Veralinda Menezzes, mãe de Sheron, defende a filha da fama de ‘antipática’
Por Flavia Cirino - 28/01/23 às 07:30 - Última Atualização: 27 janeiro 2023
Em 2008, quando vivia a arrogante Solange, na novela “Duas Caras”, Sheron Menezzes se viu no centro de uma pequena polêmica. A personagem, filha de Juvenal Antena (Antonio Fagundes) destacava um jeito “nariz em pé” e, por vezes, preconceituoso.
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Na época, a atriz passou a ser alvo de comentários revoltados do público por conta da maneira como a metida à “patricinha” tratava o pai. A atriz gaúcha, então com 25 anos, chegava a se divertir com o jeito “sem noção” da personagem e dizia que era “uma experiência e tanto” interpretar alguém tão diferente dela na realidade.
Não era o primeiro personagem de Sheron, que já vinha com uma grande bagagem de “Celebridade”, “Como Uma Onda” e “Belíssima”, entre outras novelas. Mas foi justamente o jeito de Solange que chamou a atenção. Começaram a surgir boatos de que a atriz estava diante de uma personagem com caraterísticas que ela carregava. E instaurou-se, nos bastidores, uma fama um tanto indelicada, jamais tratada abertamente, de que ela era arrogante.
Sheron justificava seu jeito de ser como “uma pessoa direta”, o que alguns confundiam com “grosseira”. Em, 2012, quando fazia a Sarita, na novela “Aquele Beijo”, mais um trelelê. Ela se defendeu: “Não sou antipática. A fama é criada pelas pessoas. Não sou de ficar sorrindo e falando da minha vida, não. Não é nada pessoal com ninguém”, disse.
Mais recentemente, em 2019, no lançamento da novela “Bom Sucesso”, na qual ela interpretava uma vilã, o assunto voltou à tona, até com bate-boca com um colunista. Agora, protagonizando pela primeira vez uma trama, “Vai na Fé”, Sheron volta a interpretar uma Solange. Mas a Sol atual, ao contrário da anterior, é gente boa toda vida. Exatamente como as pessoas mais próximas à atriz afirmam que ela é.
Conversamos com Veralinda Menezzes, mãe de Sheron, sobre o assunto, e ele resumiu: “Essa é uma fama criada pela própria mídia, acostumada a ver mulheres pretas de cabeça baixa, submissas, subalternas. E quando estão diante de uma mulher altiva como a Sheron, apontam como metidez, arrogância, grosseria”.
Confira o bate-papo:
OFuxico: Como foi receber a notícia de que Sheron, enfim, seria protagonista, após tanto tempo?
Veralinda Menezes: Demorou bastante, demorou 20 anos! Enquanto a gente vê que muitas atrizes brancas que começaram depois dela viraram grandes estrelas protagonistas, e ela ficou ali no espaço, conquistando, abrindo portas, mas bem mais devagar. Mass agora ela chegou!
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OFuxico: Algumas da geração dela também já chegaram…
Veralinda Menezes: Temos aí uma atriz negra maravilhosa, que é a Taís Araújo, entra a Sheron Menezzes, isso é história, isso é maravilhoso. O Brasil está se reconhecendo e acho que muita gente não via novela porque não se via, não queria estar nos espaços que não nos eram reservados e agora vão voltar a assistir novela. Vejo isso com muita alegra, é uma grande responsabilidade esse sonho de milhões de brasileiros. A gente teve fá pra chegar onde ela chegou.
OFuxico: Sheron sempre falou muito na união da família, por vocês serem do sul, se agarraram ainda mais pra se adaptar às condições impostas pelo eixo Rio x São Paulo. Vocês conseguiram chegar onde pretendiam?
Veralinda Menezes: O que é chegar lá? O ideal seria que todos pudessem chegar em qualquer lugar, sem nenhuma dificuldade, sem precisar ficar enfatizando, como agora, que ela é uma mulher negra que chegou. É quando você não precisa mais falar sobre isso. Tenho outros dois filhos atores, que cresceram também e estão estreando no streaming. Mas só chegaremos lá quando não precisarmos mais falar sobre isso.
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OFuxico: Por vezes a relação da Sheron com a imprensa não foi tão amistosa e existe uma “fama de grossa e metida”. Como a senhora avalia isso, principalmente neste momento?
Veralinda Menezes: Isso veio da própria imprensa, que rotula pessoas negras de metida. Não são as pessoas que saem falando por aí. Os agentes da imprensa, de todas as linhas, é que olhavam a mulher preta e achavam que ela deveria estar sempre de cabeça baixa, sendo subserviente. A minha família foi educada a se colocar no seu lugar. Eles já nasceram de classe média. Eu tinha uma carreira pra colocar pra frente, havia uma pessoa pra cuidar deles, sempre souberam seu lugar. Sheron, gaúcha, de uma família acostumada de autoestima, quando chega no Rio de Janeiro e se depara com a imprensa acostumada a ver mulheres negras sendo subalternas, subservientes, sem altivez, foi taxada assim. Enquanto diante de uma mulher branca altiva, as pessoas aplaudem. Por que esse conceito muda de acordo com a cor da pessoa? Metida, pra branca, é um conceito. Pra preta, é outro. Também somos altivas, elegantes chiques. A elite preta existe, a classe média preta existe e é pulsante. Só não mostra a cara. Meus filhos nasceram assim, não têm história triste pra contar e daqui pra frente será menos ainda.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino