Cena do beijo entre Junior e Zeca foi gravada sete vezes

Por - 08/11/05 às 17:00

Divulgação / TV Globo

Com a postura de quem quer colocar um ponto final na dúvida que surgiu sobre a responsabilidade pela não exibição do beijo entre Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro), no último capítulo de América, a autora Glória Perez detalhou para OFuxico onde e como foi gravada a cena, vetada pela alta cúpula da Globo.

A autora lembrou ainda que os dados oficiais do IBOPE devem comprovar que a trama obteve audiência maior que o final da Copa do Mundo de 2002. Ela ainda afirma que não perderia a chance de escrever o primeiro beijo gay de uma telenovela brasileira.

“O Marquinhos (Marcos Schchtman) dirigiu a cena do beijo entre o Junior e o Zeca no mesmo ambiente da festa do casamento de Neuta (Eliane Giardini) e Dinho (Murilo Rosa). Óbvio, que como a situação pedia e como é comum em gravações de certas cenas, ela não foi escancarada, na frente de todo mundo. Não houve essa outra bobagem, que estão dizendo, de que existia sete versões para o beijo. Os atores repetiram a mesma cena por sete vezes, como é comum. Quem conhece o mínimo de televisão, sabe que se repete e grava-se por parte as cenas de uma novela. Então, o Marquinho gravou a aproximação do casal (a que foi exibida), o beijo, depois só o Bruno e depois só o Erom e por aí adiante”.

Para não ficar dúvidas de que existia mais de uma versão para a cena ou de que houve alguma exceção durante a realização da mesma, Glória Perez cita um exemplo: o casamento de Feitosa (Aílton Graça) e Islene (Paula Bulamarqui).

“Quem estava lá na Estudantina viu como a banda toca. Gravou-se primeiro os convidados, depois a entrada do noivo, ele no altar, em seguida a entrada da noiva, e, na hora do beijo, foi feito a mesma coisa que aconteceu com os meninos. E Feitosa e Islene tiveram de se beijar várias vezes, até o diretor dar o ‘ok’. Televisão é isso: uma mesma cena é repetida várias vezes. Mas isso não significa que se tenha várias versões. Só quem é leigo no assunto, pensa que as coisas são feitas dentro do esquema ‘vapt-vupt’”, ensina a autora.

Como é de seu feitio, Glória, com total franqueza, contou que na tarde de sexta-feira, 4, ela e o diretor Marcos Schchtman levaram a fita da gravação para uma reunião com a alta cúpula da Globo.

“Como escritora, eu penso de um jeito. O Marquinhos, como diretor, pensa do jeito dele. E de comum acordo, a cena foi feita. Mas sabemos que a emissora tem o direito de pensar diferente. Não sou dona da Globo e tenho que me sujeitar às decisões da casa. Então, fomos informados pela alta cúpula que a emissora não julgou conveniente a exibição do beijo e cortou o final. Posso garantir que foi com muita luta que eu e Marquinhos conseguimos que na edição final do capítulo ficasse o que foi mostrado”, cita Glória.

A autora acrescenta que a pretensão dela e do diretor era de que cena do beijo passasse sem estardalhaços, como aconteceu na que os dois personagens deram as mãos, comprovando que entre Junior e Zeca existia algo bem maior que amizade.

“O beijo era apenas uma forma sutil de coroar aquele amor, porque a maior ousadia da novela foi ter colocado a Neuta aceitando a condição homossexual do filho. Não acredito que ela chocaria os telespectadores, já que nas paradas gays, que ocorrem aqui em Copacabana, eu canso de ver da minha janela um bando de criancinhas acompanhando os pais, heteros, nas passeatas, com total naturalidade. E os telejornais, inclusive o RJ-TV exibido às 19h, passam cenas de gays e lésbicas se beijando nessas paradas”.

Sobre as versões que alguns jornais publicaram e nas quais o diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger, teria isentado a emissora e jogado a responsabilidade para cima dela, a autora desabafa:

“Fiquei pasma ao ler tais declarações. Achei uma barbaridade, porque parece que eu, o diretor e os atores somos um bando de mentirosos. Eu não precisava usar desse artifício como marketing, porque a novela já estava arrebentando em audiência. Os dados preliminares já apontam e os oficiais certamente vão comprovar que tivemos mais audiência que o final da Copa da Mundo de 2002. Claro que não quero colocar um ponto final sobre a polêmica, porque qualquer discussão, quando verdadeira, é democrática e justa. Quero apenas que não fique dúvida sobre a minha conduta. Jamais perderia a oportunidade de escrever o primeiro beijo gay da história da televisão brasileira”, conclui a vitoriosa autora.      

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