Marcello Antony sobre Jô Soares: ‘Sinto como se tivesse perdido um pai’
Por Luigi Civalli - 05/08/22 às 10:03
O ator Marcello Antony falou da morte de Jô Soares, que nos deixou na madrugada desta sexta-feira (5). O apresentador estava internado no hospital Sírio Libanês e a causa da morte não foi revelada até então.
Antony, que viveu o Marquês de Salles na obra “O Xangô de Baker Street”, baseado no livro best-seller de Jô Soares, contou que sente bastante a morte do apresentador.
“São as melhores memórias. Perdemos uma lenda, que virou um mito. A sensação que eu estou sentindo e que todo brasileiro está sentindo é como se estivesse perdendo um parente muito próximo, um tio querido, um pai”, afirmou.
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“Não existe pessoa na televisão brasileira, que atingiu o que ele atingiu na área que ele atuava. Era uma pessoa influenciadora em todos os níveis culturais. Eu lembro de ir para a aula na escola com os bordões do Jô Soares”, acrescentou.
“Eu, particularmente, na última vez que estive com o Jô em 2016, ele já sabia que sairia da grade de programação e era uma maneira da produção fazer como uma espécie de carinho, tinha colocado um grande livro no camarim e deixou isso para que cada convidado escrevesse uma mensagem para ele”, disse, antes de revelar o que escreveu para Jô Soares.
“Jô Soares, é muito difícil resumir em poucas palavras tudo o que penso e acho de você. É uma imensa alegria e prazer poder ter conhecido e, de certa forma, convivido com você nesta mesma época de vida. Nesta passagem terrena, devemos levar sempre conosco grandes lembranças e grandes amigos e você é um deles”, contou.
“Fica a saudade. A imensa nostalgia e a tudo que ele proporcionou a mim e aos brasileiros”, finalizou.
CARREIRA DE JÔ SOARES
Filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e de Mercedes Leal Soares, José Eugênio Soares, mudou-se com a família aos 12 anos, para a Europa. Poliglota, chegou a pensar em seguir a carreira diplomática, mas seu fascínio pelo teatro falou mais alto, ainda nos anos em que estudava na Suíça.
Sua estreia se deu no papel de um americano em “O Homem do Sputnik”, filme de Carlos Manga estrelado por Oscarito, em 1958. No mesmo ano, escrevia para o TV Mistério, programa da TV Continental, dirigido por Adolfo Celli, com Paulo Autran e Tônia Carrero no elenco. Na TV Rio, atuou no programa “Noites cariocas”. Também nesta época fez participações na TV Tupi.
Jô Soares começou a trabalhar na TV Record, em 1961, em São Paulo. Além de escrever o “Simonetti Show”, atuava em programas como o “La Reuve Chic”, “Jô Show”, “Quadra de Azes” (ao lado de Zilda Cardoso, Darlene Everson e Cauby Peixoto), “Show do Dia 7” e “Você é o Detetive”.
Ele também interpretou o mordomo de ‘A Família Trapo”, seriado que escrevia com Carlos Alberto de Nóbrega.
ASCENSÃO NA TV GLOBO
Com Renato Cortes Real, Jô protagonizou, a partir de 1970, o “Faça Humor, Não Faça a Guerra”, programa que marcou sua estreia na Globo. A dupla também escrevia o programa, ao lado de Max Nunes, Geraldo Alves, Hugo Bidet e Haroldo Barbosa. Nele, o artista interpretou tipos como Norminha e Padre Thomas.
O “Faça Humor, Não Faça a Guerra” foi substituído por “Satiricom”, em 1973. Três anos depois, o humorista atuou como ator e redator, novamente com Max Nunes e Haroldo Barbosa em outro grande sucesso da Globo, o “Planeta dos Homens”, que ficou no ar até 1982.
Jô Soares dividia a cena com grandes nomes do humor, como Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Luís Delfino, Sonia Mamede, Berta Loran, Costinha, Eliezer Motta e Carlos Leite.
O comediante criou para o programa personagens como o Dr. Sardinha (inspirado no economista Delfim Netto, então ministro da Agricultura); Sebá, cognome Pierre, o último exilado em Paris; e o argentino Gardelón, famoso pelo bordão “Muy amigo!”.
Jô Soares deixou a equipe de “Planeta dos Homens” em 1981 para se dedicar a seu próprio programa, o “Viva o Gordo”, escrito por Max Nunes, Hilton Marques, Afonso Brandão e José Mauro, que foi exibido até 1987.
O título veio do show “Viva o Gordo e Abaixo o Regime!”, um grande sucesso do teatro no qual o humorista fazia críticas veladas à ditadura. Entre os tipos marcantes que viveu nessa época, estão o Reizinho, sempre às voltas com os problemas do reino, uma sátira à situação política do país; o Capitão Gay, super-herói homossexual que usava um uniforme cor de rosa e andava sempre acompanhado de seu ajudante Carlos Sueli (Eliezer Motta); e o Zé da Galera, que ligava para o técnico da seleção brasileira de futebol e pedia “Bota ponta, Telê!”.
Simultaneamente ao trabalho no “Viva o Gordo”, Jô Soares apresentava um quadro no “Jornal da Globo” e, em 1983, fez uma participação especial no musical infantil “Plunct, Plact, Zuuum”.
SBT
Em 1987, Jô deixou a Globo e foi trabalhar no SBT, onde estrelou o humorístico “Veja o Gordo” e realizou um sonho que acalentava há anos: apresentar um programa de entrevistas inspirado nos talk-shows americanos, o “Jô Soares Onze e Meia”.
“Não foi uma mudança radical, mas uma continuação do meu trabalho de humor e também de jornalismo. Trabalhei no jornal Última Hora durante quatro anos, escrevi na Folha de S. Paulo e na revista Veja. E tem um lado de entrevista irreverente que só eu posso fazer, com os políticos”, disse ele ao “Memória Globo”.
Ao.longo dos 11 anos em que o programa ficou no ar, Jô fez mais de seis mil entrevistas, com grandes personalidades brasileiras e internacionais – como o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev e Bill Gates, fundador da Microsoft – e figuras anônimas. E durante o processo do impeachment do presidente Fernando Collor, o “Jô Soares Onze e Meia” funcionou como uma espécie de tribuna popular, com o apresentador entrevistando alguns dos principais implicados e testemunhas do caso.
BEIJO DO GORDO
Em 2000, o humorista voltou à Globo, comandando o “Programa do Jô”, um talk-show na mesma linha do “Jô Soares Onze e Meia”.
A atração ficou 16 anos no ar e contava com a participação do Sexteto, grupo formado pelos músicos Derico (sax), Bira (baixo), Miltinho (bateria), Tomatti (guitarra), Chico Oliveira (trompete) e o maestro Osmar (teclados), além do garçom Alex.
Durante os Jogos Olímpicos de 2000, o “Programa do Jô” foi transmitido direto de Sydney, na Austrália.
Em agosto de 2008, Jô Soares comemorou 20 anos de talk show com entrevistados especiais, entre eles Caetano Veloso, que ainda cantou alguns de seus sucessos.
Também foi exibida uma edição com as melhores entrevistas feitas com anônimos: até aquele momento, cerca de 490 mil pessoas haviam participado da plateia dos programas, mais de 4 mil musicais foram apresentados e, aproximadamente, 4 milhões de e-mails recebidos pela produção.
Dois anos depois, em homenagem aos 10 anos de programa, Jô Soares comandou um especial com a nova geração do humor brasileiro. Em uma mesa redonda, ele recebeu Leandro Hassum, Marcelo Adnet, Bruno Mazzeo, Dani Calabresa, Dadá Coelho e Flávia Garrafa.
Outra conversa marcante em sua trajetória na Globo foi com o cantor Roberto Carlos. Em uma rara entrevista, o Rei falou sobre suas manias. E cantou uma das músicas preferidas do humorista: Estrada de Santos. A entrevista foi exibida em setembro de 2011.
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Formado desde 2010, já passou pelas editorias de esporte e entretenimento em outros veículos do país e atualmente está no OFuxico. Produz matérias, reportagens, coberturas de eventos, apresenta lives e ainda faz vídeos curtos para as redes sociais