Letícia Spiller: “Recomeçar é uma arte”

Por - 05/04/13 às 07:55

Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias

Letícia Spiller sempre tentou fugir do óbvio. Aos 39 anos, a Antonia de Salve Jorge lembra com orgulho sua trajetória na tevê, iniciada ainda nos anos 1990, onde teve de provar que era muito mais que uma ex-paquita. No final da década, já consagrada como atriz de tevê e cansada de ser chamada apenas para ser a mocinha ou para o papel de arquivilã, enveredou por peças experimentais e tentou outras possibilidades no cinema.

"Me desapeguei de tudo. Me livrei de alguns vícios de atuação, viajei, estudei filosofia, produzi minhas peças, me descobri como produtora de cinema. Enfim, amadureci", valoriza. 

No ar como uma dondoca que decide retomar as rédeas da própria vida, a atriz carioca reconhece que, ao mesmo tempo em que tem autonomia para recusar trabalhos, corre atrás das personagens que julga instigantes. No caso da atual novela da nove, a mistura de ingenuidade e drama familiar conquistou Letícia.

"Existem muitas mulheres como a Antonia, recomeçar é uma arte. E essa vontade de ter novas experiências me comove", analisa.

O Fuxico: Durante o lançamento de Salve Jorge, você assumiu que pediu a personagem para Gloria Perez. Ficou satisfeita com o desenvolvimento da história de Antonia na trama?

Letícia Spiller: "Recomeçar é uma arte"Letícia Spiller: Minha personagem cresce em duas frentes. A primeira, de forma ingênua. A Antonia é a "laranja" da organização de tráfico de pessoas da Lívia (Claudia Raia). Algo que ainda vai dar muita dor de cabeça para ela até o final da trama. Em outro lado, ela tem um drama familiar muito forte. Para se firmar como mulher, teve de enfrentar uma grave crise no casamento e agora luta pela guarda da filha. É um tipo cheio de nuances, com fraquezas que me instigaram.

OF: Você se inspirou em alguém para construir as complexidades da Antonia?

LS: Me inspirei em algumas pessoas que conheço para fazer a Antonia. A partir de histórias semelhantes, a minha visão de atriz, a minha observação crítica vai criando um mosaico de referências. Eu me interesso por tudo que é humano. No caso da Antonia e de algumas conhecidas minhas, é possível até deixar de lado alguns objetivos de vida, mas depois as pessoas querem promover uma espécie de resgate dessas vontades.

OF: No início dos anos 2000, muito influenciada pelo crescimento de sua carreira no cinema e no teatro, você recusou o convite para viver a Jade, protagonista de "O Clone". Você se arrepende dos convites que deixou passar?

LS: Qualquer atriz se arrependeria de ter recusado o convite para interpretar a Jade (risos). Mas era o momento da Giovanna (Antonelli) e minha recusa foi motivada por uma comunhão de fatores. Eu estava rodando o filme Paixão de Jacobina, imersa na preparação para atuar na peça O Falcão e O Imperador, e realmente achava que, depois de tantas novelas, eu precisava me reciclar como atriz. Foi um processo de autoconhecimento depois de fazer uma vilã como a Maria Regina (de Suave Veneno). Era tempo de crescer e eu aproveitei a autonomia que tinha conquistado na emissora. Mas existe um outro papel que eu me arrependo ainda mais (risos).

OF: Qual?

LS: Por causa de uma peça, tive de dizer não para Os Maias. Isso eu me arrependo amargamente. Ficava triste ao ver a minissérie no ar, com aquelas cenas lindas, aquela elegância. E fora que seria uma forma de voltar a trabalhar com o Luiz Fernando Carvalho, com quem fiz O Rei do Gado. Ao longo dos ltimos anos, eu meio que quis me redimir (risos), trabalhei com o Luiz Fernando em Afinal, O que Querem as Mulheres?. Fiz Amazônia, de Galvez a Chico Mendes e estou em Salve Jorge, da Gloria. Entre escolhas e renuncias, hoje me sinto uma atriz melhor.

OF: Por quê?

LS: Pude experimentar e me livrar de alguns vícios de interpretação. Acho que, se eu tivesse aceitado tudo o que me ofereciam, iria apenas me repetir de personagem em personagem. Hoje me interesso por muito mais coisas que envolvem o trabalho artístico e aceito o "novo" de braços abertos.

OF: Inclusive, você agora investe na carreira de produtora. Sua curiosidade pela produção de filmes pode a levar ao cargo de diretora de Cinema?

LS: Quem sabe? No momento, ser produtora me basta. Fundamos a Paisagens Filmes e tivemos uma resposta positiva com Joãozinho de Carne e Osso, curta que rodou alguns festivais. Agora estou produzindo o longa O Casamento de Gorete, que está em fase final de captação de recursos, e um outro curta baseado em um conto do Rubem Fonseca. Fazer cinema no Brasil é uma burocracia só. Mas, em nome da arte, a gente vai se firmando e colocando as ideias em prática.

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