“Não importa dinheiro, status, carreira. A Covid está aí pra provar isso”, reflete Flávia Monteiro sobre depressão
Por Redação - 03/08/21 às 07:00 - Última Atualização: 2 agosto 2021
Flávia Monteiro é uma das artistas mais queridas pelo público. Sua carreira é marcada por papéis fortes no cinema, no teatro e principalmente na TV. Desde 2018, a atriz vem lutando com a depressão, mal do século XXI, que com a pandemia ganhou ainda mais destaque e que merece atenção. Num primeiro momento a veterana se isolou, buscou entender todo o processo e foi se abrindo aos poucos.
Ao OFuxico, ela revelou que entrou e saiu do fundo do poço com a ajuda dos familiares e de amigos insistentes que lhe deram a mão num dos momentos mais tensos de sua vida.
Sumi, desapareci, deixei de atender telefone. Fiquei no meu casulo para entender o que estava acontecendo
Sobre a coragem de se abrir para o público ela disse: “A gente vende a família margarina, glamour, casal perfeito… mas dentro de cada pessoa tem um indivíduo que sofre, somos seres inconstantes, com altos e baixos Não importa o dinheiro, status, a carreira. A Covid-19 está aí pra provar isso. Somos iguais”. Flávia é casada com Avner Saragossy e juntos têm uma filha, Sophia.
Na entrevista, relembrou o sucesso de Chiquititas e afirmou que posar nua para a Playboy em 2005 foi um divisor de águas. A partir dali assinou com a Record TV, canal em que teve a chance de interpretar papéis de destaque. Por conta da pandemia e a crise econômica, Flavia deixou o canal: “A Record e os autores me deram personagens maravilhosos. fui mandada embora como milhões de atores. É um renascimento pra todo mundo. E na nossa carreira também”.
CONFIRA A ENTREVISTA:
OFuxico: Quando você resolveu se abrir sobre a depressão, acabou recebendo mensagens de apoio? Amigos, colegas de trabalho, fãs…Flávia Monteiro: “Tive um retorno grande, muitas pessoas não sabiam que eu não estava muito bem. Estava sem paciência, raivosa, sem tolerância. Sumi, desapareci, deixei de atender telefone. Fiquei no meu casulo para entender o que estava acontecendo. Tive muito apoio dos amigos e familiares. Sabe aqueles amigos insistentes? Graças a Deus que existem essas pessoas que te tiram do fundo do poço.”
OFuxico: O público se identificou com as suas declarações?
Flávia Monteiro: “Eles são demais. Eles são pílulas diárias de amor, que torcem por você de verdade. Eles nos ajudam a sair de momentos difíceis. Muitas vezes pensei em desistir da carreira, já fiz tudo. Cheguei a pensar em desistir e eles me deram força pra seguir em frente. As redes sociais me ajudam nesse contato com o público. Muito amor!”
OFuxico: Segue com terapia, exercícios físicos, yoga…?
Flávia Monteiro: “Sigo, agora mais do que nunca. Os exercícios físicos fazem você se movimentar, a sair do pântano de nós mesmos. Amigos especialistas trouxeram a yoga, aulas online.”
OFuxico: Tem arrependimentos?
Flávia Monteiro: “Não, porque tudo o que a gente faz tem um porquê, mesmo que eu tenha feito algo errado serviu de aprendizado. Eu poderia ter feito algo diferente”
OFuxico: Como entende a fé nesse processo? Tem alguma religião?
Flávia Monteiro: “Sempre fui católica, me formei num colégio católico. Toda quarta eu ia à missa. Mas conforme a vida vai andando, você vai abrindo um pouco a mente. Sou católica, mas acredito em todas as religiões, todas com propósitos lindos. Se bobear, acredito até em duendes. Já frequentei todas as religiões. Tudo que é pro bem, que possa nos dar paz, tranquilidade… é o que tá valendo. Fé é a última que morre. Religião é uma grande ajuda.”
OFuxico: E a medicina, o quanto ela te ajuda?
Flávia Monteiro: “Sou completamente natureba. Não tomo tarja preta, remédio de farmácia, nada disso. Conto com um nutrólogo, ele elaborou uma dieta que me ajuda a suprir o que falta no meu corpo. A alimentação é fundamental.”
OFuxico: Ao falar sobre altos e baixos, você humaniza o artista, porque muito se fala no glamour, e aí você fala sobre as instabilidades, presente na vida de milhões de brasileiros… Comente, por favor.
Flávia Monteiro: “A gente vende a família margarina, glamour, casal perfeito…mas dentro de cada pessoa tem um indivíduo que sofre, somos seres inconstantes, com altos e baixos, ama…Somos seres humanos como qualquer um. Agora, cabe a você [artista], tirar sua vaidade e dividir isso. Tem gente que não gosta de se expor. Temos que respeitar. Não importa o dinheiro, status, a carreira. A Covid-19 está aí pra provar isso. Somos iguais.”
OFuxico: E hoje você tem um plano B?
Flávia Monteiro: “Com a pandemia, as redes sociais, a dificuldade do mundo e do Brasil…muita gente sendo demitida, fiquei 12 anos contratada da Record TV, fui mandada embora como milhões de atores. É um renascimento para todo mundo. E na nossa carreira também… Nunca parei pra pensar nisso, e a crise de ansiedade me trouxe isso. O que eu vou fazer? Tenho que me movimentar. Não consigo parar pra pensar num plano B, é aí que está o problema. Tenho um restaurante, Raiz, é como um filho, ele não nos dá lucro, mas se paga. Ganhou o segundo lugar do melhor árabe do Rio de Janeiro.”
OFuxico: Carol, de ‘Chiquititas’ é um personagem inesquecível. A trama completa 25 anos. Gostaria que a trama fosse homenageada de que maneira?
Flávia Monteiro: “Meu Deus! Como o tempo passa! Fecho os olhos e me lembro como se fosse hoje. Uma novela tão importante em que a gente resgatou a luta contra o bem e o mal, os sonhos, a esperança, a família, os sonhos, o amor. Tá vindo um documentário, um livro do Roberto Monteiro, produtor. Muita gente vai homenagear de um jeito. Quem sabe a gente pode comemorar com um brinde juntos! Mas bem que podia ter uma peça, um show… (risos)”
OFuxico: A história retratada à época tinha ares tristes, mas também alegres, puros, de união, sem redes sociais… Faz falta um produto como este na TV?
Flávia Monteiro: “A novela trouxe sentimentos nobres para as crianças numa época em que não havia uma novela em que elas se identificassem, tinha programas de auditório com Xuxa e Eliana. Hoje, Detetives do Prédio Azul é muito legal, que fala a língua deles [crianças]. Sinto falta de programas que trazem esse sentimento de infância feliz como foi Chiquititas.”
OFuxico: Qual foi sua maior conquista ao posar nua para a Playboy?
Flávia Monteiro: “A revista vinha me convidado desde o filme A Menina do Lado, era menor de idade e não tinha condição. Em Chiquititas também não tinha a menor condição. Fui fazer cinco anos depois porque eu tinha dificuldade de tirar o rótulo da Carol [ar infantil]. Foi um convite em que eu tinha o domínio de tudo. Por que não fazer uma coisa de atriz? Não consigo fazer poses e caras com a bunda arrebitada. Essa não sou eu. Escolhi como cenário o Teatro Paulo Autran, SP. Sonhava em trabalhar com ele, mas, infelizmente, não tive essa honra. Minha homenagem a ele foi fazer essa Playboy. Ali eu interpretei uma Flavia com uma equipe incrível inspirada em Dogville, filme. Tenho muito orgulho. Foi meu passaporte para novos voos, rumo à liberdade. Foi a partir daquele trabalho que eu assinei com a RecordTV, olha só, e fiquei doze anos.”
OFuxico: Como tem sido o isolamento? Como tem driblado as angústias, os medos? E há alegrias nesse meio tempo? Descobertas? Coisas que estão dentro de você e você nem sabia?
Flávia Monteiro: “A pandemia me fez entrar muito profundo dentro de mim. Se você consegue transformar isso é maravilhoso. A pandemia me deu um contato muito maior. Sempre trabalhei muito com gravações, viajando com peças… Com a pandemia passei a conviver mais comigo mesmo e com minha família. Foi maravilhoso. Foi um momento de muita dor e sofrimento, estourou um pouco antes da pandemia, 2018 para 2019. Mas aprendi a cuidar da minha saúde mental. Me fez entrar e sair do fundo do poço. Totalmente.”
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