Xuxa e Balão Mágico: Documentários trazem nostalgia, mas sobram tretas
Por Flavia Cirino - 19/07/23 às 08:00
Bom estar com você nesse lindo balão azul! Se você tem mais de 40 anos ou se é um daqueles aficionados por “antiguidades da TV”, entendeu o trocadilho… mas para quem não captou a mensagem, estamos falando de Xuxa e A Turma do Balão Mágico.
Tanto a loira quanto o quarteto formado por Simony, Jairzinho, Toby e Mike, eram fenômenos dos anos 1980. Eles revolucionaram o mercado fonográfico, levando o segmento infantil a bater recordes de vendagem de discos inimagináveis.
Com a estreia os respectivos documentários – “Xuxa, O Documentário”, disponível no Globoplay e “A Superfantástica História do Balão”, na Star +, trazem de volta não apenas a nostalgia da época através das respectivos trajetórias de sucesso.
As produções também apontam para bastidores intrigantes, recheados de revelações e espanto para o púbico, destacando ainda uma gritante diferença de olhar das plataformas nas quais cada um é disponibilizado.
PEGA CARONA NESSA CAUDA…
Sob direção de Tatiana Issa e Guto Barra, “A Superfantástica História do Balão” traz entrevistas inéditas de Simony, Tob, Mike e Jairzinho (que há tempos deixou esse nome artístico pra trás, assumindo o Jair Oliveira).
Para quem esperava um dossiê da história de fato, com curiosidades sobre a escalada de sucesso, e coisa e tal, o balde de água fria vem com força. Em linhas gerais, trata-se de uma bela lavagem de roupa suja, bem ao estilo “final de reality show”.
Até tem sim, uma ou outra história inédita do auge do grupo. Mas é o declínio do quarteto infantil que se destaca. Dá até pra gente entender o porquê Simony ficou pistola com o resultado final…
- A cantora tinha apenas cinco anos na época em que conheceu a fama;
- Ela contou após o lançamento, que familiares a blindaram dos bastidores nebulosos;
- Simony era a líder do Balão e carregava” o peso da responsabilidade.
“Confesso que muitas falas me decepcionaram, que pessoas foram esc***as. Depoimentos de pessoas que nunca conviveram comigo. Esse diretor que até então eu tinha o maior carinho, porque minha mãe me blindou das coisas horríveis que ele nos fez…”, confessou a cantora após o lançamento.
Infelizmente meus tios e meu avô não estão mais aqui para se defender. Eu peço desculpa a vocês, não sabia que de uma história tão linda fariam isso”.
E não é só ela. Antes mesmo de a plataforma de streaming liberar o conteúdo, o filho do saudoso Jair Rodrigues também reagiu negativamente, já na divulgação do trailer.
TRETA ATRÁS DE TRETA, ATÉ O BALÃO APAGAR…
Em três episódios, o documentário traz revelações chocantes sobre o grupo infantil, envolvendo drogas, sexo e exploração. Mike, o mais novo, contou que não tinha muitos amigos na época e gostava de sair com os amigos do pai, o criminoso internacional Ronald Biggs. Por conta disso ele, ainda na fase do Balão, chegou a abusar da combinação explosiva “álcool, maconha e sexo”.
Além disso, a série trouxe à tona a divergência de salários entre os integrantes. Mike relatou a exploração depois da mudança de empresário, com muitos shows no mesmo dia e mais de 12 horas de gravação na televisão. Já Simony disse que não se lembra de ser explorada.
Os outros três integrantes também afirmaram que ela recebia mais do que eles, mas a cantora não comentou sobre o assunto.
Tob contou ainda uma briga que teve Fofão, um misto de cachorro e urso interpretado pelo saudoso Orival Pessini: “Não acertava o texto, e repete, repete. Ele estava de máscara, que esquentava, estava suando dentro. Chegou uma hora que ele pegou a máscara, jogou no chão e saiu andando. Aquele dia foi chato. Eu me senti mal.”
Já Mike falou de suas mágoas com sarcasmo. “Houve uma época em que os shows eram caça níqueis, de apenas 40 minutos. Trabalhávamos como burros de carga”, disse.
Apesar dos “poréns”, Simony, preserva as boas lembranças. A mãe da cantora, Maricleuza Benelli, comentou: “Quase a família toda foi empregada. Ela conseguiu tirar todo mundo do circo. Ela mudou a vida de todo mundo.”
FOI BOM BRINCAR COM VOCÊ?
Com Pedro Bial na condução dos cinco episódios, liberados às quintas-feiras, “Xuxa – O Documentário” disseca a história de Maria da Graça Meneghel, muito além da Xuxa.
A apresentadora que, transformada em cantora, vendeu milhões de discos, teve reencontros difíceis com o passado. Enquanto o furdunço dá o tom do doc do Balão, o de Xuxa, no Globoplay, é disparado mais light. A “vírgula” se limita ao reencontro com Marlene Mattos, sua empresária por 19 anos.
Marlene confirmou que “não se arrepende de nada”: “Você era uma marionete na minha mão e eu usava você pra fazer outras pessoas de marionete. E é assim”, disse a empresária. E dá-lhe reações na web! Foi farpa daqui, defesa de lá, mais acusações e revelações e a ansiedade por novos episódios aumenta!
- Magno, segurança pessoal da loira desde o auge do “Xou”, contou que Marlene Mattos a trancava quartos de hotéis;
- A empresária saía e levava a chave, ia para a montagem do show com ela no bolso;
- Quando Xuxa queria sair, não conseguia;
- Se houvesse uma emergência, a porta era arrombada.
Inclusive, o cara-a-cara, apesar de ter aparecido em doses cavalares no episódio de estreia, fica pro último capitulo, óbvio, pra segurar definitivamente os ex-baixinhos e os curiosos de plantão. Mas nada que desabone a conduta da loira. Muito pelo contrário.
E VIVA A FESTA ERRADA DA XUXA!
Se na produção da Star + há uma desmitificação quase total da magia do Balão, na de Xuxa Meneghel, a vontade de voltar no tempo é latente, inclusive diante do reconhecimento dos muitos – mas muitos mesmo! – erros que ela, sabiamente, reconhece agora e não se priva de pedir desculpas.
Impaciência (quem ainda não conhece o clássico ‘Senta lá, Cláudia!’, por favor busque já!), gordofobia, xenofobia, tudo em meio a muita inexperiência, inconcebíveis aos tempos atuais, mas que passavam batido na época. E com louvor!
A série também resgata ex-ator Marcelo Ribeiro, que contracenou com a apresentadora no filme “Amor, Estranho Amor” (1982), de Walter Hugo Khouri, motivo de dor de cabeça – agora entendida como totalmente desnecessária.
Xuxa, à época com 17 anos, aparece nua diante do menino, então com 12. Na série, eles assistem juntos à cena que marcou para sempre a vida de ambos e selam um pedido de desculpas por uma mea-culpa sem tê-la, de fato.
“Ela estava presa numa gaiola de ouro durante um tempo e, agora, ela se libertou”, destacou Pedro Bial. “Posso dizer que observei o processo de envelhecimento de Xuxa também como o de sua libertação; de ter se tornado uma mulher com todos os atributos que ela sempre teve, mas sem regulação, sem ninguém dizendo o que ela pode ou não fazer, e hoje ela pode tudo.”
PREPARADOS?
Ao assistir aos dois documentários, vale a pena fazer uma reflexão sobre o fenômeno infantil entre os anos 1980 e 90. Época totalmente “sem filtro”, pra tudo, ressaltando as duas “marcas” que movimentaram multidões e cifras milionárias graças à entrega de quem cresceu na ocasião.
Se tiver oportunidade, assista aos dois. Não leve em consideração algo tão cobrado na era moderna, a noção. Não exista! Tudo o que queríamos era subir naquele lindo balão azul (e olha que a criançada não estava nem ai pra presença do Fábio Jr. no clipe da música) e entrar na nave, até chegar na lua de cristal. Até porque, tudo pode ser, só basta acreditar!
E pra que não entendeu esse desfecho, leia pra sua mãe, seu pai, madrinha, tia, avó e prepare pra ouvir histórias!
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino