As teorias mais faladas na internet sobre o filme O Poço

Por - 03/04/20 às 07:00

Divulgação

Primeiro lugar por alguns dias no ranking das produções mais assistidas no Brasil pela Netflix, o filme espanhol O Poço (The Platform, em inglês), chegou no dia 20 de março na plataforma e garantiu grande aprovação brasileira além das boas notas vindas da crítica especializada, como as quatro estrelas de cinco dadas pelo jornal The Guardian.

A premissa do longa é mostrar uma sociedade onde existe uma prisão vertical com incontáveis níveis, na qual as pessoas são admitidas por cometerem um crime ou passam por uma entrevista quando querem admissão voluntária em troca de um título para ascender socialmente. E ao que parece, as opções de “punição” para aqueles que agem fora da lei são mais limitadas, como o próprio Trimagasi (Zorion Eguileor) diz em certa cena.

Cada cela possui duas pessoas, cada uma de um lado do buraco central por onde desce uma plataforma, uma vez ao dia, com comida e que para por dois minutos no local para que a dupla se alimente. O problema: quanto mais baixo você está, mais fortes são as chances de não sobrar nenhuma migalha, o que faz com que Goreng (Ivan Massagué) passe a vivenciar os piores momentos da psique humana e queira revolucionar o sistema ali.

O primeiro contato de Goreng com a plataforma de comida

No entanto, com um final bem aberto, o filme dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia deixou o público piradinho, pensando nas mais diversas possibilidades de respostas e significados para a história.

Vem conferir com o OFuxico as principais teorias de O Poço, ou El Hoyo, em espanhol, porém, não se esqueça dos spoilers caso não tenha assistido ainda!

Diretor

 

'Você aí de baixo! Podem me ouvir?'

Começando pela mente por trás da realização do filme, Galder Gaztelu-Urrutia chegou as dar a sua visão da obra em recentes entrevistas, como ao site iHorror.

Originalmente escrito para ser uma peça de teatro, O Poço não tem a intenção de ensinar de ensinar nada, mas sim trazer uma reflexão ao espectador sobre como se comportariam dependendo do nível em que estivesse na prisão.

“O local onde você nasceu é importante – em que país e em qual família -, mas somos todos muito parecidos. Dependendo de onde você estiver, você vai pensar e se comportar de uma maneira diferente. O filme coloca o espectador nessa situação para enfrentar os limites de sua própria solidariedade. É fácil ter solidariedade se você está no nível 6; se você tem muito, pode desistir de parte disso. Mas você terá solidariedade se não tiver o suficiente para si mesmo? Essa é a questão”, disse ele.

Em outra entrevista, ao site Cineuropa, Galder complementou seu pensamento. “Não há ataque direto a ninguém: o filme não se posiciona contra aqueles dos níveis superiores; […] o filme critica o capitalismo, mas também o sistema socialista.”

Religião

 

Goreng e a garotinha do nível 333

Uma interpretação muito falada nas redes sociais, inclusive no fórum de discussão Reddit, é visão religiosa por trás da produção.

Conforme o longa se encaminha ao fim, é revelado que o número de níveis para no 333, ou seja, metade do número 666, usado como referência ao Diabo. Como cada cela abriga duas pessoas, 333 multiplicado por dois chegaria ao valor destinado às trevas.

Sendo assim, o tal poço representa o inferno e faz uma metáfora aos setes pecados capitais: conforme se desce, se vê gula, avareza, luxúria. Enquanto isso, no nível zero, onde fica o restaurante, a filmagem tuira o diálogo e se comunica pelas cores quentes, a música de fundo e um homem chefiando o lugar para que os alimentos sejam preparados da mais perfeita forma. O toque “divino” estaria na primeira camada, como se fosse o paraíso, entregando aos detentos o seu livre arbítrio, a sua escolha na comida. A “solidariedade espontânea”, como dito muitas vezes ao longo da trama.

Goreng ainda foi muitas vezes chamado de Messias por seus colegas, por ter se sacrificado pelo bem dos outros. Então por que ele não sobe na plataforma com a garotinha encontrada no último andar?

Bom, apesar de lutar pelos presos, Goreng acabou pecando quando matou dois de seus parceiros de cela, inclusive se alimentou da carne de um para sobreviver; e também assassinou outros na trajetória para enviar a mensagem à administração de que algo no sistema do poço não estava certo.

Ao deixar apenas a menina na plataforma, surge o indício de que a criança, com toda a sua pureza e inocência, mesmo sobrevivendo no pior lugar da prisão, representaria a esperança da mudança.

E assim vemos o protagonista seguindo ao lado de Trimagasi, ou melhor, o espírito do ex-companheiro do poço que o assombrou desde a morte, para a escuridão que pode representar tanto a ascensão de Goreng aos céus por ter se arrependido dos pecados, ou o caminho para o purgatório, onde pagará por seus pecados.

Sociedade

 

'Se todo mundo aqui comesse apenas o que precisam, a comida chegaria até o níveis mais baixos'

Outra popular visão dos internautas foi a crítica ao sistema capitalista, bem parecida com a explicação do diretor, entretanto, mais dura.

Como em uma pirâmide, O Poço teria nos níveis mais próximos do restaurante, ou seja, nas camadas superiores, os privilegiados por receberem primeiramente a comida, sem tanto toque de outras pessoas. Metáfora aos ricos. Ao descer, a comida vai ficando escassa e as pessoas são ridicularizadas por quem está acima. Ilusão a desigualdade social, a injusta distribuição de recursos e riquezas.

Goreng, então, passa a tentar ser um grande revolucionário, mas é afetado pela violência, falta de suporte e percebe que a tal solidariedade espontânea parece ser de difícil alcance e acaba ameaçando os outros, reproduzindo o resultados das agressões que sofreu.

Ao encontrar a garotinha, que era buscada pela mãe Miharu (Alexandra Masangkay), ele percebe que o sistema mente e engana ao falar que ela nunca sequer existiu, porém, ele a encontra e a manda sozinha, servindo como uma mensagem de esperança e sinal de que um povo não pode ser enganado para sempre.

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