A Dona do Pedaço: Saiba tudo sobre a cenografia da trama

Por - 20/05/19 às 08:25

Divulgação/A Dona do Pedaço/TV Globo/João Miguel Júnior

Vem das artes plásticas, da fotografia e do cinema a inspiração para a diretora Amora Mautner e equipes de direção de arte e de cenografia, que têm Valdy Lopes, Alexandre Gomes, Anne Bourgeois e Claudiney Barino à frente, desenvolverem a estética de A Dona de Pedaço. O prólogo, a primeira e a segunda fases da novela trazem referências conhecidas.

“Os Irmãos Coen estão na junção das estampas e nas questões geométricas e florais. Assim como o (David) Lynch na intensidade de cores, nos enquadramentos dos carros e na maneira de ver as estradas. Tem muita coisa que é inspirada nas fontes de onde fomos bebendo, além de juntar com a nossa imaginação”, explica o diretor de arte Valdy Lopes.  

A novela se inicia com um prólogo, na década de 1970. Ainda no primeiro capítulo, uma passagem de tempo de cerca de 20 anos situa a trama na primeira fase. No início da segunda semana da novela no ar, outros 20 anos se passam, e a novela chega a 2019. 

“Temos fases distintas e o desafio de diferenciá-las. Optamos por marcar, por exemplo, pelos carros, que são de época, assim como alguns utensílios de cozinha. Mas sem levantar uma bandeira tão datada de ‘estamos nos anos 1970, 1990 e nos 2000 atuais’. É uma passagem sutil. Mas as paletas vermelha e azul, dos Ramirez e dos Matheus, respectivamente, vão passar pela novela inteira”, conta Valdy.  

A dualidade desses clãs protagonistas pode ser percebida através de marcações que envolvem antagonismos como quente X frio, estampado X liso.

“É bem sutil. Os Matheus usam jeans escuro, marrom escuro e azul e os Ramirez, tons mais terrosos e vermelhos. Por isso, a casa deles tem o telhado vermelho, assim como as janelas são marcadas com a mesma cor. A Maria tem esse símbolo sanguíneo, vamos dizer assim. E uma coisa que unifica tudo isso é a paisagem dourada que a gente criou”, comenta Valdy.  

No caso de Amadeu (Marcos Palmeira), o azul é que dá o tom no universo do personagem.

“Os Matheus têm um universo mais seco do que o dos Ramirez. Maria da Paz ainda tem o calor do bolo e do fogo. A casa dele tem um marrom, um verde escuro, e a casa dela é vermelha com papel de parede de rosas vermelhas. E os objetos da casa dele são bem mais ‘secos’. A dela tem muito mais coisas, é bem mais humanizada”, compara Anne Bourgeois, que assina a cenografia da novela ao lado de Alexandre Gomes e Claudiney Barino.   

As gravações da novela começaram em locações no Rio Grande do Sul, nas cidades de Jaguarão, Nova Esperança do Sul e São Gabriel, onde a equipe e o elenco passaram cerca de 30 dias. Lá foram gravadas as principais cenas dos sítios dos Ramirez e dos Matheus, alguns conflitos entre as famílias, os primeiros encontros de Maria da Paz e Amadeu e parte do casamento, onde acontece a tragédia.

Incontáveis quilômetros quadrados do set foram cobertos de feno para imprimir uma paisagem árida. Esses fenos também foram trazidos para o Rio de Janeiro por conta da continuidade das cenas nos estúdios.   

A decoração das casas das famílias também recebeu um tratamento especial das equipes de direção de arte e de cenografia. Para ganhar um aspecto de envelhecidas, no caso da primeira fase, elas foram revestidas internamente com papel de parede. Foram colocadas luzes fluorescentes tanto dentro quanto fora, nas fachadas das residências.

Quando chega à segunda fase, em São Paulo, a novela mantém a estética pop através de intervenções pontuais em locações-chave.

“O apartamento da Maria da Paz, em São Paulo, tem um vermelho muito presente. A encomenda é que a gente faça um melodrama pop, por isso também decidimos trabalhar com muita estampa e alguns exageros”, garante Anne Bourgeois.   

A primeira casa que Maria da Paz adquire com o dinheiro de seu trabalho entrega muito de sua personalidade. Já a segunda residência, para onde ela se muda por influência de Régis (Reynaldo Gianecchini) e Josiane (Agatha Moreira), é um verdadeiro palacete, com o qual não se identifica.

“A primeira casa é exuberante como ela. É um apartamento amplo, com uma foto dela imensa na parede, peças de decoração de animais, detalhes em dourado. Não é um estilo kitsch, é over mesmo. Mas tem a cara dela, foi feita de acordo com o gosto dela, são as coisas que ela comprou”, explica Anne.

Ela ainda conceitua a outra morada da protagonista.

“A mansão é decorada por um arquiteto. E, ao chegar, Maria não sabe se relacionar com aquilo tudo. Fica catatônica com o sofá caríssimo. Não entende aquele minimalismo, sequer sabe usar as louças e os acessórios do banheiro”.  

Ainda para contar a história, duas cidades cenográficas foram erguidas nos Estúdios da Globo e vão reproduzir os tradicionais bairros paulistanos do Bixiga e dos Jardins. Por lá, ficam as fachadas das casas de Antero (Ary Fontoura), Marlene (Suely Franco) e Dorotéia (Rosi Campos), além de shopping, academia, restaurantes e da fábrica de bolos, que vai funcionar a pleno vapor. Dentro dela, no mezanino, fica o escritório de Maria da Paz, com uma visão geral de todo o processo de produção de seus bolos. Serão 4600m² só na parte do Bixiga e mais 3800 m² nos Jardins.

“A fábrica se destaca porque é o maior prédio das cidades cenográficas, é meio asséptica, com cores mais claras”, explica Barino.

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