Copa do Mundo 2022: Homossexuais estarão seguros no Catar?

Por - 17/07/22 às 10:59

Mulheres se beijando em Parada LGBTQIA+Grosby Group

Um dos maiores eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo, vai acontecer neste ano de 2022 de um modo bem diferente. Esta será a primeira edição que vai acontecer no Oriente Médio, mais precisamente no Catar, algo que, apesar da novidade, vem causando polêmica desde então.

Desde a escolha, o fato de Catar ter ganhado já havia levantado algumas “suspeitas de irregularidades”, algo que veio à tona por meio de denúncias de corrupção. Em 2019,

O jornal britânico The Sunday Times publicou a informação de que o Catar pagou US$ 880 milhões (R$ 3,4 bilhões, na época) para ser o país sede da Copa do Mundo de 2022 o que seria o mais novo escândalo de corrupção envolvendo a Fifa. O caso teria acontecido em 2010, quando Joseph Blatter ainda era presidente da entidade. A TV Al Jazira ainda revelou que o valor foi pago em duas parcelas, uma de US$ 400 milhões e outra de US$ 480 milhões, em 2013.

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Na época, segundo o The Times, ainda havia outro contrato, onde o governo do Catar pagaria US$ 100 milhões como “taxa de sucesso” no caso das eleições do país-sede da Copa do Mundo em 2010.

Parada LGBTQIA+
Parada LGBTQIA+ – Grosby Group

Porém, muito além da corrupção, os Direitos Humanos são outros pontos bastante debatidos, diante das questões religiosas e discriminatórias presentes na cultura do país. Apesar do mundo estar em uma crescente no que chamamos de “diversidade”, o Catar é um local que até pune o homossexualismo, algo que vem sendo discutido com a aproximação do evento.

O major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, militar que ocupa o posto mais alto nas forças de segurança do Catar, foi sincero em recente entrevista à Associated Press, onde revela que não conseguirá garantir a segurança do público LGBTQIA+ que infringir as leis do país.

“Se um torcedor levantou a bandeira do arco-íris e eu a peguei dele, não é porque eu realmente quero insultá-lo, mas sim para protegê-lo. Porque se não for eu, alguém ao redor dele pode atacá-lo. Não posso garantir o comportamento de todo o povo. E eu direi a ele: ‘Por favor, não há necessidade de levantar essa bandeira neste momento’”.

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Abdulaziz ainda contou que não é porque o país terá um evento da Fifa que tudo mudará ou será permitido e acredita que a população não deixará de seguir as diretrizes da sharia (conjunto de leis islâmicas), por conta do evento.

“Reservem o quarto juntos, durmam juntos. Isso é algo que não é da nossa conta. Estamos aqui para administrar o torneio. Aqui não podemos mudar as leis. Você não pode mudar a religião por 28 dias de Copa do Mundo”, afirmou, ainda pedindo cuidado para os ativistas durante o evento.

“Você quer demonstrar sua visão sobre o movimento, demonstre-a em uma sociedade onde ela será aceita. Assista ao jogo. Isso é bom. Mas não venha e insulte toda a sociedade por causa disso”, disse.

A homossexualidade é ilegal no Catar e, de acordo com a Anistia Internacional, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo podem levar a acusações criminais e pena de prisão de até sete anos.

Parada LGBTQIA+
Parada LGBTQIA+ – Grosby Group

Demonstração pública de afeto deve ser evitada

No final do ano passado, chegou a acontecer uma nova reunião com o comitê organizador que garantiu que o país vai receber o público LGBTQIA+, mas fez coro às “demonstrações públicas” disso, assim como disse o major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari.

Nasser Al Khater, executivo-chefe da Copa do Mundo da FIFA Qatar 2022, declarou que “todos se sentem seguros” no país, ainda citando o jogador australiano Joshua Cavallo, assumidamente gay.

“Joshua Cavallo seria bem-vindo no Catar, ninguém se sente ameaçado ou inseguro aqui. Nós somos um país acolhedor, tolerante e hospitaleiro, todos são bem-vindos aqui. O Catar e a sua região são mais conservadores, então as demonstrações públicas de afeto, que são desaprovadas, devem ser evitadas. É a única indicação a ser respeitada, tirando isso, cada um pode viver sua própria vida. Só pedimos aos torcedores que respeitem”, afirmou na época.

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Hotéis ainda não seguem as normas de ‘boa receptividade’

Em maio deste ano, jornalistas da Suécia e Dinamarca fizeram uma pesquisa com os 33 hotéis recomendados mostrou que mais de 10 hotéis se recusaram ou se preocuparam em hospedar casais LGBTQIA+. Alguns negaram a hospedagem prontamente, enquanto outros aceitaram a presença, mas com ressalvas de que “não demonstrassem ser gays” publicamente.

Diante da repercussão, a FIFA emitiu um comunicado em que garante que todos os hotéis recomendados estarão aptos a receber todas as pessoas, independente da orientação sexual.

“Os hotéis mencionados serão novamente informados sobre nossos rígidos requisitos em relação ao recebimento de hóspedes de maneira não discriminatória, assim como qualquer outro provedor de serviços associado à Copa do Mundo da FIFA, que não cumprirem os altos padrões estabelecidos pelos organizadores terão seus contratos rescindidos”, informou a FIFA.

Parada LGBTQIA+
Parada LGBTQIA+ – Grosby Group

Fifa tenta apaziguar conflitos

Diante de tantos conflitos com relação à homossexualidade e a Copa do Mundo no Catar, a Fifa até celebrou o mês do orgulho LGBTQIA+, demonstrando que estão junto com a comunidade na luta para que o evento seja o mais receptível possível

“Todos os anos, o Pride Month em junho é uma celebração para a comunidade LGBTQIA+, bem como uma oportunidade para protestar pacificamente e aumentar a conscientização política sobre questões atuais. Este ano, a FIFA fará a maior celebração do futebol que o mundo já viu – e o primeiro encontro global de fãs de esportes desde a pandemia.

Tão importante quanto isso, a Copa do Mundo da FIFA Qatar 2022 será uma celebração da unidade e da diversidade – uma união de pessoas de todas as esferas da vida – independentemente de raça, etnia, religião, idade, deficiência, características sexuais, orientação sexual, identidade de gênero e expressão – todos serão bem-vindos.

Para garantir que todas as proteções legais necessárias estejam em vigor e sejam aplicadas, a FIFA vem treinando todos os funcionários envolvidos na competição, incluindo forças de segurança públicas e privadas, sobre como cumprir suas tarefas de maneira não discriminatória. Além disso, segue insistindo em hotéis e outros contratados envolvidos em receber fãs LGBTQIA+ no Catar para fazê-lo de uma maneira que respeite os direitos e a privacidade de todos e também implementa sistemas para identificar e abordar casos de homofobia, mecanismo de reclamação por meio do qual as preocupações podem ser relatadas à FIFA e tratadas pelas equipes competentes. Essas são apenas algumas das medidas adotadas com o objetivo de garantir um torneio acolhedor e inclusivo para todos os torcedores, e a organização mantém um diálogo constante e aberto com renomados grupos LGBTQIA+ de todo o mundo.

Mulheres se beijando em Parada LGBTQIA+
Grosby Group

Em 2021, a bandeira do arco-íris foi hasteada na sede da FIFA pela primeira vez em seus 117 anos de história – um momento pequeno, mas incrivelmente simbólico e orgulhoso para muitos, incluindo funcionários LGBTQIA+, famílias e aliados que trabalham na FIFA. Em junho deste ano, além de levantar a bandeira mais uma vez na sede da FIFA e mudar a imagem de perfil de suas contas corporativas de mídia social, foi lançada a FIFA LGBTQIA+ Staff Network.

O objetivo da rede é aumentar a conscientização, eliminar equívocos e ajudar a impulsionar a mudança dentro da organização por meio do envolvimento social, apoio da comunidade e advocacia. Também aumentará a conscientização sobre os desafios que a equipe LGBTQIA+ enfrenta e trabalhará com pessoas em todos os níveis da organização para garantir que a FIFA seja um local de trabalho seguro e inclusivo; enviando assim uma mensagem global de igualdade, inclusão e aceitação”.

A Copa do Mundo vai acontecer dos dias 21 de novembro e os dias 18 de dezembro, quando acontece a final da competição. Resta saber se só teremos boas notícias com relação à receptividade dos homossexuais no país ou se a Fifa perderá ainda mais a credibilidade com a comunidade LGBTQIA+ para as próximas competições.

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