Jornalista que divide comando do Encontro relembra passado difícil

Por - 16/06/17 às 11:50

Reprodução/Facebook/Manoel Soares

A caminhada de Manoel Soares não foi nada fácil. É ele mesmo quem se apresenta.

"Sou nascido na Bahia e criado no Rio Grande do Sul, sempre na favela. Era gago na infância. Adulto, fui pedreiro, vendedor ambulante, tentei trabalhar como segurança… Cheguei a ser morador de rua. Não dei certo como bandido porque tinha muito medo. Esse crachá aqui é da minha mãe, dona Ivonete. A ela eu devo tudo o que sou".

Repórter recém-contratado do Encontro com Fátima Bernardes, na Globo, o jornalista, que completa 37 anos de uma rica existência no próximo domingo (18), assumiu na  quinta-feira (15), a apresentação do programa ao lado de Ana Furtado e Lair Renó na folga da chefe. 

"Quando fui chamado para o programa, fiquei três dias com dor de barriga. Imagine agora o nervosismo! A naturalidade dela, o jeito com que faz o jornalismo dialogar com o entretenimento, me encantam. Eu dizia: um dia ainda vou trabalhar com essa mulher. Agora, olho para Fátima e não consigo registrar. Ela ainda é um pouco virtual para mim", disse ele ao jornal Extra.

Manoel sabe da responsabilidade pelo que conquistou.

"O mérito de eu estar aqui não é meu. É de Milton Gonçalves, Zezé Motta, Lázaro Ramos. Vem de pensadores acadêmicos, militantes sociais negros e periféricos que lutaram para isso. Ter a amizade de MV Bill, de Mano Brown, de gente que construiu minha formação como indivíduo, causou isso. Estou num programa de muita visibilidade, isso é muito forte para mim. Meu nervosismo, meu medo de viver esse momento não é pela fama. É que eu tenho noção do que está acontecendo, do que isso representa".

Inicialmente repórter da RBS, afiliada gaúcha da Rede Globo, por 15 anos, Manoel começou a fazer links para vários programas da emissora. E chegou ao Profissão Repórter, com Caco Barcelos, em 2011. Em abril, ele assumiu a reportagem do Encontro em São Paulo, onde atuava Felipe Andreoli (que migrou para o Esporte Espetacular, ao lado de Fernanda Gentil).

"Profissionalmente, sempre tive a obsessão por diminuir a distância entre o morro e o asfalto, levar a televisão para a periferia. Vivia entre o lixo e o luxo. Pessoalmente, minha meta era tirar minha família da miséria absoluta, em que a gente chegava a disputar comida com os ratos".

O jornalista promete seguir os conselhos da mãe. 

"Quando soube da novidade, minha mãe me disse: 'Vá lá e se comporte'. Sei bem do que ela está falando. Não tem a ver com a bronca maternal, mas com fazer o que precisa ser feito. Vou fazer, e com leveza. Nunca abrirei mão dos valores que trouxe de casa. Ela batalhou muito, abandonou meu pai para afastar meus irmãos e eu da violência doméstica. Ele terminou assassinado. O que eu faço hoje é pelos meus quatro filhos. Este é um momento novo para a minha família, mas não quero o peso de ser 'o messias', 'o enviado'. Até porque eu preciso ser feliz".

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