses pequenos momentos de felicidade que provocamos nessa nova geração”, descreveu.
Inclusive, Gimenes tem uma visão mais crítica de como usar as redes sociais sendo cosplayer: “Acho que tem muita gente que usa as redes sociais como vitrine, mas eu não consigo usar minhas redes apenas para me exibir. As pessoas estão ali pra interagir e conhecer a gente da melhor forma possível, e se não conseguem isso, dificilmente irão te acompanhar, a não ser que você seja famoso ou alguém de importância na mídia.
“Eu não sou uma pessoa famosa e nem tenho relevância na mídia, então por que vou ser esnobe no meu Instagram? Quem gostar do meu conteúdo vai me acompanhar e indicar para amigos que gostariam também, e eu acho que esse é o intuito da rede, se chegarmos ao momento de conseguir contratos com empresas depois disso é lucro, estamos ali para mostrar nossa arte e levar ela para o máximo de pessoas que pudermos, pelo menos eu penso assim”, declarou.
Sobre seus próximos cosplays, Igor foi enigmático: “Muita realeza britânica, mergulhar no fundo do mar e conhecer talvez uma certa bruxa aí num trio icônico. Se tudo der certo virão mais heróis também, e muitos, muitos personagens literários! Ah e claramente vão ter um gostinho de genderbend (quando trocamos o sexo do personagem para fazer cosplay, tipo fazer um príncipe inspirado numa princesa) de alguns personagens da Disney também!”
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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.