Navios temáticos como o de Roberto Carlos, Xuxa, Safadão e Luan Santana movimentam milhões. Saiba tudo!
Por Flavia Cirino - 29/03/23 às 16:26
Pra quem imaginar que se trata de novidade, já vamos chegar com o pé na proa: há 18 anos, Roberto Carlos já fazia sucesso com seu cruzeiro temático. O disputadíssimo “Emoções em Alto Mar” entrou para agenda de compromissos imperdíveis do mais de um milhão de amigos do Rei e popularizou o sucesso do que estaria por vir…
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De lá pra cá, onda vai, onda vem, e já existe até agenda de cruzeiros temáticos. Recentemente a reportagem de OFuxico participou de dois deles. No do Rei, por apenas algumas horas, numa experiência destinada à imprensa, e no de Luan Santana, ao longo de quatro dias, no tour completo.
A diferença básica entre eles, na verdade, é entre o de Roberto Carlos e todos os demais (que detalharemos já já). No cruzeiro “Emoções em Alto Mar”, somente o Rei é a estrela, não há outros shows musicais no palco principal.
Para divertir os passageiros, Eri Johnson se apresenta no teatro, com seu stand-up. Antes dele, cabia ao saudoso Miele, que morreu em 2015,entreter o público.
A desenvoltura de Eri, ao longo dos anos, se destacou tanto que ele acabou chamado atenção de outros. Atualmente, o ator é artista contratado pela PromoAção, a maior realizadora dos cruzeiros temáticos com artistas brasileiros. A empresa, parceira da MSC, a proprietária das embarcações, destina horários específicos no cronograma de todos os navios temáticos para o show do artista carioca.
OS ARTISTAS FRETAM O NAVIO OU SÃO CONTRATADOS?
Por mais de 30 anos, a carreira de Roberto Carlos esteve nas mãos – e na mente brilhante – de Dody Sirena. Natural de Caxias do Sul, descendente de italiano com passaporte europeu, Sirena e o Rei romperam a parceria de maneira mais do que amigável em janeiro deste ano. Mas o renomado e competente empresário segue à frente de um verdadeiro império, a DC Set Group.
Considerado “o mais diverso player de entretenimento do país”, formado por diferentes verticais de negócio que reúnem empresas e iniciativas ligadas a cultura e ao esporte, o grupo já vislumbrava há tempos o panorama que hoje é febre no show business.
Em entrevista à OFuxico, Dody deu detalhes de como tudo começou. Ele destacou que artistas que faziam show embarcados não eram bem vistos e revelou detalhes de cifras. Confira:
OFuxico: Como surgiu a ideia de fazer um cruzeiro temático?
Dody Sirena: Há 18 anos fizemos o primeiro ‘Emoções em alto Mar’. Se você olhar a França e a Espanha, países que têm a tradição de cruzeiros, seja no Mediterrâneo ou no Caribe, você não vê grandes artistas, como hoje é uma realidade, é um glamour no Brasil. É tão disputado que todo grande artista quer ter um cruzeiro pra chamar de seu. Quando começamos, foi um atrevimento e um desafio porque a imagem dos artistas que faziam show em cruzeiro eram artistas em final de carreira. Artista que aceitava ficar à bordo por muito tempo, com cachês considerados baixos, uma vez que os navios têm suas próprias atrações, quando eles incluíam uma atração à parte, eram artistas que aceitavam um cachê baixo pra fazer parte daquilo ali.
OFuxico: Mas não era o caso do Roberto Carlos, certo?
Dody Sirena: Não existe lá fora essa cultura que foi implantada no Brasil. Eu tive a ideia surgida a partir de um resort na Serra Gaúcha, há mais de 20 anos, no Rancho e Pedra. Nós fechávamos o hotel de quarta a domingo, todas as noites com um grande show: Tom Jobim, Gal Costa, Jô Soares, Chico Anysio, entre outros grandes nomes. Tínhamos grandes atrações durante o dia e vendíamos o pacote para passar essas quatro noites, com uma vasta programação. Era o projeto ‘Top Class’, fizemos por muitos anos.
OFuxico: Mas o Roberto participava desse projeto?
Dody Sirena: Não. Mas foi justamente a partir do sucesso do ‘Top Class’ que eu fiz uma provocação ao Roberto. Propus a ele de termos esse mesmo conceito em um cruzeiro: fecharmos um pacote de quatro noites, envolvendo toda essa magia de cruzeiro. O Roberto aceitou o desafio, o mérito é todo dele, uma vez que na qualidade de ser o maior artista do Brasil, ele não precisaria correr esse risco.
OFuxico: O Rei não se importou em receber cachê baixo?
Dody Sirena: O nosso grande desafio era justamente desfazer essa ideia, visto que, como falei, no exterior essa é uma prática que acaba menosprezando o artista, visto como ‘decadente’. O nosso grande desafio era passar para o público que estávamos fretando o navio. O Roberto não estava sendo contratado. Ele estava fretando um transatlântico para ser o dono, para ser a ‘casa dele’, para realizar os show (N.R.: aluguel diário de navios de cruzeiro variam de US$ 500.000 a US$ 3 milhões por dia, dependendo da capacidade). O primeiro grande desafio era passar essa imagem.
OFuxico: Você diz que queria passar essa imagem. Então não era uma realidade e sim uma ‘intenção’?
Dody Sirena: Era uma obrigação! Caso contrário, comprometeria a imagem de Roberto Carlos aceitar estar em um cruzeiro. Ele estaria se nivelando a artistas pequenos. Ainda hoje, como há 18 anos, no exterior, você não encontra grandes artistas fazendo show em cruzeiros, fazendo divulgação para que as pessoas participem de um cruzeiro e assista seus shows. Já houve uma cantora, se não me engano, a Carly Simon, que fez uma coisa isolada. Não é nem de longe esse cenário que existe no Brasil, hoje.
OFuxico: E como foi a receptividade, inicialmente?
Dody Sirena: Um sucesso, com lista de espera! Fizemos uma parceria com a TV Globo para a divulgação, todas as cabines foram vendidas. No ano seguinte, tivemos que fazer dois cruzeiros, eram dois blocos de quatro noites, cada uma com 4 mil pessoas à bordo. Desembarcava o primeiro grupo, o Roberto permanecia à bordo, entrava o outro.
OFuxico: O ‘Emoções em Alto Mar’ foi o primeiro contato mais próximo do Roberto Carlos com os fãs? Até então se limitava aos palcos?
Dody Sirena: Sem dúvidas. A inspiração inicial, como disse, veio do que fazíamos na Serra Gaúcha. Mas logo pensei em Elvis Presley. Existe uma semana comemorativa a Elvis onde ele morava, Graceland, no Tenesse. Queria que as pessoas se sentissem em casa com o Roberto.
OFuxico: Então vocês estavam realizando o sonho de todo fã, de estar em contato direto com o ídolo?
Dody Sirena: Como era uma novidade, nunca tinha acontecido isso, ficamos com essa preocupação, de as pessoas acharem que iam tomar café da manhã com o Roberto, aquela coisa de ‘vou passar quatro dias com o Roberto Carlos’. Veio então a nossa preocupação de não deixar ninguém frustrado e que sim, tivessem a ideia de estarem em uma grande família.
OFuxico: E como isso foi resolvido? Ele é visto além dos shows?
Dody Sirena: Pensei logo no Mickey, na magia do principal símbolo da Disney. As crianças vão, todo mundo vai aos parques pra ver o Mickey, ele é a grande referência da Disney, mas não aparece o tempo todo. As pessoas vão à Casa do Mickey e tem o ‘Parade’. Fizemos questão, então, de explicar a todos que o Roberto estaria todas as noites no navio, fazendo shows e com um parênteses: o teatro tem capacidade pra 1.500 pessoas e o navio tinha 4 mil. Elas teriam que escolher em qual noite assistiriam ao show. Durante o dia, outro diferencial, levávamos uma série de shows, sem anunciar. Nunca anunciamos quem estaria a bordo. Mas temos, o que começou de maneira espontânea, uma missa com o Padre Antônio Maria, que é muito amigo do Roberto. Ele faz a celebração das alianças e é muito emocionante. As pessoas vão pra trocar alianças, renovar votos. Tínhamos o Tom Cavalcante, vários convidados. Tem uma coisa interessante que é o karaokê do Roberto. As pessoas se inscrevem, sobrem ao palco, cantam no microfone dele, as músicas dele. O campeão é escolhido pelos aplausos do público e da votação da banda. É o próprio Roberto que surge no palco, ao final, para premiar o vencedor. Temos uma série de atividades e o Roberto faz aparições-relâmpago ao longo dos dias, mas não divulgamos. Ele aparece no cassino, pode se na madrugada, aparece no show de algum convidado, em outras situações. Os passageiros podem dizer: ‘Estou no navio com o Roberto, só não estamos dormindo juntos’.
OFuxico: Os passageiros participam também da coletiva de imprensa, certo?
Dody Sirena: Sim, é algo que só nós fazemos, não existe outro artista que permita isso. E essa ideia justamente, nessa concepção de que eles se sintam em casa, é para que vejam como é a relação profissional da imprensa com o artista. São 1.500 pessoas assistindo.
OFuxico: Qual o grande diferencial do ‘Emoções em Alto Mar’ para os outros cruzeiros temáticos?
Dody Sirena: Temos o orgulho e o privilégio de ter proporcionado ao povo brasileiro esse novo mercado, que hoje se tornou alvo de disputa entre grandes artistas que tem status e popularidade para terem um navio pra chamar de seu. No caso do ‘Emoções em Alto Mar’, temos toda a preocupação para que o passageiro se sinta como os fãs do Elvis em Graceland. Ali no navio, é a casa do Roberto Carlos. Tudo envolve o Roberto. Os demais temáticos, de certa fora, também são um fretamento. A fórmula que usamos há 18 anos, se repete, embora muitos tenham fracassado, não forma pra frente. Mas os que estão acontecendo, de grandes artistas, ou fazem parceria, ou são contratados. Sempre tem alguém que contratou o navio e passa essa imagem de que o cruzeiro é do artista. Vejo, inclusive, que os artistas estão se ajudando, um ao outro. Tem o show de um artista importante, ele convida outros e vão se revezando.
NEGÓCIO MILIONÁRIO
Os dados da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia) comprovam o sucesso dos cruzeiros temáticos, que movimenta e muito o mercado de turismo no País. Para se ter uma ideia, a temporada de cruzeiros de 2021 e 2022 injetou R$ 1,4 bilhão na economia nacional.
A reportagem de OFuxico apurou que a PromoAção investe entre R$ 15 milhões e R$ 25 milhões na organização de cada evento. Em todos eles, os pacotes de acomodações incluem alimentação completa (café da manhã, almoço, café da tarde, jantar, buffet da madrugada). Bebidas não estão inclusas.
Piscinas também ficam disponíveis para quem quiser curtir e se refrescar. Os cassinos, liberados, com apostas em dólar, moeda vigente à bordo, fazem a alegria dos apostadores.
QUEM IDEALIZA OS CRUZEIROS TEMÁTICOS?
O boom das embarcações temáticas se apefeiçoou e tomou as proporções atuais a partir da ideia do empresário Eduardo Cristófaro. Com outros dois sócios, João Carlos Ribeiro e Bruno Ribeiro, ele fundou a PromoAção, principal realizadora do gênero no país.
A reportagem de OFuxico conversou com João Carlos, o Joca, diretor artístico da PromoAção, para entender melhor a engrenagem dos cruzeiros temáticos. Joca explicou como é feita a negociação financeira, como são escolhidos os titulares dos navios e os convidados. Léo Santana, por exemplo, não tem um navio pra chamar de seu, mas marca presença em quase todos eles com sua música, sempre como principal nome.
Ao que tudo indica e por onde os mares levam, essa tendência em alto mar veio pra ficar!
Confira!
OFuxico: Por que vocês resolveram apostar e investir nos cruzeiros temáticos?
Joca: Há 20 anos o Eduardo Cristófaro, fundador e presidente da PromoAção, teve a ideia de fazer eventos musicais e começou com música eletrônica. Depois criou o ‘Energia’, navio de flashback. A ideia original foi dele e foi sendo aprimorada até os dias de hoje
OFuxico: Como funciona, o “artista tema” aluga o navio? Ele é contratado por vocês?
Joca: Os navios são parcerias entre a PromoAção os escritórios de artistas do Brasil, geralmente um projeto a quatro mãos. Nós temos ideias, às vezes o próprio artista tem a inciativa de querer fazer o próprio navio. Hoje, em função d sucesso que a gente tem feito, existem mais possibilidades, mais artistas e a gente consegue fretar o navio. Mas é sempre um projeto dos dois lados, um acordo nosso com os artistas. Eles têm participação no resultado financeiro, mas os riscos são todos nossos.
OFuxico: E os artistas que se apresentam, como funciona o cachê?
Joca: Os artistas convidados recebe cachê como se fosse um festival, como as grandes festas que acontecem, como rodeios, festas temáticas, etc. É um festival de artistas nacionais, porém realizado num navio. Todos recebem cachê.
OFuxico: Quantos cruzeiros a promoção terá ainda este ano, no Brasil e no exterior?
Joca: Nessa temporada 2023/ 2024, nós vamos fazer 20 cruzeiros. Esse ano vamos começar nossa expansão internacional, com dois cruzeiros na Flórida. Um com Chitãozinho e Xororó, outro com Wesley Safadão. Depois vamos fazer 17 cruzeiros aqui no Brasil entre novembro, dezembro e março e em maio a gente encerra temporada na Europa com um cruzeiro que vai sair de Lisboa até Barcelona e volta.
OFuxico: Qual a expectativa total de público ou uma média em cada um?
Joca: Nossos cruzeiros têm entre 3.500 e 4 mil pessoas. Neste momento, essa é a expectativa que a gente tem e, graças a Deus, é o que a gente tem conseguido. Saímos sempre com a capacidade que foram programados.
OFuxico: Qual segmento tem mais procura?
Joca: A gente tem uma diversidade muito grande, não existe uma procura maior ou menor, por incrível que pareça temos cruzeiros para todos os gostos O Gloob, que é infantil, os de música eletrônica, para jovens, pop rock, sertanejo, samba, MPB, flashback, são muitos cruzeiros. Por força do nosso estilo de trabalho, temos todos os segmentos nos nossos navios.
CONFIRA ALGUNS CRUZEIROS
Navio Luan
Realizado entre os dias 10 e 13 de março, reuniu 3.600 pessoas à bordo do MSC Fantasia, marcando as comemorações do aniversário de 32 anos do artista.
Luan fez dois shows à bordo e o público ainda teve a oportunidade de se divertir ao som de Maiara e Maraísa, Gustavo Mioto, Zé Neto e Cristiano, Marcos e Belutti, Junno Andrade e Léo Santana.
Para embarcar no “meteoro marítimo” do cantor, os fã gastaram entre R$ 2.553 (em cabine quádrupla interna sem janela), a R$ 10.800, em cabine dupla na categoria Yacht Club (que dá direito a bebidas inclusas e acesso a festa exclusiva). Além disso, foi necessário pagar mais R$ 600 em taxas.
Navio da Xuxa
Com lotação esgotada e procuradíssimo desde que foi anunciado, o cruzeiro marcou o ápice das comemorações dos 60 anos da eterna Rainha dos Baixinhos.
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Entre as atrações – que incluíram hits da aniversariante no stlist – estavam KLB, Daniela Mercury, Claudia Leitte, Gloria Groove, Junno Andrade e Ana Carolina. Sergio Mallandro não poderia ficar de fora e fez um stand-up, assim como Eri Johnson.
Xuxa Meneghel fez questão de retribuir o carinho dos fãs e a cada dia sorteava 500 deles (no melhor estilo “bolo de cartas”, que havia no extinto “Xou da Xuxa”) para que tirassem uma foto com ela. Rainha, né, mores?
O ápice, como não poderia deixar de ser foi o show da loira, com direito a Sasha se acabando como uma verdadeira baixinha, a maravilhosa nave, paquitas, paquitos e muito, mas muito choro por todo lado.
Os fãs que fizeram parte dessa experiência tiveram que desembolsar entre R$ 3.200 – valor da cabine mais barata – e R$ 6.700, referente à mais cara.
Navio Wesley Safadão
Depois de 4 temporadas de absoluto sucesso no Brasil, somando mais de 25 mil passageiros, o WS On Board, de Wesley Safadão, será realizado na Flórida entre os dias 10 e 13 de Julho.
Uma ilha paradisíaca no caribe, totalmente exclusiva, será transformada em “Ilha do Safadão” nas Bahamas. O cruzeiro, no MSC Seaside, um dos navios mais completos do mundo, será registrado para sempre com a gravação do novo DVD do artista.
Além do anfitrião, estão Bell Marques, Ludmilla, Leo Santana, Zé Neto e Cristiano, Dubdogz, Murilo Huff, Eric Land, Marcynho Sensação e Tirullipa.
Navio Ch & X
Comemorando meio século, a aclamada dupla sertaneja apresentará uma programação baseada no show “50 anos – Por Todos os Tempos” em uma ilha em Porto Canaveral, nos Estados Unidos.
Navio Cabaré
A segunda edição do “maior cabaré do mundo em alto mar” vai acontecer entre os dias 12 e 15 de novembro, à bordo do MSC Preziosa.
Além de muito modão raiz sob o comando de Leonardo e a dupla Bruno & Marrone, o público poderá curtir a música de Edson & Hudson e Gian & Giovani com o projeto Boate Azul, Diego & Victor Hugo e Yasmin Santos.
Navio Alexandre Pires
Programado para o período de 01 a 04 de Dezembro de 2023, Alexandre Pires, fará o maior projeto da sua carreira.
À bordo do MSC Precioza, ele receberá Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Alcione, Xanddy Harmonia e Dennis DJ.
No ano passado, o “nego véio” – como o Mineirinho gosta de ser chamado – teve lotação esgotada em sua primeira experiência em alto mar.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino