Tiago Barbosa sobre convite para ‘Wicked’: ‘Não esperava’
Por Redação - 23/01/23 às 18:00
Atualmente, Tiago Barbosa se prepara para viver Fiyero no musical “Wicked”, que estreia dia 9 de março no Teatro Santander, em São Paulo.
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Em entrevista para o OFuxico, o ator contou como reagiu quando recebeu o convite para o espetáculo. “Meu Deus, eu não esperava, não esperava e não esperava. Dentro do meu planejamento, eu estava voltando para a Espanha e quando chegou essa oportunidade, esse convite, eu precisava de um tempo para poder avaliar, conversar com as pessoas que estavam ao meu redor, ou seja, com a minha equipe, com a minha advogada, com a minha empresária, para poder entender se aquele era um bom passo porque eu, de verdade, na minha cabeça vinha para o Brasil para fazer esse espetáculo. Então, elas me ajudaram a ver que eu também sabia o potencial desse espetáculo e o quão importante ele foi para o Brasil assim como ‘O Rei Leão’ foi. E fazer um Fiyero negro é mais uma vez afirmar um trabalho que eu já venho fazendo”, disse ele.
“Wicked” conta a história da amizade improvável entre Elphaba (Myra Ruiz), a Bruxa Má, e Glinda (Fabi Bang), a Bruxa Boa. E Fiyero é o interesse amoroso de Elphaba.
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“O Fiyero é um cara que enquanto como espantalho, um cara que não tem cérebro, que as pessoas pensam ser um cara fútil, soberbo, ele é o cara que o amor faz ele pensar e ajudar a Elphaba a fugir. Se não fosse ele, eu acho que teriam caçado a grande Bruxa Má e ele é o cara estrategista, que faz o plano. Ele acaba entendendo que ele é muito maior do que todo status de príncipe, de galã, e o amor vence. Ele renuncia um amor voltado para aparência, para o padrão, para ir em busca do amor que é o verdadeiro, aquilo que a sociedade não estava disposta a ver”, disse.
Apesar de já ser consagrado no teatro musical, Tiago admitiu que ainda sente nervosismo nas estreias e principalmente em “Wicked”, que já teve montagens em diversos teatros famosos como a Broadway, de Nova York, e o West End, em Londres. Em 2016, o espetáculo também passou pelo Brasil e ficou em cartaz no Teatro Renault, onde fez um enorme sucesso.
“Eu vejo uma nova geração tão incrível, dançando tanto, cantando tanto, atuando tanto. E ‘Wicked’ é um espetáculo que eu volto a dançar e eu vejo um grande desafio pela frente. O público vai ver um outro Tiago. E é um espetáculo que me gera muito frio na barriga porque é uma grande responsabilidade fazer um espetáculo que já foi feito e foi um grande sucesso”.
Quando perguntado sobre que palavra melhor descreveria “Wicked”, Tiago Barbosa não pensou duas vezes. “Emocionante”, disse ele.
O espetáculo terá uma curtíssima temporada e está previsto para ficar em cartaz até o dia 30 de abril.
COMO TUDO COMEÇOU
Durante a conversa, Tiago Barbosa relembrou como começou a sua história com a arte. “Eu acho que nem foi uma escolha, eu acabei entrando nesse universo. Eu já estava trabalhando no grupo Nós do Morro, desenvolvendo um projeto, na verdade eu fui lá para buscar uma vaga para estudante. Só que eu já trabalhava com música, dando aula como professor de canto e acabou combinando uma coisa com a outra. Eu parei lá, eles estavam precisando de um preparador vocal e era justamente para o espetáculo chamado ‘Bandeira de Retalhos’, que é um musical. Quando cheguei lá, o Guti [Fraga, diretor do espetáculo] gostou do trabalho que eu desempenhei com o elenco e logo me chamou para fazer parte desse elenco como assistente de direção e preparador vocal. Nisso, eu já estava envolvido com teatro musical”, disse.
O ator ganhou notoriedade ao interpretar Simba, no musical “O Rei Leão”, que ficou em cartaz no Teatro Renault entre 2013 e 2014. Depois de mais algumas produções no Brasil, Tiago partiu para Espanha, onde continuou dando vida ao famoso personagem do clássico da Disney.
Foi também na Espanha, que Tiago enfrentou um dos maiores desafios de sua carreira ao interpretar Lola, uma drag queen, no musical “Kinky Boots”.
Durante o papo com o OFuxico, o artista também contou quem são as suas principais inspirações na área. “Para mim, o Fred Silveira sempre vai ser uma inspiração, é um cara que me ajudou muito na minha carreira, é um cara que tem um domínio do palco incrível. O próprio César Mello como colega de trabalho, me ensinou muito dentro de ‘O Rei Leão’, me deu um apoio e um suporte incrível dentro do meu trabalho e eu quase nunca falo dessa outra pessoa que é o Roberto Montenegro, que é o diretor de movimento, de baile, de ‘O Rei Leão’ aqui no Brasil e foi fora do Brasil também. É um cara que eu sempre me aconselho, é um cara que me ajuda muito a me manter no eixo do trabalho”.
Após cerca de seis anos na Espanha, Tiago retornou ao Brasil para interpretar Milton Nascimento no musical “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem”. “Eu voltei para o Brasil com muito medo. Eu tive muito medo porque era alguém que estava completando seus 80 anos, que estava fechando um ciclo na história com seu show e eu estava voltando para o Brasil completamente diferente. Fazia muito tempo que eu não falava português e isso era uma barreira para mim porque eu sabia que eu precisava voltar a colocar esse português para malhar porque o meu português estava ruim. Eu nunca tinha feito um biográfico, eu sempre fiz grandes espetáculos, mas eram formato Broadway, que tem aquela ‘Bíblia’ ali, que você vai em cima da Bíblia para resolver o espetáculo. E pela primeira vez era um processo de construção de alguém que está vivo, então eu vim com muito medo. Ao mesmo tempo, não deu nem tempo de pensar muito nesse medo porque eu terminei um espetáculo no dia 12 de junho, peguei um avião no dia 13 e dia 14 eu já estava fazendo leitura desse espetáculo. Então, não me deu tempo de parar para pensar sobre o espetáculo em si, embarquei na viagem e vim”.
PRECONCEITO
Antes de embarcar rumo à Espanha, Tiago Barbosa interpretou o Príncipe Topher no musical “Cinderella”, em 2016, e foi o primeiro ator negro a interpretar o personagem.
“Há seis anos e meio, era muito difícil ter esse tipo de pauta, era muito difícil ocupar esse lugar socialmente falando, até mesmo dentro do teatro, era humanamente impossível. Então, lógico que foi diferente naquela época. Para alguns, isso causou uma estranheza, um estranhamento. E para outros, era o progresso. É lógico que dentro da minha carreira como ator, a gente sofre preconceito em vários setores. A gordinha que tem que emagrecer para poder se encaixar no papel X, o cara que chega em determinada idade e já não consegue tantos personagens pela idade e pela aparência física. E nós, negros, dentro desse mercado, hoje tem aumentado muito. E a gente não tem que agradecer por esse processo, a gente só quer viver e estar dentro do mesmo espaço. É um processo muito complicado, eu já sofri muito racismo, mas hoje eu também sei que eu venho dentro de uma luta de conquistas e conquistei um espaço muito bacana dentro do nosso setor”.
Recentemente, Gabriel Vicente fez sucesso ao interpretar o Príncipe Eric no musical “A Pequena Sereia” e Tiago afirmou que tem noção que abriu as portas para que outros artistas negros dominem os palcos.
“Eu tenho noção e por exatamente ter a noção e por fazer esse movimento, eu sei o quão pesado é. Porque, por exemplo, tem vários espetáculos que já me chamaram para poder trabalhar e fazer aqui no Brasil e que eu não aceitei justamente porque eu sabia que outros negros poderiam estar ocupando aquele lugar. Já tem tão poucas oportunidades de um homem preto protagonizar, por que será somente eu esse cara? Por que não pode ter outros junto comigo? Eu não digo nem atrás de mim, eu acho que é hora e é momento de fazer essa ascensão, de abrir esse portal para que outros possam viver e ter as mesmas oportunidades, e ter a mesma possibilidade de mudar um pouco da realidade como eu fiz”.
Após ter seu nome marcado nos palcos, Tiago contou que pretende ocupar outros espaços. “Eu quero e tenho certeza que vou alcançar esse lugar que é ir para o streaming ou então começar a trabalhar fazendo novelas. Esse é o meu objetivo atual”.
IMPORTÂNCIA DA CULTURA
Tiago Barbosa também fez questão de comentar sobre a importância da cultura, principalmente em momentos sombrios como a pandemia do coronavírus.
“A cultura é muito desvalorizada e está em um lugar muito equivocado. As pessoas não entenderam que a cultura liberta, que a cultura transforma. E aqui no Brasil ainda não foi entendido isso dessa maneira. Olham de maneira equivocada a Lei Rouanet, olham de maneira equivocada quem trabalha com a cultura porque acaba se transformando em um setor que não é tido como primordial e na verdade o que salvou o mundo no meio da pandemia foram os youtubers, foram os espetáculos que já estavam gravados, foi a Netflix, foi exatamente a arte e o entretenimento”.
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