Falas Negras: Lázaro Ramos dirige especial com elenco 100% preto

Por - 20/11/20 às 00:00

Divulgação/Victor Pollak/TV Globo

Autora de Amor de Mãe, novela que voltará a ser exibida na Globo em janeiro de 20201, Manoela Dias idealizou o Falas Negras, especial – com toda a redundância possível, realmente especial – que vai ao ar na emissora nesta sexta-feira (20), Dia de Zumbi dos Palmares e Dia da Consciência Negra.

Na atração, sob direção de Lázaro Ramos, 22 atores negros interpretam depoimentos reais de personalidades afrodescendentes, reproduzindo registros históricos ou em vídeo. Tudo realizado graça a um minucioso trabalho de pesquisa feito por Thais Fragozo e a antropóloga Aline Maia. 

O espírito de luta e de resistência dos povos negros em diáspora (fenômeno sociocultural e histórico que ocorreu em países além do continente africano devido à imigração forçada, por fins escravagistas mercantis que penduraram da Idade Moderna ao final do século XIX, de africanos) será mostrado e o público terá a oportunidade de avaliar que a questão de cada um permanece atual.

Como diretor, Lázaro volta a trabalhar com a mulher, Taís Araújo. É dela a interpretação de Marielle Franco. Foi Manuela Dias quem escolheu a atriz para o papel.

Direção à distância

Com 10 dias de ensaio de forma remota, por conta da pandemia, Lázaro Ramos e a assistente de direção Mayara Pacífico destaca as falas autobiográficas – não há diálogos – apresentadas de forma atemporal e com trilha sonora cuidada por Simoninha

Apesar da grande vontade de interpretar u de seus heróis – Martin Luther King – o diretor limitou-se a ficar por trás das câmeras. Falas Negras marca o primeiro trabalho de Babu Santana na Globo, após o Big Brother Brasil 20.  

 

Perfis dos personagens

Nzinga Mbandi (Heloisa Jorge) – A rainha do Reino do Dongo e Matamba nasceu na Angola e viveu entre 1583 a 1663, e simboliza a resistência africana à colonização e a comercialização de escravos. Foi uma rainha combatente, destemida, chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de idade.

Olaudah Equiano (Fabrício Boliveira) – O escritor nigeriano, que viveu entre 1745 e 1797, foi sequestrado e escravizado quando tinha 11 anos e negociado por comerciantes locais. Ele foi enviado através do Atlântico para Barbados e depois para a Virgínia. Por lá foi vendido a um oficial da Marinha Real, com quem viajou pelos oceanos por cerca de oito anos, período em que aprendeu a ler e escrever. Conseguiu comprar a própria liberdade, e, em Londres, ele se envolveu no movimento para abolir a escravidão. Em 1789, ele publicou sua autobiografia, que é um dos primeiros livros publicados por um escritor negro africano.

Toussaint Louverture (Izak Dahora) – O líder da Revolução do Haiti viveu entre 1743 e 1803, foi escravizado até os 30 anos, e ainda assim aprendeu a ler e escrever. Ao ganhar a alforria, em São Domingos (atual Haiti), Toussaint liderou o levante que conduziu os africanos escravizados a uma vitória sobre os colonizadores franceses, aboliu a escravidão no local. Capturado e preso em 1802, ele deixou o Haiti sob o comando de Jean-Jacques Dessalines, que venceu a revolução e, em 1804, proclamou a independência de São Domingos.

Harriet Tubman (Olivia Araujo) – Ex-escravizada, tem data de nascimento imprecisa, tida como 1820 ou 22, e viveu até 1913. Ela se alistou como cozinheira e enfermeira durante a Guerra Civil Americana para espionar e captar informações, e ali ajudou na fuga de centenas de escravizados dos territórios dominados das fazendas do sul dos Estados Unidos rumo ao norte do país, onde não havia escravidão, e ao Canadá.

Mahommah G. Baquaqua (Reinaldo Junior) – Ex-escravizado, viveu entre 1820 e 1857, nasceu na África Ocidental, no atual Benin, veio em um navio negreiro que aportou em Pernambuco. Mas o trabalho em um navio mercante, que o levou para Nova York, mudou sua vida completamente. Naquela época, os estados do Norte dos Estados Unidos já tinham abolido a escravidão, e Baquaqua conseguiu fugir. Em Detroit, publicou sua biografia, que é um dos poucos registros da época contados nas palavras de um negro escravizado no Brasil, e que descreve em detalhes os hediondos castigos cometidos contra os escravizados no país.

Mahommah G. Baquaqua (Reinaldo Junior)

Virgínia Leone Bicudo (Aline Deluna) – Socióloga e primeira mulher psicanalista brasileira, nasceu em São Paulo e viveu entre 1910 e 2003. Cofundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise, é uma das responsáveis por importantes publicações na área.

Luiz Gama (Flavio Bauraqui) – Importante líder abolicionista, jornalista e poeta brasileiro, nasceu em Salvador e viveu entre 1830 e 1882. Filho de um descendente de portugueses com uma escravizada liberta, a revolucionária Luiza Mahin, foi vendido pelo próprio pai, depois que sua mãe foi exilada por motivos políticos. Autodidata, se tornou um dos advogados abolicionistas mais atuantes do país, responsável pela libertação de centenas de negros mantidos no cativeiro.

Rosa Parks (Barbara Reis) – Ativista dos direitos civis, nasceu nos Estados Unidos e viveu entre 1913 a 2005. Atuava no Montgomery, capital do Estado de Alabama, no Sul dos Estados Unidos, centro dos maiores conflitos raciais do país. É tida como a “mãe do moderno movimento dos direitos civis” nos Estados Unidos.

Rosa Parks (Barbara Reis)

Nelson Mandela (Bukassa Kabengele) – Advogado, presidente da África do Sul, viveu entre 1918 e 2013. Mandela liderou o movimento contra o Apartheid – legislação que segregava os negros no país. Condenado em 1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial.

James Baldwin (Angelo Flavio) – Escritor, dramaturgo, poeta e crítico social, nasceu nos Estados Unidos e viveu entre 1924 e 1987. Na escola, seu talento para a escrita foi notado desde cedo e foi estimulado por professores. Em Paris, escreveu o livro semiautobiográfico ‘Go tell it on the mountain’, publicado em 1953 e considerado pela revista Time, em 2005, um dos 100 melhores romances de língua inglesa do século 20.

Malcolm X (Samuel Melo) – Ativista de direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1925 e 1965. Por influência dos irmãos aderiu ao islamismo. Por conta de sua inteligência, oratória, personalidade forte, logo arrebatou multidões. Com o tempo, seus discursos ficaram cada vez mais concorridos e inflamados. Assim como sua popularidade cresceu, aumentou sua rejeição e fez inimizades que o levaram a ser assassinado.

Milton Santos (Aílton Graça) – Geógrafo, jornalista, advogado e professor universitário, nasceu em São Paulo, e viveu entre 1926 e 2001. É reconhecido mundialmente como um dos maiores geógrafos brasileiros e, em 1994, foi consagrado com o Prêmio Vautrin Lud (algo como o prêmio Nobel da Geografia) e tem mais de 40 livros publicados em sete línguas.

Martin Luther King (Guilherme Silva) – Pastor batista e ativista político, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1929 e 1968. Dentro do movimento negro, lutava pela igualdade civil entre negros e brancos e tinha como estratégia de luta o método da não-violência e a pregação de amor ao próximo, inspiradas nas ideias cristãs.

Nina Simone (Ivy Souza) – Cantora, compositora e ativista pelos direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1933 e 2003. Usava suas canções para expressar sua revolta com os conflitos raciais que testemunhou desde a infância no Sul dos EUA.

Lélia Gonzalez (Mariana Nunes) – Historiadora, antropóloga e professora, nasceu em Belo Horizonte, e viveu entre 1935 e 1994. Intelectual que dedicou parte de seu trabalho a analisar os efeitos da nefasta combinação entre racismo e sexismo na situação das mulheres negras, além de discutir a linguagem e criar as noções de amefricanidade e pretuguês.

Muhammad Ali (Babu Santana) – Maior pugilista da História, eleito "O Desportista do Século", nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1942 e 2016. Ali nasceu Cassius Clay e a vitória no pugilismo veio junto com sua conversão ao islã e a mudança de nome. Ele passaria então a se chamar Muhammad Ali. Convocado, recusou-se a ir à guerra do Vietnã e desafiou o governo americano. A atitude rendeu a cassação de seu título de pesos pesados e o deixou por três anos longe dos ringues até que a Suprema Corte decidisse a seu favor.

Muhammad Ali (Babu Santana)

Angela Davis (Naruna Costa) – Filósofa e ativista, nasceu em 1944 nos Estados Unidos. Ainda adolescente ela organizou grupos de estudo inter-raciais, que acabaram perseguidos e proibidos pela polícia. Foi perseguida por sua associação com o partido comunista americano e com os Panteras Negras, condenada e presa sem provas. Depois da prisão, Angela se tornou uma influente professora de história e passou a militar contra o sistema carcerário norte-americano.

Angela Davis (Naruna Costa)

Luiza Bairros (Valdineia Soriano) – Administradora e cientista Social, nasceu em Porto Alegre, viveu entre 1953 e 2016. Foi um dos nomes mais atuantes do Movimento Negro Unificado (MNU), a principal organização da comunidade negra do país na segunda metade do século XX, também ficou marcada por sua trajetória política. Foi secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia entre 2007 e 2011 e ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, entre 2011 e 2014.

Marielle Franco (Taís Araujo) – Vereadora, socióloga, ativista de direitos humanos, nasceu no Rio de Janeiro, no Complexo da Maré, viveu entre 1979 e 2018. Eleita vereadora em 2016, presidiu a Comissão de Defesa da Mulheres e foi executada na noite de 14 de março de 2018. Sua morte virou um marco e motivou protestos por vários países do mundo. Ainda hoje o caso não foi desvendado. A vereadora defendia as causas das mulheres, negros, LGBTs e da periferia.

Mirtes Souza (Tatiana Tiburcio) – Mãe do menino Miguel Otávio, que morreu após cair de um prédio de luxo no Recife.

Neilton Matos Pinto (Silvio Guindane) – Pai do adolescente João Pedro Matos Pinto, assassinado na favela do Salgueiro, em São Gonçalo.

Neilton Matos Pinto (Silvio Guindane)

Jovem protesto George Floyd (Tulanih Pereira) – Atriz interpreta um misto de depoimentos de manifestantes à época do trágico episódio que culminou com a morte de George Floyd, dando início a uma onda de protestos em várias partes do mundo.

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