Ângelo Paes Leme: “Não acredito na racionalização do trabalho do artista”

Por - 13/04/13 às 17:04

Luiza Dantas/Carta Z Notícias

O entusiasmo é evidente nos olhos de Ângelo Paes Leme quando o assunto é a minissérie José do Egito. Aos 39 anos e com 20 de carreira, o ator carioca protagoniza a produção bíblica a partir da fase adulta de José. E estabelece, sem receios, que o papel é um destaque em sua carreira, tanto pela complexidade de emoções da trama quanto pela construção de um personagem tão distante de sua realidade.

"A minha intuição disse que José era um homem que perdeu tudo: família, cultura e liberdade. E isso significa, praticamente, morrer. Porque ele tem de se descobrir de novo ao longo da história", explica.

Na trama de Vivian de Oliveira, inspirada nos contos do Antigo Testamento da Bíblia, José tem um dom divino de interpretar sonhos. Primeiro filho de Jacó com sua amada Raquel, de Mylla Christie, o rapaz acaba sendo o herdeiro 
preferido do pai. Essa predileção desperta a inveja em seus irmãos, que, por vingança, vendem José como escravo para um mercador egípcio. Apesar de passar por situações difíceis, ele não perde a fé em Deus. Com o tempo, o personagem de Ângelo ganha a confiança de pessoas importantes do governo local e acaba virando Governador do 
Egito.

"No começo, ele sente ódio dos irmãos, mas depois percebe que precisava passar por tudo isso para poder chegar onde chegou", resume.

A tal intuição, inclusive, é o ponto de partida do ator para a composição de todos os seus personagens. E com o filho de Jacó não seria diferente.

"Eu não acredito na racionalização do trabalho do artista", confessa.

Após estudar a Bíblia e os textos de Vivian de Oliveira, foi com ela que Ângelo começou a elaborar o seu José.

"Eu busco a verdade em cena e não a superinterpretação. Então, eu sinto o que o personagem sente. O José, por exemplo, depois de sofrer, percebe que precisa de um sentido para a sua vida e transforma o ódio em amor", argumenta.

Um dos destaques do personagem é a sua caracterização. Para aproximar a imagem de José à de um egípcio comum, Ângelo teve de tingir o cabelo, se submeter a sessões de depilação corporal, bronzeamento artificial e maquiagem 
étnica. A minissérie também conta com uma grande passagem de tempo no decorrer de sua trama. Por isso, foi usada uma técnica importada de envelhecimento no ator, em que uma pele artificial foi "colada" em seu rosto dando um 
aspecto de rugas.

"Eram praticamente duas horas para preparar toda a caracterização do personagem de tão detalhada", conta.

Mas, para Ângelo, sua principal preparação para protagonizar uma superprodução como José do Egito é a maturidade que adquiriu ao longo dos anos como ator. Quando compara os trabalhos que teve na Globo com os que está fazendo na Record – desde que assinou com a emissora em 2006 , por exemplo, ele ressalta que teve bons personagens 
nos dois locais. Mas que, atualmente, consegue papéis mais consistentes por causa da maturidade 
e, consequentemente, do acmulo de bagagem emocional.

"A Record me pegou em uma fase diferente da Globo. Eu já havia envelhecido um pouco e acumulado experiências. Logo, os papéis que faço agora têm a ver com esse momento mais maduro da minha carreira", acredita.

Diferentemente de grande parte dos atores que sonham com a carreira artística desde a infância, Ângelo entrou para o universo da interpretação quase que por acaso. Por influência de seu pai, que é violinista, ele se interessava 
por música quando criança e, aos 12 anos, já sabia tocar violão. Habilidade que levou uma vizinha a convidá-lo para substituir um ator em uma peça de fim de ano do Tablado – renomado curso de interpretação do Rio de Janeiro –, seu 
primeiro contato com os palcos. A partir daí, Ângelo percebeu que queria ser ator.

"Entendi que era isso que eu queria para a minha vida quando comecei a deixar de fazer outras atividades, como ir a praia com meus amigos, para ter aulas de teatro. E estava feliz assim", relembra.

Fora do ar
Oriundo do teatro e com uma carreira sólida na televisão, Ângelo Paes Leme destaca o cinema como uma grande fonte de inspiração. Não é à toa que, antes de assinar seu primeiro contrato com a Record, o ator optou por se dedicar a 
projetos de longas-metragens por dois anos. Nesse período, participou de produções como Muito Gelo e Dois Dedos d'Água, dirigido por Daniel Filho, e Ópera do Mallandro, com direção de André Moraes.

"Essa experiência foi muito significativa para mim, me ajudou a crescer como ator", analisa.

Atualmente, Ângelo está produzindo o filme Dias Quentes. Além de assinar o roteiro do longa junto com sua mulher, a também atriz Ana Sophia Folch, ele será um dos protagonistas ao lado de Lázaro Ramos. Com direção de Lírio 
Ferreira, a produção é baseada em duas obras literárias.

"O roteiro é inspirado em dois livros da escritora Ana Paula Maia, A Guerra dos Bastardos e Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, e conta a história de uma dupla", adianta.

Instantâneas
 

# O primeiro trabalho de Ângelo Paes Leme na tevê foi na minissérie Contos de Verão, exibida em 1993.

# No mesmo ano, o ator foi chamado para sua primeira novela, Sonho Meu, de Marcílio Moraes, Margareth Boury e Maria Adelaide Amaral.

# O convite para a Record surgiu através do diretor Alexandre Avancini, que já tinha um papel para Ângelo no folhetim Vidas Opostas.

# Este ano, o ator volta aos palcos com a peça A Confissão, dirigida por Walter Lima Jr.

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