Morre Olavo de Carvalho, o ‘guru’ do bolsonarismo
Por Flavia Cirino - 25/01/22 às 07:05
Considerado como “guru” do bolsonarismo, o ideólogo da direita brasileira e escritor Olavo de Carvalho morreu na segunda-feira, 24 de janeiro, aos 74 anos, nos Estados Unidos, onde morava. A notícia da morte foi comunicada pela família nas redes sociais do autor. Segundo a postagem no Twitter, ele estava hospitalizado na região de Richmond, no estado da Virgínia. Segundo mensagem veiculada em seu canal no Telegram no último dia 15, ele havia contraído a Covid-19 e precisava cancelar as aulas de um curso de filosofia que ministrava online. Oficialmente, porém, a causa da morte ainda não foi divulgada.
“O professor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos. A família agradece a todos os amigos as mensagens de solidariedade e pede orações pela alma do professor”, afirma a nota oficial.
Em julho de 2021, ele havia viajado ao Brasil para tratar de problemas cardíacos e chegou a passar três meses internado após novas complicações de saúde.
A notícia de sua morte gerou uma onda de homenagens, incluindo o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos: “Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, publicou Bolsonaro em seu perfil no Twitter.
“Aqui na Terra seus livros, vídeos e ensinamentos permanecerão por muito tempo ainda”, escreveu o deputado federal Eduardo Bolsonaro em postagem no Twitter, com fotos deles juntos.
“Ao Professor Olavo a minha eterna gratidão por sua vida dedicada ao conhecimento, que semeou em uma terra arrasada chamada Brasil e fez florescer em muitos de nós um sentimento de esperança, de amor pela verdade e pela liberdade. Que sua obra ilumine para sempre a nossa história!”, escreveu o vereador Carlos Bolsonaro na mesma rede social.
OLAVO MINIMIZAVA A COVID-19
Não há informações oficiais sobre se Olavo de Carvalho tomou ou não doses da vacina contra a Covid-19. Ao longo da pandemia, ele fez diversas contestações aos dados divulgados sobre mortes e a gravidade da doença, além de críticas a restrições à circulação de pessoas adotadas por países para tentar conter o avanço da doença, como lockdowns.
“O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel”, escreveu em uma de suas postagens.
TRAJETÓRIA
Sem formação acadêmica, Olavo de Carvalho era autoproclamado filósofo e se projetou a partir dos anos 1980 como articulista conservador ao escrever em jornais como Folha de S.Paulo e O Globo.
Após se mudar para os Estados Unidos, alcançou grande público por meio de cursos online e venda de livros com forte retórica conservadora e anticomunista. Seu canal no YouTube, criado em 2007, tem mais de um milhão de inscritos e acumula mais de 68 milhões de visualizações.
A eleição do presidente Jair Bolsonaro levou muitos dos pensamentos de Olavo para o coração do governo brasileiro, como a defesa da família tradicional e do amplo direito ao uso de armas, principalmente por meio da influência de um dos filhos do presidente, seu grande admirador, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Chegou a ter discípulos seus no primeiro escalão do governo, caso dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação). Atualmente, o governo ainda abriga olavistas, como o secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e o Assessor Especial para Assuntos Internacionais da presidência, Filipe Martins.
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AMOR COM CRÍTICAS
Ao longo da vida, Olavo de Carvalho acumulou desafetos com a mesma intensidade com que é defendido por seus admiradores. Desbocado e grosseiro, com frequência distribuía ofensas nas redes sociais e em entrevistas, inclusive com comentários homofóbicos e racistas.Uma de suas brigas conhecidas foi com o cantor Lobão, um dos expoentes da direita que se afastou de Bolsonaro, ao contrário de Olavo.
“Jair Bolsonaro foi inventado pelo núcleo olavista. Em 1º de março de 2014, no aniversário do golpe militar, Olavo convidou o então obscuro deputado Jair Bolsonaro [para uma entrevista]. Trouxe o Jair para a ribalta e começaram a chamá-lo de mito e insuflaram. Viram a resposta muito rápida; ele seria um ícone moral e incorruptível. Olavo é o homem que está colocando fogo no circo. O Olavo é dono do governo, rege o Brasil, as pessoas têm que entender”, afirmou Lobão em entrevista, no ano passado.
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Olavo de Carvalho fez críticas eventuais ao presidente Bolsonaro, mas, em geral, o defendia com bastante fidelidade. No ano passado, porém, criticou o que viu como falta de apoio de Bolsonaro a seus aliados que sofriam retaliações. O próprio Olavo teve perdas financeiras relevantes, por pressão da opinião pública. Segundo reportagem do jornal Estado de S. Paulo de novembro de 2020, uma campanha contra o escritor promovida pelo Sleeping Giants, movimento que pressiona empresas a retirarem recursos de páginas com conteúdos que classifica como de ódio e desinformação, levou mais de 250 companhias a desvincularem suas marcas de conteúdos produzidos por Olavo.
Com isso, diz a reportagem, ele chegou a perder cerca de 30% dos alunos que pagavam para receber seus ensinamentos via PayPal, uma das companhias que o baniu.
Dias depois, em 13 de novembro, Olavo publicou no Twitter: “Bolsonaro: Se você não é capaz nem de defender a liberdade dos seus mais fiéis amigos, renuncie a vá para casa antes de perder o prestígio que em outras épocas soube merecer”.
Depois, em outra mensagem, disse que não estava defendendo uma saída imediata do presidente: “Não pedi renúncia nenhuma, pus a coisa no condicional.”
Em dezembro de 2021, Olavo fez novas críticas a Bolsonaro, afirmando que o presidente o havia usado como “garoto-propaganda” para “se promover e se eleger”, mas “depois disso não só esqueceu tudo o que dizia como até os meus amigos que estavam no governo ele tirou”. Nesta live, ao lado dos ex-ministros Ricardo Salles e Abraham Weintraub, Olavo disse também que Bolsonaro não manda em nada no país e “a briga já está perdida”.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino