Emicida no Domingão: ‘Não existe democracia racial no Brasil’
Por Redação - 15/06/20 às 12:00
No último domingo (14), Emicida fez uma participação especial no Domingão do Faustão e conversou com o apresentador sobre o momento atual da sociedade brasileira, racismo, que é um assunto bastante em evidência atualmente, pandemia, violência doméstica e muito mais.
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Ele começou falando que a pandemia está servindo para muitas coisas ficarem esclarecidas e uma delas, infelizmente, é o quanto a desigualdade social e econômica ficou mais marcante.
“As mudanças que a gente precisa não estão necessariamente ligadas ao corona. A pandemia não é uma escolinha onde a gente está aprendendo como é importante a gente se entender como humano e ajudar todos os outros. A gente está vivendo um paradoxo triste. Por um lado, a gente enfrenta um vírus que se espalha muito rápido, mas que não tem uma letalidade tão grande, agora, o que é extremamente letal são os abismos sociais que a nossa sociedade produziu e finge que não existe. Todas as pessoas estão sujeitas a se contaminar com o COVID-19, mas nem todas as pessoas podem se tratar após se contaminar", disse.
Emicida ainda disse que o caminho é longo para que possa se orgulhar da sociedade. "Tem um caminho muito longo pela frente pra gente chegar num lugar que a gente se orgulhe quanto sociedade. A gente está colocando tijolinho por tijolinho para construir essa ponte que vai levar a gente para um lugar melhor", acrescentou.
Quando o assunto se tornou o racismo, trazendo à tona a morte de George Floyd, Emicida falou das manifestações feitas no Brasil com relação ao assunto e disse que a sociedade brasileira trata o racismo de uma forma “superficial”.
"A forma superficial como a qual sociedade brasileira lida com o racismo. A gente finge que isso é um problema de lugares como África do Sul ou dos Estados Unidos. O imaginário do brasileiro foi conduzido através de uma reflexão que faz ele acreditar que vive de fato numa democracia racial, quando isso não é verdade. E é por isso quando uma nova geração emerge e traz à tona um discurso de que não, a gente não vive uma democracia racial, a gente vive um estado de desespero, de emergência, que quanto mais escura a cor da sua pele mais perigoso é. Essa tragédia que aconteceu com o George Floyd ela está fazendo o mundo inteiro fazer uma reflexão a respeito de como estruturalmente muitas pessoas, mesmo que não percebam, corroboram com essa estrutura racista", afirmou.
Depois de falar sobre um assunto mais leve, que é sua família, já que é casado com Maria Santa Helena e é pai de Teresa e Estela, Emicida comentou sobre a violência doméstica, que aumentou durante a quarentena da pandemia.
"Me recordo dos primeiros anos da minha vida que a gente morava num cortiço e tinha uma casa que era colada parede com parede. O marido agredia a mulher dia após dia e esse, inclusive, foi o motivo pelo qual fez a minha mãe mudar dali. Estou falando sobre os anos 80, mas a gente não pode agir como se isso não fizesse parte da realidade desse país nos dias de hoje. A violência contra a mulher, infelizmente, ainda faz parte da nossa realidade. Nesse momento que estamos reclusos, muitas mulheres estão trancadas com seus agressores”, afirmou.
O rapper também relembrou que isso também uma realidade vivida por mulheres trans.
“Mulheres trans também estão sendo vítimas dessa agressão e dessa violência doméstica. Tem projetos de lei para que elas também sejam protegidas pela Lei Maria da Penha”.
Emicida também comentou sobre outra taxa que tem aumentado durante a pandemia: o trabalho infantil. Para ele, o ambiente econômico atual faz com que crianças sejam submetidas a jornadas de trabalho desgastantes.
“A gente já vem do ambiente econômico de muita retração, muitas pessoas estão sendo empurradas de maneira agressiva para as margens, tendo que se agarrar a qualquer coisa que apareça. Esse desespero está fazendo com que muitas famílias tenham que submeter crianças a jornadas de trabalho que são desgastantes, perigosas e insalubres até para os adultos”, finalizou.
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