Emílio de Mello destaca atitude vanguardista de seu papel em Lado a Lado

Por - 16/02/13 às 14:02

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Noticias

Emílio de Mello se encantou com seu personagem, o jornalista Carlos Guerra, de Lado a Lado. O ator, com vasta experiência no teatro e no cinema, cada vez mais se incorpora ao ambiente televisivo. Antes mesmo de começar a gravar, ele se animou com a personalidade do homem que iria interpretar. Hoje, após alguns meses na pele de Carlos Guerra, Emílio exalta o lado inquieto do papel.

"É um dado de modernidade do personagem que eu gosto muito. Não é que ele não queira casar porque não gosta da Celinha. Ele não quer casar porque quer instaurar um novo padrão", acredita, citando a personagem de Isabela Garcia.

O Fuxico: Antes do início da novela, você declarou que estava satisfeito em interpretar Carlos Guerra por se tratar de um personagem com senso crítico aflorado e que ressalta o processo de formação da cultura brasileira que acontecia naquele tempo. No decorrer da trama, houve algum acontecimento que o surpreendeu?

Emilio de Mello: Durante o transcorrer da novela, aconteceram coisas que eu não imaginava. O Guerra é moderno. E a novela trata de questões éticas, como os padrões sociais. Existiam aqueles padrões e existiam pessoas que eram contra, como a Laura (Marjorie Estiano), que trabalha. Eu não via o Guerra como um cara assim. Eu o via como um jornalista muito ético, de esquerda, mas não um cara moderno. Quando pintou a relação com a Celinha (Isabela Garcia), eu percebi que ele tem uma modernidade. Ele fala muito: "seria tão bom ficar assim, cada um na sua casa", que é uma coisa que não existia, principalmente com personagens mais velhos. Eles têm na faixa de 40 anos. Com essa idade, as pessoas já tinham quase netos. Ele propõe um tipo de relação moderna para época e isso eu acho muito legal.

OF:  E você identifica essa modernidade em sua personalidade? Existe alguma característica sua no Carlos Guerra?

EM: É muito difícil você não usar nada seu nos seus personagens. Quando você pega um personagem e vai sempre pelo seu prisma, é a sua maneira de ver. Eu tento sempre abrir a minha cabeça quando tenho um personagem e olhá-lo da maneira mais abrangente possível, criar um eixo aberto para que esse personagem possa ter muito mais do que as minhas vivências. Depois, tem as indicações dos autores, dos diretores. Elas vão recheando essa nossa concepção. Eu costumo dizer que, na televisão, quem faz o recorte do personagem não somos nós, que estamos aqui trabalhando e criando ele, é o público que está vendo. Eu observo nas ruas que o Guerra é muito querido, as pessoas falam com muito carinho. Essa relação com a Celinha é muito bem quista pelo público, então tem uma simpatia aí que eu adoro.

OF: Você já participou de trabalhos no cinema e no teatro e até em minisséries na televisão. Mas só agora, em Lado a Lado, e após passar por Cordel Encantado, que tem aparecido mais para o grande pblico. Como lidar com essa exposição maior? 

EM: Eu lembro muito que, quando comecei a fazer teatro no Rio, em 1989, fiz uma peça e, uma vez, estava pegando um ônibus e uma moça falou: "vi sua peça ontem". E isso é sempre muito bom. Para as pessoas falarem com você é porque gostaram do que viram. A função do nosso trabalho é essa: a gente quer conquistar realmente o público. E isso na televisão é incrível. É muito gratificante para qualquer ator, qualquer artista, quando você tem o seu trabalho reconhecido de alguma forma.

OF: Em 2000, você foi agraciado por um programa de formação artística e cultural do Ministério da Cultura, a Bolsa Virtuose. Com isso, passou um ano em Paris e Moscou, desenvolvendo uma pesquisa sobre a metodologia do trabalho do ator. Que importância teve essa experiência para o crescimento da sua carreira?  

EM: Teve importância total. Naquele momento, eu estava precisando dar um salto. Precisava entender melhor o meu trabalho e o processo de criação. Essa experiência me levou para a outra área que comecei a exercer, que é a de direção. Tendo informações sobre isso, eu consegui ter esse olhar do processo de criação e tentar colaborar com ele. E, hoje em dia, o fato de dirigir me ajuda muito em atuar. Eu tenho um diálogo muito legal com meus colegas da novela. 

OF: Você já trabalhou como diretor, produtor e ator de teatro. Também atuou em produções do cinema e da televisão.  Após participar dessas diversas áreas, o que mais almeja no meio artístico?

EM: Eu quero sempre trabalhar. Não quero me acomodar. Quero realmente ficar bem longe daquele ator que só faz um tipo de coisa, que não é muito a minha cara. E sempre me desafiando. À medida que o ator tem trabalhos que o desafie, ele nunca vai ficar parado. O meu sonho seria poder ter esses desafios para chegar assim como o Paulo Autran chegou na época dele. Eu me lembro que vi uma das últimas peças que ele fez e achei incrível porque ele tinha sempre uma modernidade. Era mais moderno que os atores que contracenavam com ele, apesar de mais novos.


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