G Magazine: Histórias de famosos, cachês e ereções

Por - 20/11/11 às 10:00

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A G Magazine foi a primeira revista a tratar a nudez masculina como um assunto sério e não como pornografia. Poucos sabem, mas por trás dos ensaios dos modelos, atores e cantores famosos existiam uma equipe compenetrada, que sempre sonhou em ver nas bancas um trabalho digno ao lado de outras publicações do gênero famosas como Playboy e Sexy. Foi então que Ana Maria Fadigas criou o projeto que mudaria o rumo da vida homossexual no País.

O plano pioneiro começou com a revista Bananaloca, mas na quinta edição já teve seu nome alterado por não condizer com os ideais da publicação. A partir daí, foi um luta dura, pois no caminho Ana foi sentindo a responsabilidade de lidar com um público tão sofrido pelo preconceito da sociedade.

“Sentimos a barra e respondemos com um jornalismo bom e sério, além dos homens nus. Por mais livre que tenha sido minha educação em casa, sofremos subliminarmente uma grande influência cultural. Medo do pênis é uma dessas coisas que marcam a mulher em geral. Esse pênis ereto é uma uma espada guerreira, linda e plena, mas culturalmente era visto como muito ‘fuerte’ para os coraçõezinhos femininos verem assim tão de perto”.

Foi neste momento que ela ganhou o reforço de seu fiel escudeiro, Klifty Pugini, que entrou no projeto para impor sua visão masculina sobre o assunto da revista. Ele conta que quando a G Magazine foi para as bancas,começaram a chegar várias cartas dizendo que os homens deveriam estar totalmente nus e com ereção, o que não se via no início.

“Isto tudo fez a gente repensar os ensaios. Foi difícil convencer a Ana, pois – como ela mesma diz – as mulheres têm um certo medo em admirar a ereção. Nessa mudança, com ereção no nu frontal, se tornou ainda mais difícil conseguir modelos para posar, mas no final conseguíamos sempre”.

O assunto ‘nudez masculina’ não poderia ser vulgarizado e ser tratado como pornográfico, então, Ana tomou todos os cuidados possíveis para que  os ensaios fossem sempre pensados como uma forma de transmitir sensualidade e/ou sexualidade sem cair para a pornografia.

“Todos estavam envolvidos nisso. De mim até a Maria do cafezinho! Leitores de bom gosto davam muito palpites. É lógico que muita gente, inclusive, anunciantes, criticavam como se fosse pornografia e outros, como os leitores [os menos hipócritas], queriam ensaios mais pornográficos. Mas a palavra final era nossa! O limite entre a pornografia e a sensualidade passava pela sexualidade, mas jamais poderia cair no mau gosto”, explica.

Ana Fadigas e Klifty Pugini: A dupla que, nos anos 90, teve a coragem de tirar a roupa dos homens pela primeira vez

Os famosos peladões

Ana revela que teve muita dificuldade nos primeiros acertos para que homens famosos mostrassem seus ‘documentos’ para uma revista gay. Segundo a fundadora, eles resistiam, pois não era nada fácil participar de mudanças significativas no comportamento hipócrita que reina.

 “O prazer é considerado ‘pecado’, mas, na minha opinião, ele só é errado quando está na cabeça de quem transforma o prazer em divertimento barato. Prazer é ser feliz e nos foi dado pela natureza. Também tinha o medo da família, do trabalho, da escola, enfim de tudo que os cercavam no dia a dia”.

Mas o céu que era todo anuviado agora começa a mostrar um sol raiando e as primeiras propostas sendo aceitas. O precursor, entre os famosos, da nudez masculina, foi o ator Mateus Carrieri que teve – inclusive – seu ensaio guardado por mais de um ano porque ele havia fechado contrato com o SBT para estrelar em Chiquititas.

“Mateus Carrieri é um mascote para nós. Foi o primeiro famoso de tevê que posou com tudo que o público queria ver. E que tudo gente! Ele peitou firme e forte e nada aconteceu de ruim a ele. Posou mais três vezes! Outro mascote é o Alexandre Frota. Gente muito querida e amiga de nossa equipe. Bom de vendas também”, relembra Ana.

Klifty, com sua equipe, era o responsável por tratar com os famosos os cachês e formatar as propostas. Ele lembra que, no início, Vampeta foi um grande sucesso de vendas, já que ele representava toda a masculinidade do futebol, principalmente por ser jogador do Corinthians na época.

Mais tarde, com a chegada dos reality shows, a safra de possíveis modelos a posarem nus começou a aumentar ainda mais. Segundo Klifty, muitos eliminados do Big Brother Brasil, da Globo, por exemplo, já eram oferecidos por suas assessoras logo no primeiro dia depois de sair do programa, mas existia um critério de comportamento dentro da casa que contava muito ponto na escolha.

“Deixamos de fazer muita gente destes programas pelo comportamento, principalmente pela homofobia que eles mostravam no programa. O engraçado é que todo mundo queria pegar uma casquinha dos participantes. Tinha ex-namorado, primo, irmão de ex-participantes, pai que se oferecia para sair na G. Da mesma maneira lutávamos muito para ter os sex symbols do BBB. O Fernando Fernandes foi um que ficamos muito tempo negociando e no dia que ele iria assinar o contrato, desistiu. Tudo pela timidez. Não é fácil vencer certos pudores”.

Mostrar o documento antes de fechar o contrato?

Como estava à frente das negociações, certo dia, Klifty se deparou com um grande impasse quando havia fechado um contrato com um vocalista de uma banda. Na hora de conferir o tamanho do pênis uma ‘pequena’ surpresa: era menor do que se pensava. O jeito foi quebrar o contrato e escolher um novo homem para estampar a capa.

Para não passar por mais uma situação, digamos que, constrangedora para ambas as partes, começou a ser obrigatório mostrar os ‘documentos’ antes de assinar o contrato.

“Foi a partir deste momento que passamos a olhar o tamanho para não correr mais riscos. Todos os selecionados tinham que ser vistos antes. Seja quem for. Quando não era pessoalmente eles mandavam fotos, mas preferíamos ver pessoalmente. A seleção de escolha sempre foi feita principalmente pela beleza masculina. Veja bem… existem varias formas do belo no homem”.  

Com requisitos aprovados pela pré-seleção, o modelo ia ser fotografado, mas acontecia o que era mais constrangedor para a virilidade masculina: alguns não conseguiam deixar o pênis ereto. O jeito era esperar um tempo para que o homem se acalmasse ou até abandonando para terminar o ensaio num outro dia. E para tentar ajudá-los, foi permitido que as esposas, amantes ou namoradas acompanhassem a sessão de fotos, mas elas começaram a atrapalhar mais do que ajudar.

“O próprio modelo pedia para mandar embora. Elas se empolgavam e começavam a dar palpite. ‘Amor, você fica melhor neste ângulo’ , ‘Amor, este cabelo não ta bom’.  Era um saco! Depois de tudo isto proibíamos namoradas, amantes, esposas. Não dava certo. A ereção, eles conseguiam vendo filmes ou revistas. Depois de alguns poucos episódios desagradáveis virou lei na editora não ter a presença delas. Na sessão de fotos, só a equipe”.

O cachê é um verdadeiro mistério. Nem Ana, nem Klifty falam sobre o assunto. A fundadora da G Magazine apenas desmitifica os famosos pagamentos milionários e afirma que são falsos. Ela ainda ressalta que eles fazem parte de uma lenda. Já seu fiel escudeiro assina embaixo das palavras da ex-chefe e agora amiga. Ele revela que tiveram atores que pediram até R$ 2 milhões.

“Era surreal! Teve um também que falou um valor na tevê surreal. O pagamento dele ficou bloqueado alguns dias por ter descumprido o contrato. No final ele recebeu e demos apenas um susto para não virar farra. Mas nem a Ana ficou sabendo disso. Nós a protegíamos. Sempre o valor negociado era bom para os dois lados”, narra.

Nova era da revista de nu masculino

A craque das revistas de nudez masculina não está mais no ramo. Ana Fadigas, em 2008, estava em busca de um parceiro, um investidor e também de parceiros para ajudá-la na gestão da própria editora, mas não encontrou. Foi aí que ela decidiu vender a revista para uma outra empresa. Ela confessa que talvez não tomasse a mesma atitude hoje, mas o receio de não ‘dar conta’ falou mais alto.

Atualmente Ana não pensa mais em criar uma nova publicação como a G Magazine, que ainda hoje pode ser encontrada nas bancas, mas se fosse embarcar numa nova aventura continuaria apostando em uma revista cada vez mais militante e guerreira.

“Também teria um subproduto com o foco no comportamento, algo de mais vanguarda. Já assistimos à tendência mais plurissexual naturalmente. Essa é a vanguarda! A capa de uma das últimas edições da Trip foi um arraso. A capa e o conteúdo todo. Muito moderna… Um título como este não tem ainda no mercado. Tanto poderia ser bem popular como bem sofisticada. Temos um mercado que demonstra isso. A G Magazine seria a militância e a outra seria a construção da identidade. Uma revista afirmativa. Tá aí uma dica”, finaliza.

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