Fernanda Young diz que viver de arte no Brasil é um privilégio

Por - 24/03/13 às 10:04

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Noticias

A irreverência é uma característica marcante em Fernanda Young. Não é à toa que sua forte personalidade transparece em tudo em sua vida, desde nas roupas que veste às obras que assina. Esse é o caso, por exemplo, de sua nova série, O Dentista Mascarado, que estreia no dia 5 de abril na Globo. Dona de uma observação aguçada, as visitas ao consultório dentário sempre despertaram uma certa curiosidade artística em Fernanda.

A particularidade da produção vem de referências próximas ao universo criativo da escritora. Inspirada por seriados policiais e histórias em quadrinhos da cultura pop, ela uniu os dois mundos para escrever a história de Paladino, um dentista que, de dia, combate as cáries e, à noite, o crime, em uma mistura dos gêneros de humor – habitual nos trabalhos de Young – com policial.

"Nós não temos uma cultura policial no Brasil, mas eu sempre achei esse estrutura de solucionar crimes muito interessante para a tevê", ressalta.

Apesar de ser mais conhecida por seu lado autoral, Fernanda entrou para a tevê aos 16 anos através da Oficina de Atores da Globo. Na época, chegou a participar de algumas produções da emissora como a minissérie Iaiá Garcia, em 1989, e a novela O Dono do Mundo, em 1991. Mas sua estreia como autora só aconteceu em 1995, com a série A Comédia da Vida Privada. Esse foi, inclusive, o primeiro trabalho de Young realizado em parceria com seu marido e também roteirista Alexandre Machado. Desde então, os dois já criaram juntos mais de 10 tramas só para a televisão, entre elas o popular Os Normais, os seriados Macho Man e Os Aspones, o especial de fim de ano Nada Fofa e até um quadro para o Fantástico, o Super Sincero.

"Eu vivo de arte em um país em que isso é um privilégio, então me sinto muito afortunada", conclui. 

O Fuxico: Entre todas as produções que você e o Alexandre Machado criaram, ao longo desses 18 anos escrevendo juntos, aparentemente, Os Normais foi a que teve maior destaque, tanto que rendeu até dois longas. Como você avalia esse sucesso?

Fernanda Young: Na verdade, Os Normais foi uma primeira experiência de um formato, de um horário e de uma equipe – Fernanda, Alexandre e o diretor Alvarenga – que ficou três anos no ar. Hoje nós não temos mais o interesse de fazer uma produção tão longa assim porque esgota. E isso tudo passa a impressão de que Os Normais foi o grande sucesso da nossa equipe, que é um pouco ilusória, quase um mito. 

OF: Como assim?

FY: Os Normais foi um divisor de águas no formato de humor porque a gente trouxe um tipo de comédia que não é caricatural. O universo urbano da série também ajudou na identificação com o público, apesar dos personagens não serem estereotipados. Geralmente, todos os nossos personagens são assim, muito acessíveis a uma identificação. Então, como foi o primeiro momento em que usamos essa linguagem inovadora, parece que foi o nosso grande sucesso. 

OF: Além de escrever para tevê e cinema, você também é autora de diversos livros. Inclusive, já tem 11 títulos publicados. Quais são as principais diferenças do seu processo criativo de um roteiro para uma obra literária?

FY: Quando estou escrevendo um livro, eu não fico acessível. Tenho um estúdio para trabalhar fora de casa, onde fico solitária e esquisita. Todo o processo é muito mais dramático. Porque, para mim, a literatura é uma questão de sobrevivência interna. Já escrever para a televisão é um oficio que requer inspiração sim, mas tem técnica, demanda, pedidos. Além de eu estar escrevendo em função de um chefe muito mais técnico que eu, que é o Alexandre. 

OF: Com a contratação do humorista Marcelo Adnet para protagonizar O Dentista Mascarado, muitos questionam a liberdade que ele terá dentro da Globo. Quando você fala sobre as demandas da televisão, refere-se a essa censura?

FY: É quase um mito urbano essa coisa de "a Rede Globo domina tudo". Trabalho lá desde meus 16 anos e eu não me sinto nem um pouco constrangida pela emissora por escrever coisas que provocam o público. E essa coisa da censura que todos estão comentando tanto não existe. 

OF: Além de O Dentista Mascarado, você também está prestes a estrear um novo projeto no GNT em que vai atuar. Como é voltar para frente das câmaras em uma ficção?

FY:O nome do projeto é Surtadas na Yoga e foi criado por mim e pelo Alexandre. A história se passa em uma escola de ioga e eu vou interpretar uma daquelas pessoas que não conseguem praticar a atividade direito, então ficam lá atrás da turma falando indecências e escatologias. E está sendo muito bom para mim atuar de novo, mas isso não significa que estou me lançando no ofício de atriz. É uma experiência que me faz entender melhor o texto e o tempo dramatrgico.

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