Lucinha Araújo, afirma que Cazuza seria ‘um senhor exagerado’, se estivesse vivo
Por Flavia Cirino - 08/03/24 às 06:00 - Última Atualização: 7 março 2024
Aos 87 anos de idade, Lucinha Araújo impressiona. Sua mais do que conhecida força da empresária, é reforçada a cada dia por conta de seu trabalho social à frente da Fundação viva Cazuza.
Musical ‘Tributo a Cazuza’ é um dos grandes êxitos do teatro nacional
Desde que o cantor morreu, em 7 de julho de 1990 – aliás, antes disso, desde que o falecido cantor recebeu o diagnóstico da Aids – Lucinha segue incansável.
Em um evento promovido pela Coca-Cola para o lançamento oficial da plataforma Foodmarks, a marca recriou um momento vivido por Cazuza com pizza e Coca-Cola, além de uma homenagem realizada pelo cantor Jão.
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Durante uma homenagem, a reportagem de OFuxico, para reverenciar o Dia Internacinal da Mulher, bateu um papo com Lucinha Araújo. Uma “Mulher Coragem”, que se define simplesmente, com uma palavra que explica o “conjunto da obra”: mãe.
Confira a entrevista com Lucinha Araújo
OFuxico: Antes de mais nada, a senhora, além de sempre muito forte, está cada vez mais bonita, sempre produzida!
Lucinha Araújo: Não é porque a gente é velha que não vai se arrumar, né, gente? Olha o tempo…Quando você chegar lá você, vai ver o que é bom pra tosse!
Estátua de Cazuza é localizada em um dos points preferidos do falecido cantor
OFuxico: Dona Lucinha, constantemente revivemos e lembramos a memória de Cazuza. Como a senhora lida com isso?
Lucinha Araújo: Eu vivo e me alimento disso. E exatamente por conta disso, eu tenho 87 anos, porque senão eu já tinha morrido junto com ele. Resolvi cuidar de quem tem HIV, quem não tem dinheiro para sustentar uma doença tão maldita e tão cara. E também reverenciar a memória dele porque ele merece! Meu filho não precisaria que eu reverenciasse, porque o Brasil inteiro ia lembrar. Mas eu dou uma ajudinha.
Já viu Gloria Groove cantando músicas de Cazuza?
OFuxico: É impressionante como a música a arte do Cazuza segue atual..
Lucinha Araújo: E não são somente as letras, ele é inacreditável, né? Deixou um legado, com toda a certeza, mas eu acho que ele deixou, além do exemplo, das letras, das bonitas canções, um exemplo de ser humano. Cazuza se declarou o soropositivo quando dessa doença ainda era – aliás ainda é – uma desgraça horrorosa para a humanidade. E ele se declarou no auge da beleza, da juventude e do sucesso. Ele foi muito corajoso.
Sociedade Viva Cazuza segue ativa há 34 anos
OFuxico: Como a senhora avalia o quadro atual, em relação à prevenção e ao tratamento da Aids?
Lucinha Araújo: Estamos em outro momento de cuidado de proteção. Eu queria muito que tivesse uma cura para o HIV, está demorando muito. Gostaria que tivesse um acordo, mas enquanto não tem a cura, vamos seguir na luta.
Frejat relembra a convivência com Cazuza
OFuxico: Como estão trabalho na Sociedade Viva Cazuza (Ong filantropa fundada pelos pais de Cazuza, em Larranjeiras, na Zona Sul do Rio)?
Lucinha Araújo: Eu tenho os meninos que eu criei lá na Viva Cazuza. O mais velho já tem 34 anos e chegou lá recém-nascido e está pra lá de saudável. Mas é claro que tem que se cuidar, tomar os remédios e tudo, mas era bom que eu viesse a cura. Pelo menos você pode dizer: ‘Eu não vou ter HIV’. Você pode dizer: ‘Não vou não vou me contaminar’. Para o câncer, por exemplo, até hoje existe não tem cura. Eu já tive câncer e não sei como eu peguei, ninguém na minha família teve. Vou morrer, mas não disso, porque eu sou osso duro de roer, graças a Deus.
Careta ou preconceituoso?
OFuxico: Falando sobre sua convivência com o Cazuza, a senhora saia pra balada com ele?
Lucinha Araújo: Cazuza não deixava! Mas eu me lembro muitas vezes ter ido, mesmo assim. Ele achava que não era lugar de mãe. Ele era muito preconceituoso! Todo mundo acha que ele era todo moderno, mas comigo ele era preconceituoso.
Sociedade Viva Cazuza rcebe generosa doação
OFuxico: Como a senhora imagina o Cazuza, hoje?
Lucinha Araújo: Ele teria 65 anos, seria um senhor, mas as ideias não iam mudar. A cabeça ia continuar a mesma, mas ele não gostava de ser exemplo para ninguém. Ele só queria viver a vida muito intensamente.
Quem era Cazuza
Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza foi vocalista do Barão Vermelho, banda formada em 1981. Em carreira solo gravou grandes sucessos, entre eles, “Exagerado”, “Codinome Beija-Flor”, “Brasil” e “Faz Parte do Meu Show”.
Missa virtual celebrou 30 anos da morte de Cazuza. Relembre
Carioca, ele era filho do já falecido empresário João Araújo, dono da gravadora Som Livre, e da cantora Lucinha Araújo. Não por acaso, cresceu no meio musical.
Em 1976, foi aprovado no vestibular de Comunicação, mas desistiu do curso. Cazuza começou a frequentar a vida boêmia do Baixo Leblon,na Zona Sul do Rio, e fez dali o seu habitat natural.
Até que, depois de trabalhar por um período na gravadora do pai, mudou-se para os Estados Unidos, para estudar fotografia.
Cazuza ganha música dos irmãos Flausino e Sideral
Em 1980, de volta ao Rio de Janeiro, ingressou no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, onde cantou pela primeira vez em público, na apresentação da peça “Paraquedas do Coração”.
Cazuza só parou de cantar em 1900 quando morreu em decorrência do HIV. Sua música, contudo, jamais parou de ecoar. E Lucinha Araújo, a mãe do artista, descobre cada vez mais registros inéditos do filho. São tantas letras e poesias que em breve dois livros estarão disponíveis. Pra deixar os fãs “jogado aos seus pés”, Cazuza!
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino