Globo é multada por racismo, após piada no Multishow

Por - 16/02/22

Elenco do jornal "Sensacionalista", na bancadaFoto: Divulgação/ Multishow

Por decisão da Justiça de São Paulo, o Grupo Globo foi multado em R$ 88 mil por racismo, após a denúncia motivada por uma piada do programa humorístico “Jornal Sensacionalista”, exibido no Multishow. Na atração, exibida em outubro de 2013, um cachorro foi relacionado ao candomblé, religião de matriz africana candomblé.

A denúncia de discriminação racial foi feita pela Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena (CPPNI) à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. A multa foi estabelecida ainda em 2013, mas o Grupo Globo recorreu.

Em outubro do ano passado, a emissora conseguiu decisão favorável na primeira instância. O Estado de São Paulo recorreu e o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) autorizou a cobrança da multa.

Na decisão do TJ-SP, a desembargadora Maria Fernanda De Toledo Rodovalho ponderou: “Conclui-se que discriminação, no caso em tela, é deliberada e dirigida especificamente à identidade de um grupo étnico minoritário (candomblecistas), o que configura ato ilícito de prática discriminatória e preconceituosa de raça e de cor, com as consequências administrativas que o acompanham”.

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CÃO DE VESTIMENTAS BRANCAS

Na piada, o animal denominado “cãodomblé” aparecia com vestimentas brancas e era tratado por sua tutora e pela comunidade local como um animal especial, já que ele “recebe entidades”, “prevê o futuro” e “joga búzios”.

Candomblé é uma religião afro-brasileira em que se pratica o culto de divindades de origem africana chamadas orixás. Assim, apesar de ter nascido na Bahia, no século XIX, o candomblé foi formado a partir de tradições religiosas africanas de povos iorubás. Essas tradições foram trazidas ao Brasil por populações negras escravizadas vindas de países da África Ocidental, como Nigéria, Benin e Togo.

Os rituais do candomblé são realizados em locais de culto denominados terreiros, liderados por um pai ou mãe de santo. Durante as cerimônias, chamadas de toques, os participantes cantam e dançam, e os filhos-de-santo incorporam os orixás. Boa parte dessas cerimônias seguem um calendário fixo e são feitas em homenagem às divindades.

Os candomblecistas (nome que se dá aos adeptos do candomblé) dividem-se em nações, entre as quais a congo, nagô, angola, ijexá, jeje e ketu. As nações são segmentos da religião e se diferenciam entre si por seus rituais, canções e vestimentas. A cantora Anitta é candomblecista e volta e meia é alvo de intolerância religiosa.

A crença do Candomblé é baseada no monoteísmo, embora alguns defendam a ideia de culto a vários deuses, cada nação do Candomblé cultua apena um deus. No Brasil, devido ao sincretismo, alguns participantes consideram o mesmo deus da Igreja Católica. Os candomblecistas acreditam na vida após a morte e na predestinação.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino