Caetano Veloso sobre Hey Jude na prisão: ‘Anúncio de coisas boas’

Por - 14/09/20 às 20:33

Divulgação/TV Globo

Caetano Veloso é um dos maiores artistas brasileiros, principalmente em relação à época da ditatura militar, na qual compôs grandes clássicos da MPB.

Por conta disso, o processo criativo rende diversas conversas interessantes, e no documentário Narciso em Férias, da Globoplay, ele faz um relato íntimo sobre um dos períodos mais difíceis de sua vida.

O momento na qual o projeto, que foi selecionado para o 77º Festival de Veneza, mais se foca é nos dias em que o músico ficou preso por conta do regime.

Na época, ele foi retirado inesperadamente de seu apartamento em São Paulo e levado para o Rio de Janeiro, na qual passou por dias de profunda angústia, mas também de esperança.

Em um dos depoimentos, ele conta como conseguiu recuperar o otimismo através de músicas como Hey Jude, dos Beatles.

“Eu fiquei muito supersticioso e, [em um determinado momento], eu voltei a acreditar na vida que eu tinha lá fora… Alguns soldados tinham rádio de pilha e, às vezes, eu ouvia a música que estava tocando”, revelou ele.

“Eu tinha medo de barata, por exemplo, e aparecer uma era um sinal horrível de mau agouro, más notícias no futuro. E as canções que tocavam, algumas podiam ser negativas e positivas”, continuou, detalhando mais a importância de Hey Jude com uma das músicas positivas.

“Quando tocava, era sinal de que ia melhorar minha situação. Os portões iam se abrir, a luz ia ser vista de novo. Aquele final, com aquele coral repetido, os acordes maiores… eu tomava aquilo como sendo um anúncio de coisas boas. Me dava a impressão de anúncio de libertação”, concluiu Caetano Veloso.

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Cartaz de Narciso em Férias traz foto rara de Caetano Veloso

 

O cartaz de Narciso em Férias, filme brasileiro que estreou mundialmente no 77º Festival de Veneza dia 7 de setembro, traz uma foto rara de Caetano Veloso preso.

A imagem, descoberta pelo pesquisador Lucas Pedretti, faz parte dos arquivos secretos mantidos pela ditadura militar. Caetano foi preso em dezembro de 1968 e a fotografia foi tirada no início de 1969. 

Na foto do cartaz, Caetano aparece com o cabelo curto, raspado dos lados. Ele havia acabado de ter seus longos cachos cortados pelos militares. O episódio é recordado pelo artista em Narciso em Férias como um dos momentos de maior tensão de seu período na prisão.

“Eles me tiraram da cela e disseram: ‘Ande em frente e não olhe para trás!’. Eu pensei que eles iam atirar”, recordou.

“Mas eles me levaram no barbeiro. Eu tinha um cabelo grande, todo cacheado, grandão, e eles cortaram meu cabelo. Eu fiquei feliz porque não ia morrer, e eu não podia nem demonstrar a minha felicidade, adorando aquele barbeiro cortando o meu cabelo”, frisou ele.

O cartaz do documentário é assinado pela designer Claudia Warrak. A imagem de Caetano preso também ilustrará a capa do livro “Narciso em Férias”, que a Companhia das Letras lança este mês.

Caetano Veloso em clique raro

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